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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 13 de junho de 2011

COISA DO DIVINO - Por Mundim do Vale.

Valeriano que não batia bem da bola, vivia em Várzea Alegre, todo tempo assustado. Ele se dizia perseguido pelo bando de Lampião e foi não foi, tava ele pulando, se entrincheirando, rolando pelo chão, apontado o dedo indicador e fazendo um pá,pá,pá com a boca para se defender do bando. Tirando dessas vinte e quatro horas de loucura por dia, era um excelente trabalhador da roça.

Teve um ano que Valeriano pediu a Bizim uma tarefa de terra no Buenos Aires para plantar de meia. Roçou, fez cerca, e plantou: Milho, feijão, jerimum, melancia e algodão. Fez tudo que faz um bom roceiro.

Como foi um ano bom de inverno a roça prosperou, só que os jerimuns e as melancias os cabras da Caiana furtaram. O milho e o feijão ele colheu no tempo certo e dividiu com Bizim. Ficou na roça apenas o algodão já todo com bilotos.

No final de julho o algodão abril que a roça mais parecia um prato de coalhada. Mas Deus dá com as mãos e o diabo tira com os pés. Numa noite lá, que já não era mais nem tempo de inverno, deu umas trovoadas , com raios e relâmpagos e um raio escolheu entre mais de trezenas tarefas de algodão, logo o de Valeriano. Quando amanheceu o dia aquela roça que antes parecia um véu de noiva, tava parecendo mais um fundo de um taxo.

Chegaram os curiosos começaram a comentar com tristeza e um deles mandou chamar Valeriano na rua do Capim. Quando Valeriano chegou que viu a roça toda queimada, sentou-se num tronco de aroeira que tinha sido poupado pelo raio baixou a cabeça sobre os joelhos e começou a falar indignado:

- Mais Cuma é qui pode? Eu prantei essa roça cum todo coidado, tive tanto trabái, quando acabar acuntece uma disgraça dessa. Premêro foi os cão da Caiana qui robaro os girmum e as melancia. E agora vei essse condenado e atiou fogo no meu algodão, qui eu já ia cumeçar a catar amenhã. Mais tombém tem uma coisa, se eu pegar esse infiliz eu faço ele ingulir essa terra misturada cum a cinza. Basta eu saber quem foi o safado qui fez isso.

Fático Fiusa que estava presente, notando que Valeriano não tinha a menor condição de entender os fenômenos da natureza, tentou explicar:

- Tenha calma Valeriano! Isso só pode ter sido coisa do Divino.

Valeriano levantou a cabeça, abril os olhos e interrompeu Fático dizendo:

- Apois onton-se, vá dizer a Divino de Quilicero qui eu vou me vingar dele viu? Eu vou amarrar um ispeto na ponta duma taboca bem cumprida e ficar de tucáia ali no corredor das Melosa. Aí quando ele for passando eu dou uma futucada e adispois eu corro pra sisconder na casa de Leó lá no Riacho do Mei.


Reprisado para os novos do Blog.

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