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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 4 de janeiro de 2011

MOMENTO PARA UMA CRÔNICA

O fascínio pelas palavras
- Claude  Bloc -


No decorrer desses últimos anos, tenho (re)descoberto, não só um novo amor pelos livros, mas também por palavras. Falei em redescobrir porque as palavras sempre me fascinaram e também me fascina o poder que elas exercem. Não me refiro apenas a palavras soltas, mas mais concretamente ao uso delas na linguagem que utilizamos. Observar, por exemplo, como as palavras rolam em sua/minha boca e sente quando você/eu quer/o dizê-las. Como uma frase pode soar poética enquanto fere como faca.

Eu tenho um verdadeiro fascínio por palavras, sobretudo as incomuns e seus significados interessantes. Tenho também o hábito de colecionar coisas que me surpreendem e encantam. Bem antigamente eu escrevia meus diários e exercitava neles uma linguagem polida. Lapidava meus pobres sonetos de adolescente deslumbrada pela métrica e pelos sons repetitivos da rima. Isso para mim era causa de descobertas fantásticas que se completavam com a ajuda de um dicionário. Rimas tinham ritmo, sonoridade e soavam para mim como música, pois transportavam meus sonhos mais delicados. Eu me sentia desafiada a “ter um caso” com palavras e saia de fininho de volta à vida em circulação, curtindo as palavras novas, buscando nelas seus mais diversos sentidos.

Hoje eu prefiro muito mais ouvi-las como num disparate. Insensato talvez. Ouvir falar bobagem até; nonsense usados na vida cotidiana como, por exemplo, outra pessoa dizendo "eu sei" – o que se sabe da vida? Ou... o que você sabe de mim? Sei que nos dias de hoje usamos uma linguagem simplificada quando falamos e por isso, talvez estejamos perdendo a oportunidade de usar palavras expressivas ao sermos sucintos demais e espirituosos de menos.

Não é que eu pense que devamos ser tão sutis ou pomposos como se costumava ser antigamente, na maneira de falar... nem acredito que possamos trazer de volta o tempo em que não éramos tão dependentes abreviações como no caso das mensagens de texto na internet e dos e-mails. Mas eu bem que gostaria de poder trazer de volta a arte de escrever, usando palavras que hoje estão perdidas e que precisariam voltar a viver.

Claude Bloc



6 comentários:

  1. Claude.

    Parabens pela bela cronica. Eu sou da opinião que as palavras ficaram para facilitar o entendimento entre as pessoas e nunca para dificultar. Eu vi do sertão onde me criei e aprendi aquela linguagem bonita que não se precisa, para entender o que se ler, pedir constantimente o socorro de um dicionario.

    Veja esta rima do grande José Clementino:

    O Dr. disse que o problema é fisiologico,
    Não é nada psicologo, ele até me garantiu.
    Amigo velho, não se iluda , vá nessa não.
    Essa tal de droga nova nunca passa de ilusão.
    Certo mesmo é o ditado do Povo,
    Pra cavalo velho o remedio é capim novo.

    Nestes versos da Musica Capim Novo do Clementino, gravada por Luiz Gonzaga, palavras populares, conhecidas e muito bem acomodadas na rima e no tema. O patativa tambem era um grande mestre em usar as palavras.

    Parabens pela bela cronica.

    A. Morais

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  2. Morais,

    Meu encanto pelas palavras não se detém em palavras difíceis ou desconhecidas, mas em palavras expressivas, sejam elas populares ou não.

    Veja bem: Se eu disser "Vamos tomar um deforete" a palavra "deforete" hoje em dia ficou conhecida apenas por pessoas de nossa região e que conhecem o seu sentido de um uso mais antigo...

    Sou, como você, favorável aos textos de compreensão fácil, mas a gente não pode negar que usava mais palavras interessantes antigamente do que hoje em dia.

    A tendência agora com essa modernidade é simplificar demais... (risos)

    Abraço,

    Claude

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  3. Em tempo:

    Adoro tudo o que Luiz Gonzaga interpreta. Cresci ouvindo nosso Rei do Baião.

    Essa letra nos dá uma idéia da genialidade e do ritmo do povo de nossa região. Mostra o ritmo e os costumes do sertão.

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  4. É CLAUDE E MEU AMIGO MORAIS; NAO É ATOA QUE A SABEDORIA POPULAR DIZ QUE NA FALTA DE UM GRITO SE PERDE UMA BOIADA. ISSO NÃO QUER FALAR QUE O GRITO SEJA POTENTE MAS SIM DA FORTALEZA DAS PALAVRAS.
    OS POETAS POPULARES VÃO BEM O USO DAS FORÇAS DAS PALAVRAS E QUANDO ELAS SAÕ BEM ACONDICIONADAS COMO FALOU O MORAIS ELES OS CLASSIFCAM DE VERSOS GRANDES OS SEUS NESSA POSTAGEM COM CERTEZA FORAM.

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  5. Prezada Claude.

    Quando eu tinha lá os meus oito anos, no Sanharol, Um dia, por volta do meio dia ouvi meu pai dizer: Tonha bota essas galinhas pra pô no terreiro, agente não pode nem tirar um "deforete" com a zoada delas. Eu entendi que fosse um descanso, um cochilo. Nunca mais ouvir niguem falar ou escrever esta palavra. Outro dia lendo um belo texto seu voce resgatou o termo "deforete" na sua abordagem. Outro dia eu li um comentario de um Livro de Pedro Gonçalves de Morais datado e editado em 1933, a colocação das palavras é feita de modo que todas se destacam, diferentemente dos textos atuais.

    Muito boa a sua Cronica.

    Parabens.

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  6. Claude, as tuas poatagens já não existem "Palavras" para buscarmos e elogiarmos o que de belo tu escreves.Um abraço.

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