Dedicado ao Mundim do Vale.
Esta postagem é um pouco longa, é um resgate, um achado, por esta razão a dedico ao meu estimado primo Raimundinho Piau. Nas décadas de 30, 40 e 50 José de Morais Feitosa, filho de João Alves Bezerra e Conceição de Morais Feitosa, meus besavós, quando chegava a época do inverno se deslocava do Arneiroz para Várzea-Alegre com o objetivo de plantar uma lavoura de arroz. Fixava residencia no Sanharol, na casa de sua irmã Andrezinha, minha avó materna. 50 anos mais tarde, já residindo em Curitiba, Zezinho fez uma carta ao meu pai, José Raimundo de Morais, solicitando que fizesse um contacto com Raimundo Alves de Morais, Candeiro, para que este fizesse um verso falando daqueles tempos felizes vividos por eles. O Poeta atendeu e o meu pai memorizou os versos, cantou para Pedro Piau que os datilografou em sua maquina de escrever e eu tenho em meus arquivos esta relíquia memorável:
Não há quem possa negar
Como já foi o Machado
Com o povo interessado
Trabalhando sem parar
Gente de todo lugar
Tinha até do Arneiroz
A luta era feroz
Muitas vezes enlameado
Limpando arroz no Machado
E vivendo aqui mais nós.
Quando pegava a chover
Nós todos íamos plantar
Depois íamos pastorar
Prus passarinhos não comer
Depois do arroz nascer
Nós começávamos a limpar
E a lama sem secar
Só se ouvia nego dizendo
O meu mato está comendo
Acho que vou aceirar.
Quando clareava do dia
Agente se levantava
A merenda que pegava
Era a enxada e saia
E por lá passava o dia
Trabalhando sem parar
E pra poder acabar
Precisava ir tantas vezes
Com mais ou menos dois meses
Terminava de limpar
Quando o arroz segurava
Só se ouvia o assunto
Gente fazendo adjunto
Juntando quando botava
E o povo se juntava
Era gente pra valer
Fazia gosto se ver
Um bando de cabra macho
Cortando cacho por cacho
Cantando sindô lelê
E agora está mudado
Ninguém quer se juntar mais
Tá indo tudo pra traz
Já nem parece o Machado
O Povo é desanimado
Não joga maneiro pau
E por isso o pessoal
Não conta com arroz doce
Tudo isso acabou-se
Mode o demónio do girau
Veja o tamanho da sujeira
Que tudo esculhambou
Eu não sei quem inventou
De cortar com roçadeira
Chega abarcando a touceira
Vai levando por igual
Depois outro pessoal
Pegando tudo que vê
Vai levando pra bater
No Satanás do girau.
Só pode ter sido um caé
Ou mesmo uma brocharia
E com essa putaria
Não tem quem queira um quicé
pode ser homem ou mulher
É todo o povo em geral
Que apoia esse bicho mal
Que fez toda maldição
Foi o maldito do cão
O criador do girau
Nada se pode fazer
Jeito ninguém tem pra dar
Precisa se acostumar
Com o que aparecer
Não tanto que nem você
Que foi lá pra capital
Hoje é um jovem legal
Que nem liga o Ceara
Tire um tempinho e venha cá
Pra eu lhe mostrar o girau
Meu caro amigo Zezinho
Colega mui verdadeiro
Quem informa é o Candeiro
O Poeta do Brejinho
A coisa aqui está assim
Não está bom pra viver
Só se planta pra perder
Dá só pra gente escapar
Contudo no Ceará
Só está faltando Você
Este resgate tem historia. Fala das lembranças, desde o plantio até a colheita do arroz. Das festas dos adjuntos, dos maneiros paus, das comidas fartas, da cultura popular..
ResponderExcluirMorais.
ResponderExcluirObrigado pela dedicatória e por me deliciar com esse verso bem rimado, bem metrificado e significativo para a nossa história cultural.
Grande poeta era o primo Candeiro.
se ainda estivesse vivo tinha muita coisa para me ensinar.
Abraço.
Mundim.
PARABÉNS MORAIS PELO RESGATE. POESIA DE EXCELENTE QUALIDADE POR ISSO É QUE EU FALO QUE O BLOG DO SANHAROL É O MAIOR PAIOL VIRTUAL DA CULTURA VARZEALEGRENSE AQUI O RESGATE TAMBÉM ACONTECE. VALEU. E PRA MUNDIM FICOU O ESCLARECIMENTO AÍ DE QUEM ACABOU COM OS ADJUNTOS NAS APANHAS DE ARROZ NÃO FOI A COLHEDORA NÃO KKK FOI O GIRAL MUNDIM
ResponderExcluirMorais, Raimundinho, Cláudio,
ResponderExcluirCandeiro, O Poeta do Brejinho, esceveu uma epopéia em cordel notificando as etapas do plantio e da colheita do arroz com métodos primitivos. Mostrou um saudosismo romântico e fez críticas a métodos mais modernos, que não demonstram nenhuma paixão pelo arrozal.
Uma obra interessante.