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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 13 de novembro de 2010

Crato Republicano? Algumas Considerações... por Armando Lopes Rafael



(Excertos de um artigo publicado há 10 anos na revista A Província – nº 18, 2000)

Alguns escritores locais citam, vez por outra, a “tradição republicana” de Crato. Não acredito nessa alardeada “tradição”. Mas quero deixar claro que receberei com naturalidade, toda correção que vierem a fazer a este meu pensamento.

Começo por lembrar que o aniversário do golpe militar que implantou a República nunca foi comemorado em Crato. Nesta cidade o povo comemora as datas de 7 de setembro, 21 de Junho, Nossa Senhora da Penha, São José, São Francisco, dentre outras.

Comemoração no dia 15 de Novembro – para a “Proclamação da República” – nunca vi.

O Crato, durante 149 anos (de 1740 quando foi fundado a 1889, quando houve o golpe militar que introduziu a forma de governo republicana) viveu sob a Monarquia. No imaginário popular persiste a idéia de que a Monarquia é algo bom. O historiador cratense Denizard Macedo escreveu[1] : “O povo tinha apego aos soberanos e aversão às manobras revolucionárias. Diferente do que alguns tentam demonstrar existia uma tradição moldada na fé católica e na monarquia absoluta, com seus princípios, escala de valores, hábitos, usos e costumes, não sendo fácil remover esta herança cultural profundamente enraizada no tempo”.

Isso é verdade, ainda hoje quando o povo reconhece numa pessoa certos méritos ou qualidades acima do comum, costuma dar-lhe o título de “Rei”. Por isso temos ou tivemos; “O Rei Pelé”, “O Rei Roberto Carlos”, “O Rei do Baião”, “O Príncipe dos Poetas Populares" (o repentista Pedro Bandeira) etc. E o que dizer dos concursos que se realizam para escolha da “Rainha do Colégio”, “Rainha da Exposição”? e de nomes de lojas como “O Rei da Feijoada”, “O Império das Tintas”? Ou nomes como “Rádio Princesa FM”, “Colégio Pequeno Príncipe”?

Portanto, é um mito sem consistência essa alardeada “tradição republicana” de Crato. Precisamos ter coragem para proclamar isto, pois ela não reflete a realidade. Ainda não se conseguiu sensibilizar as camadas populares para comemorar, em Crato, o golpe militar que impôs no Brasil a República. Sempre foi assim. Vai ser assim, também, na próxima 2ª feira, dia 15 de novembro, quando o país vai parar – num feriado nacional – em comemoração à “Proclamação da República”.

República” para o povo é sinônimo de casa de estudante, com a desorganização e improvisação comum aos jovens. Ou traz a idéia das notícias que vêm da Capital da República com seus escândalos de corrupção na Casa Civil. “República” continua a ser, no imaginário popular, a falta de segurança, a falência da saúde pública, a precariedade da educação pública, a fila dos aposentados (expostos ao sol e à chuva) na fila das calçadas dos Bancos para receber suas míseras aposentadorias, os políticos corruptos, as obras públicas inacabadas, a demagogia e a falta de respeito para com a população...


[1]Notas Preliminares no livro “Vida do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro”, de J.dias da Rocha, 2ª Ed. Secretaria de Cultura do Ceará, 1978.

Texto e Postagem de Armando Lopes Rafael

4 comentários:

  1. O cearense é um gozador!
    Fortaleza também não tem “tradição republicana”!
    Lá só existe uma pequena rua homenageado o Marechal Deodoro da Fonseca, cabeça do golpe militar que implantou a República no Brasil.
    A rua fica próxima ao Estádio Presidente Vargas.
    Mas, se você procurar pela Rua Marechal Deodoro, ninguém sabe informar.
    É que a rua – desde o princípio – ficou conhecida popularmente como “rua da cachorra magra”...

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  2. Prezado Armando.

    Um texto para ser lido e relido. Quem o entender reflitirar de forma consciente qual regime nos deu melhores exemplos: O dos Andradas ou o das trapalhadas em cima umas das outras.

    Um abraço.

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  3. Morais:
    Falar em regime republicano, no noticiário de Vicelmo ele contou, ontem, que perguntado por que não concorreu a deputado por seu estado natal, Tiririca respondeu:
    -- Lá não tem tanto esses "abestados" que tem por aqui...

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  4. Hoje, os livros de história já transmitem a versão mais próxima da verdade sobre o golpe militar de 15 de novembro de 1889.

    Segundo alguns, a Proclamação da República ocorreu no Rio de Janeiro, então capital do Império do Brasil, quando um grupo de militares do exército brasileiro, liderados pelo marechal Deodoro da Fonseca, deu um golpe de estado depondo o Imperador do Brasil, D. Pedro II, e o presidente do Conselho de Ministros do Império, o visconde de Ouro Preto.

    O golpe militar, que estava previsto para 20 de novembro de 1889, teve de ser antecipado. No dia 14, os conspiradores golpistas divulgaram o boato de que o ministério liderado pelo visconde de Ouro Preto havia mandado prender Benjamin Constant Botelho de Magalhães e Deodoro da Fonseca.
    Posteriormente confirmou-se que era mesmo boato. Mesmo assim, os revolucionários anteciparam o golpe de estado, e, na madrugada do dia 15 de novembro, Deodoro iniciou o movimento de tropas do exército que pôs fim ao regime monárquico no Brasil.

    Para conseguirem a adesão do velho marechal, os golpistas divulgaram outro boato. o de que Deodoro seria preso, ao amanhecer do dia 15 de Novembro.
    Acreditando nisso, o marechal Deodoro da Fonseca, saiu de sua residência, atravessou o Campo de Santana, e, do outro lado do parque, conclamou os soldados do batalhão ali aquartelado, onde hoje se localiza o Palácio Duque de Caxias, a se rebelarem contra o governo e não contra o Imperador.

    Ofereceram um cavalo ao marechal, que nele montou, e, segundo testemunhos, tirou o chapéu e gritou “Viva o Imperador”.
    Dias depois, os republicanos golpistas criaram outra versão para este grito: a de que Deodoro teria gritado: "Viva a República!".

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