Sou brasileiro. Amo o meu país. Adoro essa terrinha abençoada que me viu nascer. Humildemente reconheço que não somos o povo mais inteligente do mundo. Respeito os europeus, os americanos, os japoneses, os chineses, os coreanos etc., pelo sucesso nas grandes descobertas marítimas e espaciais, nas grandes invenções que vem melhorando a vida dos habilitantes do nosso planeta terra na indústria, na informática, na medicina, etc.
Entretanto, não serei humilde em afirmar que nas falcatruas e negociatas de 90% dos nossos políticos e na esperteza dos nossos estelionatários e ladrões, nenhum país do mundo vai conseguir nos vencer.
Num futuro muito breve o Brasil vai se destacar no cenário mundial como o campeão de insegurança pública. O cidadão de bem vai ter que viver confinado em residências e estabelecimentos comerciais super protegidos por grades de ferro, concreto armado, veículos blindados, cães adestrados, redes elétricas, micro-câmeras, guardas armados etc.
Felizmente, apenas alguns pequenos roubos atingem a mim e aos meus familiares. E às vezes são recheados de tanta criatividade que se tornam até engraçados.
Essa semana, eu e um amigo meu, fomos ludibriados por um estelionatário, de uma maneira que a gente fica até com vergonha de contar aos amigos ou procurar as autoridades policiais para fazer um B.O.
O desenrolar dessa história está em andamento. Vou deixar para narrar no JUANORTE quando o caso for concluído, porque até agora eu não estou admitindo que um larápio semi-analfabeto, tenha conseguido nos fazer de besta.
Caso verdadeiro e já consumado me aconteceu em maio de 1990, na antiga churrascaria “La Barranca”, localizada à margem esquerda do Rio Jaguaribe, na Cidade de Iguatu (CE). O proprietário dessa casa de show era na época o Sr. Gil Amâncio, meu conterrâneo. Ele testemunhou essa ocorrência.
Há três noites eu estava cantando festas em homenagem às mães. E como faço até hoje, em alguns momentos do show eu declamo poesias, canto diversas canções como: Mamãe - Aguinaldo Timóteo, Mãe - The Fevers, Minha mãe, minha heroína - Lindomar Castilho etc.
As fitas cassete gravadas ao vivo durante o show era uma boa fonte de renda. Quase todas as criaturas presentes na festa queriam adquirir, para levar de recordação. E eu interligava 6 tape deck. Gravava até 6 fitas ao mesmo tempo.
Há uma semana, por sugestão de um revendedor amigo meu de Cajazeiras, eu havia adquirido um novo tape deck que na época era o que havia de mais moderno no mercado: o aparelho gravava a fita cassete em velocidade normal, mas tinha uma outra função que reproduzia em apenas 10% do tempo para uma outra fita. Ou seja: uma fita cassete de 60 minutos era copiada em apenas 6.
Esse aparelho caiu do céu. Custou-me cinco vezes mais do que um aparelho comum. E como a procura era muito grande, eu já anunciava durante o show, fazendo o maior charme: quem quiser fita cassate gravada ao vivo, do show de hoje, é só aguardar um pouquinho que o meu mesário reproduzirá para você num tape deck japonês de última geração. Gravação de ótima qualidade.
Depois de cantar quatro horas sem intervalo, pela terceira noite seguida, estou eu dentro do ônibus da minha banda copiando fitas nesse sensacional e moderníssimo tape deck, para vender ao pessoal que pacientemente espera na porta do carro.
Tudo isso era mais um marketing comercial. O aparelho colocado sobre o painel do lado do passageiro do ônibus, e o povo assistindo o processo de gravação. Fazia-me lembrar daqueles vendedores de algodão doce que fabricavam o produto na cara do freguês, durante as festas de Senhor do Bonfim de Icó.
E os comentários eram inevitáveis: Que aparelho rápido da peste é esse rapaz... João Dino quanto foi esse aparelho?... Onde você comprou esse aparelho? Que coisa mais interessante... É muito bonito... É muito prático...
O cansaço querendo me dominar. Mas sempre muito carinhoso com o meu público, eu respondia com o maior orgulho: esse aparelho foi tantos U$... O Empresário de Cajazeiras Zé Grilo trouxe da Zona franca de Manaus... Foi o mesmo empresário que me vendeu o microfone sem fio japonês. Nessa época só João Dino e a Banda Show Terríveis de Natal usavam microfone sem fio.
O sol já estava despontando. Um rapaz mal vestido, de uns 25 anos de idade, cheirando álcool, visivelmente embriagado, forçou a porta e subiu o 1º degrau da porta do ônibus.
As pessoas que ainda estavam esperando quiseram se manifestar. Mas ele falou muito manso e todos compreenderam: Calma gente... Eu só quero que João Dino assine o nome dele aqui nesse pedaço de papel... Ele é o maior fã de mamãe... Ela só não veio para a seresta dele porque não tinha o dinheiro do ingresso... Mamãe está aniversariando hoje... Com certeza ela vai ficar muito feliz... Esse “Otógrafo” de João Dino vai ser o meu presente prá mamãe... João Dino escreva aqui nesse papel (O papel era aquele brilhoso de carteira de cigarro): Para D. Carminha Silva, com carinho sincero do seu filho Damião, e assine.
Ah meus amigos, nessa hora eu fiquei com os olhos cheios d’água. E não foi só eu não. Todas as pessoas que estavam assistindo aquela cena se comoveram com a humildade daquele rapaz. Querer apenas um autógrafo de um artista para presentear sua mamãe num dia tão especial. É nessas horas que a gente fica indignado ao pensar que num país tão rico tantas pessoas sofrem desse jeito, só por falta de vergonha dos homens públicos.
Todos ficaram esperando a minha atitude. E não poderia ser diferente. Estava evidente que eu iria dar de presente a mãe dele uma das fitas que eu estava acabando de gravar. Concluída a gravação a bandeja se abria automaticamente e liberava a fita copiada. Eu retirei a fita, coloquei sobre a cadeira do ônibus, peguei a caneta e fui autografar dedicando a D. Carminha Silva, com muito carinho... E lá estou eu escrevendo...
De repente eu ouvi alguns gritos e todas as pessoas correndo no rumo da barreira do rio. Devido ao cansaço e ao sono eu não estava entendo nada, fiquei assustado... E era mesmo difícil acreditar no que os meus olhos estavam vendo... No local onde estava o meu moderníssimo tape deck de última geração ficou só o buraco da tomada. O abençoado rapaz abraçou o aparelho com a fonte, com a caixa de embalagem, e desapareceu como um furacão ladeira abaixo.
Pense no movimento. No meio das pessoas que estavam esperando as cópias das fitas gravadas, tinha alguns bêbados: Ah, essa não... Eu quero a fita que eu encomendei... Não quero nem saber... Vamos pegar esse ladrão nem que seja no inferno...
Chamamos a polícia... Registramos a queixa... Resumindo: Ficamos até sete horas da manhã acompanhando os policiais, visitando a favela da beira do Rio Jaguaribe onde o rapaz se escondeu... Tudo em vão. Em vez do simples autógrafo D. Carminha ganhou foi o meu tape deck e a fita com a gravação original do show. Esso é: se Damião não vendeu o roubo antes de chegar em casa.
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