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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 20 de setembro de 2011

COISAS QUE NÃO TEM RETORNO - Por Mundim do Vale.

Se minha mente podesse
Preparar uma projeção,
Talvez eu hoje fizesse
Para nova geração,
Um documento filmado
Com os valores do passado
Que hoje não se vê mais.
Solidez nos casamentos,
Respeito aos dez mandamentos
E a disciplina dos pais.

Tempo que a gente pedia
Bênção ao Sr. Vigário,
Que em toda casa se via
O sagrado Santuário.
O cristão se confessava,
Em seguida comungava
Pra receber o perdão.
Quando a graça era atendida,
A promessa era cumprida
No dia da procissão.

Uma festa de reisado
Um terço de penitente,
Tudo é coisa do passado
Não se vê mais no presente.
Festa de maneiro pau,
E a banda cabaçal
Já estão com a vela na mão.
Seguindo na mesma trilha,
Estão as nossas quadrilhas
E as debulhas de feijão.

Carnaval só exestia
Uma vez em cada ano,
Tempo que ainda se ouvia
Um frevo pernambucano.
Onde o som de Zé Pereira,
Máscara negra e jardineira
Arrastava a multidão.
Nesse tempo o cloretil
Era usado no Brasil
Não tinha Proibição.

Tinha Judas enforcado
No sábado de alelúia,
Um galo velho enterrado
Coberto com uma cúia.
A família jejuando,
Os fiéis representando
A paixão de Jesus Cristo.
Um pau de sebo na praça,
Um preto fazendo graça
Quase não se vê mais isto.

Hoje em dia os namorados
Não falam mais em noivar,
Vivem só nos agarrados
Só pensam mesmo em ficar.
E nesse fica, ficou,
A namorada ganhou
Um bebê do namorado.
Mais um do nosso Brasil,
Que tem registro civil
Com o pai ignorado.

Café torrado no caco
Faz tempo que já se foi,
Quem também já anda fraco
É o nosso bumba-meu-boi.
A brilhantina Glostora,
Essa também foi embora
Nunca mais pisou aquí.
Eu ví na televisão,
Que a indústria de carvão
Tá acabando o piquí.

O enganador disse: - Eu fico!
Para manter meu valor,
Tão me chamando de bico
Mas eu sou enganador.
Não se vê mais cristaleiras,
E os pinguim de geladeiras
Fugiram pro Polo Norte.
Vitrola ninguém mais vil
E os discos de vinil
Estã bem perto da morte.

Uma espreguiçadeira
Com uma velha cochilando,
Um banco de aroeira
Com as moças fuxicando,
Fiscal da febre amarela,
Ferro a brasa na janela
Colchão de junco com pau.
Goma arábica na gaveta,
E um playboy numa lambreta
Fumando continental.

O natal não sei porque
Não tem do jeito que tinha,
Hoje a gente pouco vê
Numa casa uma lapinha.
Onde anda a união,
A confraternização
Que exestia entre o povo?
Será se vai precisar,
Jesus Cristo retornar
Pra fazer tudo de novo?

Mulher dizer ao esposo
De onde vem, pra onde vai,
Filho dizer orgulhoso
Bêrção mãe, bênção papai.
Moça vestida de chita,
Ingênua, porém bonita
Sem precisar de adorno.
Digo com toda razão,
Os nossos valores são
COISA QUE NÃO TEM RETORNO.

Dedicado a Luís Lisboa, Antônio Morais e as Flores lá de nós.

5 comentários:

  1. Parabéns Mundim, mais um belo trabalho! De tão bom não há o que se comentar, apenas admirar. Abraços!

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  2. Meu querido amigo, belíssimo trabalho e como também sou de lá de nós...
    Obrigadaaaaaaaaaaaaaa!

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  3. Primo Mundim do Vale.

    Só agora abrir nosso Blog e vi esta maravilha de poesia. Constantemente rebusco o tempo e, na passagem por ele sinto a ausência e saudade de tudo o que você relata nos seus belos versos.

    Os exemplos, os costumes, as tradições estão sendo deixadas de lado em nome de uma civilização cruel, sem sentimentos e sem amor.

    Obrigado pelo presente. Sua dedicação me deixa muito feliz e orgulhoso.

    Antonio Morais.

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  4. Muito bom meu amigo, registro poético de costumes de uma época muito especial. Genial.

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  5. Obrigado primo Mudim
    Pela parte dedicada
    Sei que não cabe só a mim
    Estas coisas passadas

    É presene pra quem gosta
    Esta prosa consagrada
    Mas tem gente que aposta
    Na coisa informatisada

    Prefere a FM
    Por favor não me condene
    Se adorava a voz da paróquia

    Nunca dei valor à fama
    Sou mais umas roletas de cana
    E um saco de pipoca.

    Mundim:
    ABRAÇÂO de LÁ.

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