O cego se fazia acompanhar de seu guia que tudo podia enxergar. Aquele, de nascença sem ver, tinha apurado os demais sentidos e podia pressentir uma calçada mais alta ou a beira de um abismo. O outro, vista melhor que boa, tudo enxergava, bastava que lhe aparecesse à frente. E assim andavam os dois pelas ruas, acima e abaixo, andando e parando calçadas, subindo e descendo ladeiras, sempre longe dos abismos.
Certo dia o Guia se foi e não mais voltou. O cego lamentou a ausência e a falta que lhe faria o companheiro de tanto tempo. Procurou pela cidade outros guias mas nenhum era igual àquele. Não mais viu um guia tão bom, amigo tão fiel. Apenas sentia seu cheiro no ar como que a indicar-lhe calçadas, ladeiras e abismos. Vez por outra escutava o seu latir, como se estivesse ele ao seu lado. Apenas ouvia o lamento da saudade que o outro também devia sentir, do outro lado do mundo.
Parabens Xico. Uma cronica boa de ler e com uma grande lição de futuro para aqueles que precisam de um guia mais inteligente, simples, humilde e que não se compare a Deus, por que igual a Deus não existe, embora exista guias de cegos que se imagine um deus.
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