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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 30 de julho de 2010

SOU O VALE DO MACHADO - Por Mundim do Vale

Eu sou desse vale amado
Que São Raimundo adotou,
Um lugar abençoado
Onde Deus mais caprichou.
Sou papa de carimã,
Ova de curimatã
E ponche de araticum.
Sou recado de patrão,
Boneco de Damião
Sou criança no tutum.

Sou a pedra que rolou
Da serra até o riacho,
Bananeira que vingou
Mil bananas só num cacho.
Sou Luizão da cachaça,
Sou um comício na praça
Lotado de imbecil.
Sou um voto encabrestado,
Sou eleitor enganado
Nesse canto do Brasil.

Eu sou bacabal jogando
Na posição de zagueiro,
Sou Perna Santa pegando
Numa trave de goleiro.
Eu sou a mão de pilão,
A boca do cacimbão
E o pé de bode afinado.
Sou um canto de bendito,
Sou o careta Antonito
Numa festa de reisado.

Eu sou Zé Júlio fazendo
Pão nosso de cada dia,
Sou João Moreira batendo
Tijolos na olaria.
Eu sou o pistom de Prejo,
Sou rapadura do Brejo,
Sou parelha de verdura.
Sou a rua Antão Bitu,
Beco de Zé de Ginu,
E Alto da Prefeitura.

Eu sou Antônio Firmino
Vendendo fumo na feira,
Sou uma récoa de menino
Pinando na bananeira.
Eu sou o cine Odeon,
Sou tamanco de Abidom
E Harmônica de Bié.
Eu sou a velha avenida,
A lagoa poluída
E a praça de Cuné.

Eu sou Inacim falando:
- Esse ano vai chover.
Sou André do bar botando
Chico Danga pra correr.
Eu sou o motor da luz,
Sou retrato de Jesus
E marreca de represa.
Sou carrapicho em carneiro,
Sou chuva de fevereiro
Sou piau na correnteza.

Sou Manoel de Pedim,
Sou Chico Segunda Feira,
Sou os versos de Bidim
Sou Banca de Bolandeira.
Sou o Arroz embuchando,
Sou o milho pendoando
E sou cabaça de mel.
Sou Recreio Social,
Sou ponte de Zé piau
Sou poço de Seu Abel.

Eu sou o bolo ligado
Que João de Adélia fazia,
Sou o primeiro dobrado
Da salva do meio dia.
Sou lagoa do arroz,
Sou queijo e baião de dois
Sou um homem do roçado.
Sou gente que resistiu,
Sou um pedaço do Brasil
SOU DO VALE DO MACHADO.

Acróstico da minha terra.

Verde como uma vazante
Alegre por natureza
Rimada como amante
Zelada como princesa,
Esculpida é diamante
Agredida é indefesa.

Amada por sua gente
Local de paz e alegria
Espaço para a semente
Germinar a poesia.
Recanto sempre atraente
Estrada da harmonia.

Mundim do Vale

Dedicado aos participantes do blog do Sanharol.

2 comentários:

  1. MAIS UMA JÓIA DO VASTO TESOURO QUE TEM O NOSSO POETA MUNDIM.

    O Poeta Mundim do Vale
    É tudo isso e muito mais
    Bolacha com gosto de gás
    Caderneta de fazer vale
    É Pai dizendo se cale
    Ao menino maluvido
    Comer merenda escondido
    Da mãe por detrás do muro
    Brincadeira num munturu
    E o vizinho ofendido

    Lata furada pra ir
    Buscar água na cacimba
    Naquela outra de cima
    Quase que sem conseguir
    É Fundo de rede a ruir
    Sem se poder fazer nada
    E Ainda toda mijada
    É o poeta Mundim
    É a imagem que pra mim
    Parece conceituada

    Ponta de lápis quebrada
    E uma gillete cega
    Conta grande na bodega
    E a mulher enfezada
    Da feira sem ter mais nada
    Nem o leite do menino
    Desses feioso e mufino
    É também você do vale
    O juiz dizendo fale
    Seu imbecil e cretino

    O almoço d’água sendo
    E a janta do mesmo jeito
    E o patrão mostrando o eito
    Lágrimas dos olhos descendo
    E a voz emudecendo
    Quando queria gritar
    Mundinho vá se lascar
    Tu é isso e mais de légua
    Vai-te a baixa da égua
    Para o sertão melhorar

    Caixa de fósforo molhada
    Vela que nao tem pavio
    Vela sem ter mais navio
    Dentro da água jogada
    Terreiro sem meninada
    Menino sem chutar bola
    Professor sem ter escola
    É também nosso poeta
    Cabeça de lêndea repleta
    Esmoler sem ter sacola

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  2. Mundim do Vale.

    Quem conheceu e conhece Varzea-Alegre, viu passar um filme de sua historia. Voce resgatou neste seu poema a memoria de nossa gente, de nossos costumes e de nossa cultura. Não tenho palavras para qualificar esse seu poema, não sei se cabe bem o termo: perfeito, puro, real ou divino. Parabens.

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