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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 15 de julho de 2010

LÍNGUA DE POETA - Por Mundim do Vale

Eu nunca fui pistoleiro
Porque não sei atirar,
Se eu for atirar pra cima
Precisa dois me ajudar,
Um pra tapar meu ouvido
Outro pra me segurar.

A minha pequena mão
Nunca puxou um gatilho,
Ela muito me ajuda
Quando vou debulhar milho,
E me serve mais ainda
Pra abençoar meu filho.

Eu estou pagando um mico
Por causa de um companheiro,
Parece que é do chico
Esse poeta grosseiro,
Anda inventando um fuxico
Que eu pareço um pistoleiro.

Poeta o seu comentário
Foi muito pejorativo,
Se eu fosse um pistoleiro
Você não tava mais vivo,
Tinha sido eliminado
Numa queima de arquivo.

Não tenho medo de quedas
De animal, nem bicicleta,
Visagem e alma penada
Nem um pouco me afeta,
A coisa que tenho medo
É de lígua de poeta.

Não atiro nem no Judas
Que é coisa de brincadeira,
Eu não sei manusear,
Nem mesmo uma socadeira.
Não sou igual a Giovâni
Que atira em cuscuzeira.

Briga de dois pistoleiros
Nenhum dos dois abre mão,
Um corre dando pinote
Outro rola pelo chão,
Um vai ficar foragido
E outro vai pro caixão.

O poeta Cláudio Sousa
Achou que eu parecia,
Mas ele tá enganado
Com aquela profecia,
Eu prefiro parecer
Com quem transporta alegria.

Não vejo filme de guerra
Porque tem artilharia,
Prefiro dois violeiros
Numa boa cantoria,
Onde o ataque e a defesa
É somente a cantoria.

Para o cruel pistoleiro
A vida não vale nada,
Mas não é qualquer doidim
Que enfrenta uma parada,
Tem gente que faz mais medo
Se tiver com a mão cagada.

O pistoleiro tá pronto
Para o que der e vier,
Quando pega um cabra frouxo
Faz com ele o que quiser,
Mas chegando tarde em casa
Ele apanha da mulher.

Se eu fosse autoridade
Não tolerava lorota,
Mandava para cadeia
Qualquer poeta fiota,
Depois mandava enforcar
Pistoleiro e agiota.

Valei-me meu São Raimundo
Me tire dessa lambança,
Cláudio Sousa agora tá
Agindo feito criança,
Não sei onde ele arranjou
Essa minha semelhança.

O poeta Cláudio Sousa
Anda fraco da cachola,
Garanto que não me viu
Empunhando uma pistola.
Ou tá procurando briga
Ou tá doente da bola.

Esse camarada tem
Mania de provocar,
Não sei se ele tem coragem
No momento de brigar,
Mas deve ter coro grosso
Na hora de apanhar.

Me chamou de pistoleiro
Só faltou mudar meu nome,
Se eu correr o bicho pega
Se eu ficar o bicho come,
Mas se um dia eu matar um
Ou é de raiva, ou de fome.

Cláudio tá equivocado
Perdido no seu roteiro,
Bandido não tira foto
Com Dr. Sávio Pinheiro,
E aquela boa família
Não recebe pistoleiro.

Cláudio Sousa eu aconselho
Você mudar sua meta,
Lá eu fui bem recebido
Por Renato e sua neta,
E você foi confundir
Pistoleiro com poeta.

Se foi aquele chapéu
Que confundiu o amigo,
Eu peço ao nobre poeta
Para conversar comigo,
Pois eu estava com ele
Só para aparar castigo.

Cláudio Sousa eu lhe asseguro
Que nunca matei alguém,
Eu não tenho inimigo
Porque sou gente de bem.
Se ninguém mexer comigo
Eu não mexo com ninguém.

O engano do poeta
Foi pior do que a bala,
A bala não tem juízo
E tem juízo quem fala,
Quem fala muito é quem erra
E nunca erra, quem cala.

Termino aqui o cordel
Sem vontade de brigar,
Pistoleiro não perdoa
Quando vai, é pra matar,
Mas como foi Cláudio Sousa
O Mundim vai perdoar.

Mundim do vale
Várzea Alegre Ce

Um comentário:

  1. Mundim.

    Muito bom, alegre e bem humorado o seu desafio. O Claudio vai entender esse seu desconforto. E, de poeta para poeta, enviará em versos a sua versão para o bom entendimento. Esses poetas estão deixaqndo o Sanharol muito bom.

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