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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 2 de janeiro de 2011

NUCLEAÇÕES SÓCIO-ECONÔMICAS COMO BASE PARA A FORMAÇÃO DO CARIRI.


Texto de Zé Nilton*

Hoje não se tem mais dúvidas, à luz de escritos e pesquisas históricas, de que as terras sul cearenses desde Icó e em seguida o território dos Cariris Novos foram conhecidas e ocupadas na última metade do Século XVII e primeiros anos do século XVIII.

Na segunda metade do séc. XVII é criada a povoação de Icó após brutais contendas com os índios Icó, Icozinhos e outros, que habitavam as terras paraibanas e cearenses. Em seguida, sesmeiros e posseiros subiram pelo Jaguaribe, alcançaram o Rio Salgado e adentraram as terras dos Cariri. Fortes grupos familiares se estabeleceram na região do Riacho dos Porcos e para além das cabeceiras da Cachoeira de Missão Velha.
Algumas dessas famílias foram adquirindo terras em pleno Vale caririense por compra a sesmeiros ausentes, aqui chegados a partir de 1703.

Não é de todo impensável a presença de moradores assentados no Vale do Cariri a partir do primeiro lustro do Séc. XVIII. É fato que em 1703 um rio-grandense vindo de Jaguaribe, Manuel Rodrigues Ariosa, requer sesmaria de terras hoje ocupadas pelos municípios de Crato e Juazeiro do Norte e Porteiras. Contrariamente a outros sesmeiros aproveitou suas terras economicamente, e quando faleceu, em 1716, seus herdeiros venderam ditas terras para a família Lobato, estabelecida na região de Missão Velha ou Cachoeira.

Nas cabeceiras e margeando o Riacho dos Porcos, na área de Mauriti, Jardim, Milagres troncos da família Dantas se estabelecem desde 1707.
Consta ainda a presença de sítios como o Muquém, em terras hoje cratenses, em pleno funcionamento em 1730.

Quando da ereção da outrora localidade da Missão do Miranda em Vila Real, em 1764, famílias se encontravam situadas nos pés de serra ocupadas em atividades econômicas nos sítios Urucum, Jenipapeiro e Engenho Almécegas.

Há uma informação segura do pesquisador Pe. Antonio Gomes de Araújo que, após consulta a registros de nascimento, batizado, casamento e morte em arquivos paroquiais de Icó, Missão Velha e Missão Nova, encontráveis a partir de 1727. Diz:

“Quando a Missão do Miranda surge em documentos eclesiásticos relacionados com ela ( ele os encontrou referentes ao ano de 1741), o faz, simultaneamente, ao lado de colonos que satisfazem necessidades espirituais na Igreja da dita Missão”... E cita “os nomes de alguns dos mais topáveis (sic) nos documentos paroquiais da época.(grifo nosso). São cerca de 10 famílias cujos varões detêm patentes de alferes, capitão e coronel.

A presença de um corpo militar do Estado Português em terras da futura Vila de Crato nos leva a imaginar a existência – além de índios - de um contingente de pessoas residindo, produzindo e comercializando com gentes dos Inhamuns e Icó, por exemplo. Até porque havia os caminhos antigos por demais conhecidos como Icó-Cariris Novos e Inhamuns-Cariri, abertos por índios, batedores e grupos familiares em contenda.

Continuo fuçando documentos na tentativade superar as desconexões sobre o Século XVIII no Cariri cearense, na busca de contribuir para uma compreensão da nossa formação sócio-cultural para além dos importantes registros regionais.

O assunto parece não despertar atenção de acadêmicos e pesquisadores. Em 60 anos de curso de História na região do Cariri, continuamos na aceitação das verdades do discurso eurocêntrico e positivista dos pesquisadores Antonio Bezerra, Pedro Thebèrge, Antonio Gomes, Irineu Pinheiro, João Brígido e quejandos.

*Prof. Zé Nilton é antropólogo e professor do Departamento de Ciências Sociais da URCA.E-mail. jn-figueiredo@hotmail.com

6 comentários:

  1. Caro Zenilton:
    Não poderia deixar de cumprimentá-lo pelo artigo "Nucleações sócio-econômicas como base para a formação do Cariri".
    A exemplo de outros escritos seus, este foi produzido com fidelidade, profunidade e objetividade.
    Parabéns.
    Armando Lopes Rafael

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  2. Prezado Zenilton

    Não preciso falar, acrescentar nada, o Armando disse tudo. Ponho apenas minha assinatura em baixo do que ele escreveu. Parabens.

    A. Morais

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  3. Caro Armando,
    Suas palavras são sempre estímulos para minha dedicação ao Século XVIII no Cariri.
    Nada disto aí é novidade para você pois tem leituras sobrando para, quando eu cochilar, como diria Pe. Gomes, você dar-me um espetada.
    Abraços, caro amigo.

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  4. Morais, você é exemplo de presença nos assuntos que dizem respeito à nossa gente.
    Obrigado por suas palavras.
    Não se esqueça de produzir um programa com o conterrâneo Xico Bezerra, para o Compositores do Brasil.

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  5. Professor José Nilton, encontro-me em Varzea Alegre, pertinho do Crato. Parabens pelo esforço intelectual, que muitas vezes, se dá de forma solitária.As conexões causais, no sentido "Weberiano" são impressindíveis, numa pesquisa como essa e na construção de argumentos históricos que trará exclarescimentos sobre o povoamento e formação sócio-cultural da nossa região.


    Washington Luiz de Sousa

    Varzea Alegre
    3/01/2011

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  6. Muito oportuna a lembrança de Max Weber como suporte teórico para iluminar e nortear o pensamento do pesquisador. Muito obrigado Prezado Washington Soares por sua contribuição e deferência.

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