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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 11 de outubro de 2011

Doutor Lula – por Ricardo Vélez Rodrígues (*)

Lula, como Brizola, é um grande comunicador. Mas, como Brizola também, é um grande populista.
A característica fundamental desse tipo de líder é, como escreve o professor Pierre-André Taguieff (A Ilusão Populista - Ensaio sobre as Demagogias da era Democrática, Paris, Flammarion, 2002), que se trata de um demagogo cínico. Demagogo - no sentido aristotélico do termo - porque chefia uma versão de democracia deformada, aquela em que as massas seguem o líder em razão de seu carisma, em que pese o fato de essa liderança conduzir o povo à sua destruição.

O cinismo do líder populista já fica por conta da duplicidade que ele vive, entre uma promessa de esperança (e como Lula sabe fazer isso: "Os jovens devem ter esperança porque são o futuro da Nação", "o pré-sal é a salvação do brasileiro", e por aí vai), de um lado, e, de outro, a nua e crua realidade que ele ajudou a construir, ou melhor, a desconstruir, com a falência das instituições que garantiriam a esse povo chegar lá, à utopia prometida...

Lula acelerou o processo de desconstrução das instituições que balizam o Estado brasileiro. Desconstruiu acintosamente a representação, mediante a deslavada compra sistemática de votos, alegando ulteriormente que se tratava de mais uma prática de "caixa 2" exercida por todos os partidos (seguindo, nessa alegação, "parecer" do jurista Márcio Thomas Bastos) e proclamando, em alto e bom som, que o "mensalão nunca existiu". Sob a sua influência, acelerou-se o processo de subserviência do Judiciário aos ditames do Executivo (fator que nos ciclos autoritários da História republicana se acirrou, mas que sob o PT voltou a ter uma periclitante revivescência, haja vista a dificuldade que a Suprema Corte brasileira tem para julgar os responsáveis pelo mensalão ou a censura odiosa que pesa sobre importante jornal há mais de dois anos, para salvar um membro de conhecido clã favorável ao ex-mandatário petista).

Lula desconstruiu, de forma sistemática, a tradição de seriedade da diplomacia brasileira, aliando-se a tudo quanto é ditador e patife pelo mundo afora, com a finalidade de mostrar novidades nessa empreitada, brandindo a consigna de um "Brasil grande" que é independente dos odiados norte-americanos, mas, certamente, está nos causando mais prejuízos do que benefícios no complicado xadrez global: o País não conseguiu emplacar, com essa maluca diplomacia de palanque, nem a direção da Unesco, nem a presidência da Organização Mundial do Comércio (OMC), nem a entrada permanente do Brasil no Conselho de Segurança da ONU.

Lula, com a desfaçatez em que é mestre, conseguiu derrubar a Lei de Responsabilidade Fiscal, abrindo as torneiras do Orçamento da União para municípios governados por aliados que não fizeram o dever de casa, fenômeno que se repete no governo Dilma. De outro lado, isentou da vigilância dos órgãos competentes (Tribunal de Contas da União, notadamente) as organizações sindicais, que passaram a chafurdar nas águas do Orçamento sem fiscalização de ninguém. Esse mesmo "liberou geral" valeu também para os ditos "movimentos sociais" (MST e quejandos), que receberam luz verde para continuar pleiteando de forma truculenta mais recursos da Nação para suas finalidades políticas de clã. Os desmandos do seu governo foram, para o ex-líder sindical, invenções da imprensa marrom a serviço dos poderosos.

A política social do programa Bolsa-Família converteu-se numa faca de dois gumes, que, se bem distribuiu renda entre os mais pobres, levou à dependência do favor estatal milhões de brasileiros, que largaram os seus empregos para ganhar os benefícios concedidos sem contrapartida nem fiscalização. Enquanto ocorria isso, o Fisco, sob o consulado lulista, tornou-se mais rigoroso com os produtores de riqueza, os empresários. "Nunca antes na História deste país" se tributou tanto como sob os mandatos petistas, impedindo, assim, que a livre-iniciativa fizesse crescer o mercado de trabalho em bases firmes, não inflacionárias.

Isso sem falar nas trapalhadas educacionais, com universidades abertas do norte ao sul do País, sem provisão de mestres e sem contar com os recursos suficientes para funcionarem. Nem lembrar as inépcias do Inep, que frustraram milhões de jovens em concursos vestibulares que não funcionaram a contento. Nem trazer à tona as desgraças da saúde, com uma administração estupidamente centralizada em Brasília, que ignora o que se passa nos municípios onde os cidadãos morrem na fila do SUS.

