Páginas


"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 23 de abril de 2011

Historias de João Dino - Vereador de Oposição, O calvario.

Quem promete deve. Por isso, eu vou contar para vocês o que aconteceu com o cheque que o Vereador Mané Picolé usou para pagar uma galinha assada, arrematada por ele, em disputa com o Deputado Federal, no leilão da festa do padroeiro da capela.

Para entender a história que eu vou contar agora, a leitura da anterior, que está no arquivo desse BLOG, é indispensável.

O ano era 2003, e eu fazia um programa na Rádio Cidade FM de Piancó (PB), intitulado “JOÃO DINO SHOW”. É notório que muita gente perdeu aquela velha mania de escutar emissoras de rádio, sobretudo porque 95% dos programas são direcionados exclusivamente ao público jovem, ou seja: Forrós eletrônicos, rapp, funk, axé etc., e também porque, alguns locutores falam como se estivessem correndo atrás de um trem.

Felizmente, contando histórias e “causos”, entrevistando artistas e autoridades da região, tocando músicas adequadas para o meu horário (7:00 às 9:00 horas da manhã), boas canções de violas, bons declamadores de poesias, cantando ao vivo em algumas oportunidades etc., eu conseguia manter uma boa audiência na região do Vale do Piancó. Os assuntos que eu abordava no meu programa eram bastante comentados.

O leilão aconteceu num dia de sábado. O Padre depositou o cheque do Vereador Mané Picolé na segunda-feira. Muito confiante de que a compensação do cheque teria resultado positivo, também efetuou compras emitindo cheques da paróquia.

Meus amigos, na quinta-feira, 7:00 horas da manhã, lá estava eu no microfone da Rádio Cidade Fm 95 acordando o povo do Vale do Piancó: Muito bom dia senhores comerciantes, funcionários públicos, trabalhadores rurais..., estamos começando mais um programa João Dino show, e você pode interagir comigo por telefone, por e-mail, por carta... Aquele “leriado” que vocês tanto conhecem.

Logo quando eu terminei a abertura do programa o Guarda da Rádio entrou no estúdio e disse: João Dino, o Padre da Cidade “Fulana de Tal”, onde você fez aquele leilão na festa do padroeiro, está aqui querendo falar contigo.

Eu programei no computador uma canção dos Nonatos, uma música da banda Clã Brasil, um desafio de Oliveira de Panela e Otacílio Batista, uma embolada de Cajú e Castanha, uma poesia de Moreira de Acopiara e fui atender o sacerdote.

O homem já idoso, visivelmente debilitado, estava nervoso, aflito, estressado. Prá vocês terem uma idéia do drama, ele nem respondeu ao meu sorridente “bom dia”; Já foi tirando o cheque do bolso da batina e me dizendo: João Dino, o bancário me falou que eu procurasse resolver com Mané Picolé, porque a conta dele lá no banco está no vermelho e a situação na praça é preta.

Eu lamentei o ocorrido e perguntei: Reverendo, em que eu posso ajudá-lo? Ele disse: eu quero que você leia esse aviso no seu programa.

Vou transcrever o conteúdo do aviso para vocês que estão lendo essa história: Atenção, muita atenção Sr. Mané Picolé, Vereador da Cidade “Fulana de Tal”, o Padre “Beltrano”, pede que V.Excia. apareça, com urgência, na sede da casa paroquial, a fim de resolver o pagamento do cheque. Assinado Padre “Beltrano”.

Eu falei, Padre, infelizmente hoje existe um tal de processo por danos morais, que além de exorbitantes indenizações financeiras, no caso do requerente ser um cidadão portador de mandato eletivo, nós corremos o risco de um Juiz mandar tirar a rádio do ar. Vamos por outro caminho. Eu vou dizer que o Senhor está mandando um alô prá ele, e em seguida toco a música de Nando Cordel, intitulada “PAGUE MEU DINHEIRO”. Com certeza ele vai entender tudo que está acontecendo.

O Padre escutou quando eu mandei o alô e ficou dentro do estúdio ouvindo a música. Começou a rir porque a composição é realmente muito bem feita, muito engraçada. Eu perguntei: já merendou? Ele disse: não. Eu mandei o guarda da rádio pegar lá no bar de D. Ritinha de Mundico dois pratos de rubacão com tripa, iguaria da casa. Ele comeu, respirou aliviado, e ficou mais sereno.

Em resumo, o dinheiro do cheque a paróquia nunca recebeu. Mais por conta disso eu fiz muitas amizades. Tanto ele ficou meu amigo, como o Vereador Mané Picolé. E digo mais: eu fiquei amigo confidente do Vereador Mané Picolé. Morando no Vale do Piancó nesse tempo, quando eu terminava o programa ficava visitando os comerciantes e empresários a fim de vender comerciais nas cidades circunvizinhas. E numa dessas visitas eu reencontrei o Mané.

Meus amigos, as coisas que ele contava, quem ouvia atento como eu, tinha vontade de rir e de chorar. Pense no sofrimento que é a vida de um Vereador da Oposição, eleito com 102 votos.

