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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

ASSÉDIO MILITAR - Por Mundim do Vale

É muito proveitoso para o nosso aprendizado, ouvir um diágolo entre dois intelectuais.
Muito proveitoso também para a conservação dos nossos causos, é ouvir um bate papo de duas pessoas simples e ingênuas.
Certa vez eu presenciei uma coversa de Maria Caetano e Teresa Gobira, nos seguintes termos.
Teresa Gobira dizia:
- Tu acha muié? O sargento Martim agora deu prumode dar as coisa a eu. Premêro foi um mizamprí, adispois foi óleo de coco e agora pru derradêro, trouve um rozário bento do Juazeiro e deu a eu.
- Neguinha. Apois tenha coidado. Qui esse povo da puliça é danado pra imbuchar as moça e adispois vão simbora e num dêxa nem uma chupeta pru fí.
- basta! Apois ele tá querendo é qui eu vá cum ele pru Pernambuquim, prumode dançá o carnaval e beber aluá.
- Apois vai bicha bexta! Vai pensando qui é aluá. Tu vai ficar é falada, qui lá no pernambuquim só dá quenga e sordado. Vai ser lá mermo qui tu vai sair premiada. Salembre! Quem avisa amiga é.
Três meses depois, Maria Caetano estava na esquina da casa de Darío Pimpim, quando avistou Gobira subindo a ladeira do beco. Gobira que era escurinha, tava branca da cor de Rita Dondom.
Maria espantada perguntou:
- O qui é qui tu tem muié? Tu tá dá cor duma fulô de japão.
- Pois é Maria. Eu tou sintino umas coisas. É inguiano, é vumitano sem ter cumido nada e cum vontade de cumer coisa qui num tem im Rajalegue. E pra compretá, já fais treis meis qui aquele negoço num vem.
- Eu num dixe a você? Isso daí é coisa de bucho. Agora vá atrais daquele criolo prumode vê se ele te dá umeno um cuêro.
Passado sete meses daquela conversa das duas, era fácil encontrar Teresa Gobira com Martins Júnior nos braços, pedindo dinheiro a um e a outro, para comprar leite.
Enquanto Gobira andava com aquela criança da cor de uma azeitona, a notícia que se tinha em Várzea Alegre, era que o sargento Martins estaria destacado na cidade de Camocim Ceará.
Dedicado a João Dino, o novo colaborador do blog

4 comentários:

  1. Mundim

    Essa foi demais. Morrendo de rir com Martins Jr. Coitada da Gobira.

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  2. E DESSAS HISTÓRIAS.. VÁRZEA ALEGRE TEM MUITAS QUANTOS FILHOS DE RECRUTAS DO 3º BEC NÃO ETAO HOJE COM OS 30 E POUCOS ANOS SEM SER QUER TEREM VISTO OS SEUS PAIS.

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  3. Mundim do Vale, piau do riacho do machado, você não é somente um baita dum poeta, mas um excelente contista. No Pecém você fez boas amizades, justamente por esse seu espírito hilariente de cabra da Rajalegre. Um forte abraço. Zé Filipe

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  4. Prezados Claudio e Jose
    Felipe.

    Lê Mundim do Vale é prazeroso. Eu me encanto com os termos que ele uso. Voces prestaram atenção a relação de presentes usada como objeto de sedução: Um Mizampri, Oleo de coco e o rozario. Gobira não era nada exigente.
    Abraços.

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