O fascínio pelas palavras
- Claude Bloc -
No decorrer desses últimos anos, tenho (re)descoberto, não só um novo amor pelos livros, mas também por palavras. Falei em redescobrir porque as palavras sempre me fascinaram e também me fascina o poder que elas exercem. Não me refiro apenas a palavras soltas, mas mais concretamente ao uso delas na linguagem que utilizamos. Observar, por exemplo, como as palavras rolam em sua/minha boca e sente quando você/eu quer/o dizê-las. Como uma frase pode soar poética enquanto fere como faca.
Eu tenho um verdadeiro fascínio por palavras, sobretudo as incomuns e seus significados interessantes. Tenho também o hábito de colecionar coisas que me surpreendem e encantam. Bem antigamente eu escrevia meus diários e exercitava neles uma linguagem polida. Lapidava meus pobres sonetos de adolescente deslumbrada pela métrica e pelos sons repetitivos da rima. Isso para mim era causa de descobertas fantásticas que se completavam com a ajuda de um dicionário. Rimas tinham ritmo, sonoridade e soavam para mim como música, pois transportavam meus sonhos mais delicados. Eu me sentia desafiada a “ter um caso” com palavras e saia de fininho de volta à vida em circulação, curtindo as palavras novas, buscando nelas seus mais diversos sentidos.
Hoje eu prefiro muito mais ouvi-las como num disparate. Insensato talvez. Ouvir falar bobagem até; nonsense usados na vida cotidiana como, por exemplo, outra pessoa dizendo "eu sei" – o que se sabe da vida? Ou... o que você sabe de mim? Sei que nos dias de hoje usamos uma linguagem simplificada quando falamos e por isso, talvez estejamos perdendo a oportunidade de usar palavras expressivas ao sermos sucintos demais e espirituosos de menos.
Não é que eu pense que devamos ser tão sutis ou pomposos como se costumava ser antigamente, na maneira de falar... nem acredito que possamos trazer de volta o tempo em que não éramos tão dependentes abreviações como no caso das mensagens de texto na internet e dos e-mails. Mas eu bem que gostaria de poder trazer de volta a arte de escrever, usando palavras que hoje estão perdidas e que precisariam voltar a viver.
Claude Bloc
Claude.
ResponderExcluirParabens pela bela cronica. Eu sou da opinião que as palavras ficaram para facilitar o entendimento entre as pessoas e nunca para dificultar. Eu vi do sertão onde me criei e aprendi aquela linguagem bonita que não se precisa, para entender o que se ler, pedir constantimente o socorro de um dicionario.
Veja esta rima do grande José Clementino:
O Dr. disse que o problema é fisiologico,
Não é nada psicologo, ele até me garantiu.
Amigo velho, não se iluda , vá nessa não.
Essa tal de droga nova nunca passa de ilusão.
Certo mesmo é o ditado do Povo,
Pra cavalo velho o remedio é capim novo.
Nestes versos da Musica Capim Novo do Clementino, gravada por Luiz Gonzaga, palavras populares, conhecidas e muito bem acomodadas na rima e no tema. O patativa tambem era um grande mestre em usar as palavras.
Parabens pela bela cronica.
A. Morais
Morais,
ResponderExcluirMeu encanto pelas palavras não se detém em palavras difíceis ou desconhecidas, mas em palavras expressivas, sejam elas populares ou não.
Veja bem: Se eu disser "Vamos tomar um deforete" a palavra "deforete" hoje em dia ficou conhecida apenas por pessoas de nossa região e que conhecem o seu sentido de um uso mais antigo...
Sou, como você, favorável aos textos de compreensão fácil, mas a gente não pode negar que usava mais palavras interessantes antigamente do que hoje em dia.
A tendência agora com essa modernidade é simplificar demais... (risos)
Abraço,
Claude
Em tempo:
ResponderExcluirAdoro tudo o que Luiz Gonzaga interpreta. Cresci ouvindo nosso Rei do Baião.
Essa letra nos dá uma idéia da genialidade e do ritmo do povo de nossa região. Mostra o ritmo e os costumes do sertão.
É CLAUDE E MEU AMIGO MORAIS; NAO É ATOA QUE A SABEDORIA POPULAR DIZ QUE NA FALTA DE UM GRITO SE PERDE UMA BOIADA. ISSO NÃO QUER FALAR QUE O GRITO SEJA POTENTE MAS SIM DA FORTALEZA DAS PALAVRAS.
ResponderExcluirOS POETAS POPULARES VÃO BEM O USO DAS FORÇAS DAS PALAVRAS E QUANDO ELAS SAÕ BEM ACONDICIONADAS COMO FALOU O MORAIS ELES OS CLASSIFCAM DE VERSOS GRANDES OS SEUS NESSA POSTAGEM COM CERTEZA FORAM.
Prezada Claude.
ResponderExcluirQuando eu tinha lá os meus oito anos, no Sanharol, Um dia, por volta do meio dia ouvi meu pai dizer: Tonha bota essas galinhas pra pô no terreiro, agente não pode nem tirar um "deforete" com a zoada delas. Eu entendi que fosse um descanso, um cochilo. Nunca mais ouvir niguem falar ou escrever esta palavra. Outro dia lendo um belo texto seu voce resgatou o termo "deforete" na sua abordagem. Outro dia eu li um comentario de um Livro de Pedro Gonçalves de Morais datado e editado em 1933, a colocação das palavras é feita de modo que todas se destacam, diferentemente dos textos atuais.
Muito boa a sua Cronica.
Parabens.
Claude, as tuas poatagens já não existem "Palavras" para buscarmos e elogiarmos o que de belo tu escreves.Um abraço.
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