O drama começava logo pelo partido. A sigla partidária dele, na época, para alguém mencionar o nome dizia “Ave Maria, Ave Maria, Ave Maria, Três vezes” o PT. E só ele fazia oposição ao prefeito da Cidade.

A sede da câmara funcionava, provisoriamente, numa garagem, localizada nos fundos da casa do prefeito. O pobre de Mané chegava cedo para reunião da câmara. Mas o Guarda Municipal não o deixava entrar. As cadeiras da frente eram destinadas aos aliados do Prefeito. E Mané entrava mudo e saía calado. Nunca deu palpite em nada. No dia que ele solicitou um espaço na tribuna para fazer uma denúncia, ninguém chegou a saber de que, os assessores do prefeito convidaram os garis da prefeitura, as merendeiras e os guardas municipais, começaram a vaiar o coitado antes dele falar. Ele simplesmente desistiu. Porque para quem defendia ideais tão sublimes, foi grande a decepção.

Mané tinha muito cuidado quando ia tomar café na Câmara, porque segundo ele me falou, o café que a funcionária servia prá ele era frio e tinha gosto de sabão. Ele com receio de ser veneno, nunca bebeu.

Mesmo assim, os agregados do prefeito ainda perseguiam o pobre de Mané. Planejaram um suposto atentado, forçando a barra para Mané renunciar. Meia noite, alguns garotos, utilizando dois veículos sem placas, ficaram dando cavalos de pau em frente ao casarão dos herdeiros da família que Mané usava como moradia. O coitado acordou assustado, abriu a janela para saber o que estava acontecendo. Jogaram umas 10 bombas dentro da casa dele. No escuro, ele imaginando ser tiros de espingarda calibre 12, ou granadas, ficou deitado no canto da parede da casa, como morto, até amanhecer o dia. É claro que o Delegado não viu nada, porque estava em diligência policial noutra cidade. Essa desculpa de que não vi nada, não sei de nada, ninguém me comunicou, eu não estava presente etc., na história deste país, virou moda.

Com o único objetivo de cassar o mandato do Vereador Mané Picolé, descobriram que a mulher dele recebia dinheiro dos programas “Auxilio Gás”, “Bolsa Escola”, e “Bolsa Alimentação” (Atualmente “Bolsa Família”). Toda imprensa da região noticiou. E o pobre de Mané Picolé sem ter dinheiro para gastar com Advogados, para não perder o mandato, foi obrigado a votar favoravelmente todas as propostas de doações de terrenos do município, contrariando as orientações dos demais membros do partido, e, consequentemente, decepcionando todos os seus eleitores.

Quando ele votava favorável, o assunto do processo de cassação era esquecido. Quando ele se posicionava contra alguma coisa de interesse do Prefeito, lá vinha o processo de cassação conduzido pelo oficial de justiça, no rumo da casa dele.

Quando o povo perguntava a ele nas ruas: Ei Mané, é verdade que a sua mulher recebia dinheiro do programa “Bolsa Alimentação”, ele respondia: Recebia sim, porque a gente vivia coberto de precisão. Ela recebia por necessidade. Quando o inverno começava, a venda de picolés e sorvetes caía muito e era o “Bolsa Alimentação” que acudia a gente. Esse assunto no Vale do Piancó teve grande repercussão. Acho que até aqui no Cariri do Ceará o povo ficou sabendo.

Nessa cidade o casarão onde morou a família do ex-vereador da oposição Mané Picolé, hoje funciona uma casa lotérica. Ainda no último ano de mandato, a mulher e os filhos dele foram debandando para o sul do país, e o líder da oposição terminou ficando sozinho.

Mané, muito ousado, muito otimista, muito persistente, ainda tentou um segundo mandato. Entretanto, apenas 12 eleitores sufragaram nas urnas o número 13.”””. Minha conclusão: posar de opositor aos gestores públicos brasileiros, reflete o verdadeiro significado da palavra CALVÁRIO, na vida de um cristão.

2 comentários:

  1. Prezado João Dino.

    Pra passar a perna num padre só um politico mesmo.

    Outro dia perguntei quando é que a Diocese do Crato tinha razão: Quando os tres primeiros bispos processaram, ex-comungaram e proibiram o padre Cicero de ministrar os sacramentos ou agora que quer santificá-lo.

    Ninguerm respondeu.

    Agora a pergunta é outra. Com o episodio da venda de um terreno por padre Murilo que a Diocese quer tomar, pergunta-se - quem é o caloteiro - O padre ou a Diocese?

    E ainda perguntam por que a Igreja catolica perdeu e perde tantos seguidores.

    ResponderExcluir
  2. Frase do Papa.

    “A corte de Roma recolhe todo dinheiro, ela vende o Espírito Santo, as ordens sacras e os sacramentos: Ela perdoa todos os delitos a quem tiver para pagar a absolvição”.
    Papa Pio II

    Quero que apareça, sacristão, padre, monsenhor, Bisto, Cardeal, para contestar a frase do "Papa PIO II".
    Amem.

    ResponderExcluir