Páginas


"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 31 de março de 2017

Inverno e primavera - Por Xico Bizerra

Me disseram e estamparam nos jornais que era primavera. Folheei a agenda e confirmei: 22 de setembro, início da primavera. Abri a janela, olhei em volta e não vi flores. Onde estão as flores da primavera?

Ontem, também não choveu embora inverno ainda fosse, estação que teve seu fim decretado com a chegada da primavera. Onde estão as chuvas do inverno? Tudo enxuto, nenhuma neblina, tudo mentira.

Mas está escrito, embora tudo aconteça em sentido contrário ao que o jornal me disse e ao que minha agenda confirmou. São os tempos. Será que daqui a alguns dias vão tratar de desinventar também o amor, a meiguice, a ternura e essas coisas serão apenas palavras perdidas dentro dos Houaiss, dos Aurélios? Por que não desinventam a dor, a guerra? Por que deixam que existam os cruéis, os maus, os tiranos?

Poderia também ser somente ficção como ficção é a primavera e o inverno, vocábulos de um dicionário empoeirado e mentiroso.

7 comentários:

  1. “O tempo é muito lento para os que esperam, muito rápido para os que têm medo, muito longo para os que lamentam, muito curto para os que festejam.
    Mas, para os que amam, o tempo é eternidade”.

    (Shakespeare )

    ResponderExcluir
  2. Aqui no Nordeste chama-se equivocadamente, inverno o período de chuvas. Inverno é uma estação que se caracteriza pelas baixas temperaturas e não pelas chuvas. Aqui chove no verão e no outono.
    Porém, concordo com você, é difícil vislumbrar uma estação numa terra desmatada e seca. Aqui na Serra dá pra ver as estações porque a mata atlântica é bem preservada.
    Abraços.

    ResponderExcluir
  3. Xico,
    se tá difícil constatar as estações lá fora, é melhor procurá-las dentro de nós, dentro da nossa alma de artistas, de amantes da poesia, do belo. A arte é quem nos salva das feiuras e crueldades do mundo.
    Existe muita primavera nas tuas canções.
    abraços poéticos de
    stela

    ResponderExcluir
  4. Morais, Xico, Paulo,

    Viajei, essa semana, pelo sertão dos Inhamuns e não vislumbrei uma única flor. Só árvores desnudas parecendo uma árvore brônquica. Os meus olhos queriam ver algo que alegrasse o coração. No entanto, avistava apenas pulmões desnudos.

    ResponderExcluir
  5. É...

    Xico:

    O amor com aquele romatismo que conhecemos em nosso tempo de juventude, já foi desinventado há muito tempo. Agora eles só ficam, nem falam mais em amor!

    Que pena!

    Vicente Almeida

    ResponderExcluir
  6. seguirei o conselho de stela e procurarei invernos e verões na minh'alma. certo que também lá estarão alguns outonos, mas nada que as primaveras não consigam neutralizar. sem feiuras e crueldades, o mundo viverá estações de paz. assim seja!
    XICO BIZERRA

    ResponderExcluir
  7. Xico, parabéns pelas belas observações. Senti-as com uma brisa refrescante da verdadeira primavera, aquela que reside dentro de nós, como ressaltou Stela. Adorei tua sensibilidade poética. Gostei de todos os comentários. O clima de Várzea Alegre não muda, é como a alegria que deve existir dentro de nós, duradoura e permanente. Esse é um direito adquirido pelas tradições e respeito a vida e até aos fio-de-uma-egua que não gosta de nós. Abraço a todos. Antonio Dantas

    ResponderExcluir