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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Segredos e Revelações da História do Cariri



Pinto Madeira, nem herói nem vilão –por Napoleão Tavares Neves (*)


Certa vez, em conversa com o Padre Antônio Gomes de Araújo, ícone da historiografia regional e meu velho mestre do saudoso “Ginásio do Crato”, a ele perguntei: “Afinal, Pinto Madeira era de Jardim ou de Barbalha?”
A resposta veio taxativa: “Era de Barbalha, do sítio Coité, entre o Silvério e o Mondés, mas com atuação política, sobretudo a partir de Jardim, porque ali tinha ele uma alma irmã: o Padre Antônio Manoel de Sousa, ambos monarquistas ferrenhos.” ( acima, o Brasão do Brasil Império, este defendido por Pinto Madeira)

Esta digressão introdutória vem muito a propósito, sobretudo para provar que Pinto Madeira era polêmico até na sua naturalidade, sempre envolto em um halo de dubiedade até pelas elites intelectualizada do Cariri.

Sim, porque a História de Barbalha prova que ele nascera no sítio Coité, nas vizinhanças do Distrito-Vila de Arajara cujo nome, em Tupi, significa “Terra onde nasceu o homem” e este homem é Pinto Madeira! (ao lado, paisagem do sopé da Chapada do Araripe próximo ao Sítio Coité, onde nasceu Pinto Madeira). Por outro lado, a rodovia asfáltica que liga Barbalha a Crato via Arajara, cortando ao meio o sítio Coité, é Rodovia Pinto Madeira.

Assim sendo, sou a favor da veracidade histórica desta segunda hipótese quanto ao seu nascimento, já que segundo o historiador Dr. Odálio Cardoso de Alencar, “História se faz com fatos e datas”. Ademais, a redoma geográfica formada pela Chapada do Araripe, fazia de Jardim o lugar estratégico para preparação das tropas pintistas que, em avantajado número de cerda de aproximadamente 2 mil homens armados de cacetes, recebiam na história Matriz de Santo Antônio de Jardim, as bênçãos da Igreja em uma Santa Missa celebrada pelo primeiro pároco, Padre Antônio Manoel de Sousa, por isto imortalizado como “O benze-cacetes”, recebendo publicamente o ânimo inicial de “guerra sagrada” de restauração do Trono do Brasil, pondo Jardim em destaque nacional na luta pela Monarquia do Brasil.

Pela falta de armas de fogo, os revoltosos de Pinto Madeira eram armados de cacetes de madeira jucá ali encontrada, fazendo com que no Cariri em geral, cacete e jucá fossem sinônimos.
Por outro lado, apesar de sua importância no Cariri, Pinto Madeira nunca foi devidamente estudado nem pela elite intelectualizada, permanecendo quase desconhecido da grande maioria, apesar de ser nome de rua em quase todas as cidades caririenses.

Pois bem, agora, em muito boa hora, vai sair de Jardim uma obra de fôlego que disseca a saciedade a vida atribulada de Pinto Madeira, pondo-a no seu devido lugar na historiografia regional: “Pinto Madeira, nem herói nem vilão”, da jovem e arguta historiadora jardinense, Nélcia Turbano de Santana.
É um estudo sério, objetivo, judicioso e fundamentado, além de escrito em castiça linguagem, trazendo a lume toda a trajetória do irrequieto revolucionário que terminou por protagonizar o mais esdrúxulo julgamento da História do Brasil, no qual, quase no alvorecer da República, o condenado não teve sequer o primordial direito de defesa! Suas testemunhas sequer foram ouvidas!Pasmem! E qual seu horrendo crime? Crime de lesa Pátria? Não e Não! Crime de participação ativa, na linha de frente de tantos movimentos revolucionários, tendo Jardim como palco? Revoluções de 1817, 1824 e 1832?

Não! O homem foi sumariamente fuzilado nos arredores da Vila Real do Crato, no lugar Barro Vermelho, pela morte do português, Joaquim Pinto Cidade, na batalha pintista do sítio Buriti, arredores de Barbalha, quando tantos atiraram, mas só a bala de Pinto Madeira foi considerada mortífera, em uma recuada época, quando não havia laudo cadavérico por aqui” Mais uma vez, Pasmem!

Foi, não há como negar, uma sumária execução direcionada, encomendada, quando o Senador José Martiniano de Alencar, já ascendera ao elevado posto de Presidente do Ceará. E eles eram figadais adversários!
Pois bem, o máximo que Pinto Madeira conseguiu foi que comutassem a sua sumária pena de morte para fuzilamento, em vez de enforcamento! E isto já nos seus derradeiros momentos de vida, quando “já fedia a cadáver”, segundo palavras textuais de um dos juízes!
Tudo isto e muito mais ainda, está no excelente livro “Pinto Madeira, nem herói nem vilão”, de Nélcia Turbano de Santana, jardinense até pelo histórico nome familiar. Esta oportuna obra merece ser publicada até pela Prefeitura Municipal de Jardim que tem à frente, pelo quarto mandato, um homem inteligente e de visão de futuro, médico Dr. Fernando Neves Pereira da Luz, por sinal, meu primo e afilhado.

Finalizando, devo dizer ainda que o substancioso trabalho de Nélcia Turbano de Santana mergulha fundo na História regional trazendo a lume até as condições econômicas da ambiência da época onde e quando tudo se deu. É, portanto, na minha visão, obra meritória, rara e única no gênero.

(*) Napoleão Tavares Neves, médico e historiador, residente em Barbalha

2 comentários:

  1. É...

    Então é verdade!

    Pinto Madeira não foi sentenciado e sumariamente exeucutado por ser um revolucionário, mas, por desentendimentos politicos.

    Para condená-lo, seus desafetos incluíram em seu histórico uma bala assassina de cuja arma ele não havia feito uso.

    Preciso ler este livro.

    Vicente Almeida

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