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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 1 de janeiro de 2011

Meu primeiro Ano Novo – Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Recuando no tempo, as minhas lembranças remontam a alguns episódios de quando eu tinha dois anos de idade. Antes de sua morte, a minha mãe se surpreendeu quando eu, já velho e barbado, lhe perguntei em que ano ocorreram determinados fatos da minha infância. Guardo muita coisa na minha memória anterior, hoje com sua área de armazenamento já totalmente preenchida, de modo que não mais me ocorrem lembranças de anos mais recentes.

Eu tinha quatro anos e três meses de idade, quando descobri que o tempo era medido em anos. Leni, uma pessoa muito querida em nossa casa, rasgou a folhinha do calendário e disse: “Hoje é primeiro de janeiro de 1950. Faltam dez anos para o mundo acabar”. Foi assim que eu fiquei sabendo de duas coisas. Primeira: que cada determinado período de nossa vida constituía um ciclo que nós denominávamos ano. A segunda foi uma informação que me deixou bastante apreensivo. O mundo um dia iria acabar. E este dia estava bem próximo, pois dez anos para mim seria uma coisa que passaria rapidamente. Esta perspectiva do fim do mundo me apavorou só em pensar, que toda a vida existente um dia se acabaria. Por isso, a cada primeiro de janeiro, revejo a imagem de Leni puxando a folhinha do calendário e destacando aquele marco. Hoje guardo um sorriso pelos anos e anos em que tive medo das “três noites de escuro” que prenunciava o “fim do mundo” previsto, portanto para ocorrer em 1960.

Neste ano, que ontem se encerrou, quando me encontrava na UTI de um hospital, durante o pós-operatório de uma delicada intervenção cirúrgica, senti por alguns instantes a proximidade do “fim do mundo”.... E lembrei-me de Leni, que hoje vive no “outro mundo” preparando para os anjos e santos seus deliciosos bolos, pudins e o incomparável “baba de moça”, um doce feito com a polpa do coco verde, com os quais me empanturrei durante tantos anos. Tenho certeza que seus divinos clientes não correrão o risco de ter suas artérias obstruídas, como ocorreu comigo.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

4 comentários:

  1. Prezado Carlos Esmeraldo.

    Na historia de todos nós existe esta previsão: o mundo acaba em tempo determinado. A mimha preocupação, quando menino, era morrer sem ainda ter me tornado um rapaz, vestir uma calça comprida, uma camisa de mangas longas, um chapeu de massa ETC. Eu acredita piamente que o mundo ia acabar mesmo naquele dia pre-determinado. Quanto sofrimento, era uma tortura.

    Um Ano de muita Paz e alegrias.

    Abraços.

    A. Morais

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  2. CAro Morais
    Como éramos inocentes. Acreditávamos em todas essas histórias que os adultos inventavam para nos amedrontar. Fazia parte das diversões daquele tempo.
    Um grande abraço e Feliz Ano de 2011 para você e toda a sua família.

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  3. É...

    Carlos Eduardo

    Este era o mal que assolava os corações dos garotos daquele tempo. Tudo que a gente ouvia dos mais velhos, acreditava, "mentira ou verdade".

    Recordo muito bem, que sofri demais por causa das tres noites de escuro. Naquele tempo eu era um menino auto impressionável.

    Rogo a Deus que tua saude seja restabelecida. E que venham as crônicas.

    Abraços do

    Vicente Almeida

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  4. Caro Vicente Almeida.

    Pois é amigo, a diversão dos adultos era aterrorizar as crianças, sem se preocupar com o mal que isso poderia fazer. Eumorria de medo das três noites de escuro, do Vicente Finim, do Papa Figo, enfim de uma série de monstros que nos impressionavam.
    Muito obrigado por suas palavras e Feliz 2011 para você e toda famíla

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