Diante de tudo isso, e levando em consideração que o Brasil cresceu na última década menos que seus vizinhos latino-americanos, o título de doutor honoris causa concedido a Lula, recentemente, pela prestigiosa casa de estudos Sciences Po, em Paris, é ou uma boa piada ou fruto de tremenda ignorância do que se passa no nosso país. Os doutores franceses deveriam olhar para a nossa inflação crescente, para a corrupção desenfreada, fruto da era lulista, para o desmonte das instituições republicanas promovido pelo líder carismático e para as nuvens que, ameaçadoras, se desenham no horizonte de um agravamento da crise financeira mundial, que certamente nos encontrará com menos recursos do que outrora. Ao que tudo indica, os docentes da Sciences Po ficaram encantados com essa flor de "la pensée sauvage", o filho de dona Lindu que conseguiu fazer tamanho estrago sem perder a pose. Sempre o mito do "bon sauvage" a encantar os franceses!

O líder prestigiado pelo centro de estudos falou, no final do seu discurso, uma verdade: a homenagem ele entendia ter sido feita ao povo brasileiro - que paga agora, com acréscimos, a conta da festança demagógica de Lula e enfrenta com minguada esperança a luta de cada dia.

(*)Ricardo Vélez Rodrígues, coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas da Universidade Federal de Juiz de Fora.
e-mail: rive2011@gmail.com
(Transcrito de  “ O Estado de S.Paulo”)

6 comentários:

  1. Muita coisa melhorou em nosso país. Os índices que prevalecem hoje são muito melhores do que aqueles que se destacavam antes do primeiro governo do Lula. Claro que muito ainda precisa ser feito, mudar, melhorar. Os EUA, a China, o Japão, a Alemanha, o Reino Unido, ... , todos esses países possuem também as suas mazelas, sejam no campo econômico, social, bélico, religioso, etc. A diferença encontra-se no grau em que os problemas inserem-se. Portanto, entre os maiores problemas que assolam ainda o Brasil, destacam-se com grande relevância a DESIGUALDADE SOCIAL (concentração de renda) e a CORRUPÇÃO. Isso também existe nos países citados anteriormente. A diferença está no grau de inserção. Vamos fazer a nossa parte, cobrando de quem foi incubido de mudar os rumos de nossas cidades, de nossos estados, do nosso país. Denunciando, sempre que possível e seguro - na maioria das vezes não é e nos coloca em situação de risco - as falcatruas, em menor ou maior grau. VAMOS MUDAR, SEM FICAR SOMENTE NO ÂMBITO DAS RECLAMAÇÕES. Vamos dar a nossa contribuição no sentido de aperfeiçoar os mecanismos que fizeram de nosso país a Oitava economia do mundo. E, mesmo se um dia chegarmos à primeira posição entre as economias do planeta, ainda assim RESTARÁ MUITO O QUE FAZER.
    Francisco do Horizonte. 11/11/2011 - RJ.

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  2. Sargento Horizonte:

    Corrupção existe em todo canto. A diferença é que nos "EUA, a China, o Japão, a Alemanha, o Reino Unido" (citados pelo Sr.), quem rouba vai para a cadeia.

    Aqui não!

    Dos ministros defenestrados recentemente por dona Dilma por corrupção, alguém foi preso?

    E, anteriormente, os que caíram por denúncias da imprensa - no governo do Doutor Lula - Zé Dirceu, Erenice Guerra, Pallocci,dentre outos, alguém foi preso?

    Concordo, no entanto, com uma sua opinião, abaixo transcrita:

    "Vamos fazer a nossa parte, cobrando de quem foi incubido de mudar os rumos de nossas cidades, de nossos estados, do nosso país".

    É o que estamos fazendo...

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  3. Armando, o senhor é um doente, um mentecapto. Se a europa, teve depois do pós-guerra seu welfaire state, como forma de sair da crise, nós brasileiros, assim, como: argentinos e paraguaios, temos o nosso, no bolsa família e outros projetos sociais de assistência e inclusão, é claro, que com as nossas idiosincrasias.Atitudes como essa,de um governo, não é um populismo como o senhor já se referiu tantas vezes; essa é uma obrigação do estado providêcia, ou seja, é uma tentativa de se fazer cumprir os direitos humanos e sociais de um grande número de pessoas que não encontraram mais espaços numa sociedade muito competitiva e complexa. O mundo pós-moderno, não deve admitir, o descalabro da fome e miséria como a história nos mostra em seus registros, o nosso grande desafio, é à Africa.

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  4. Sr. Washington Luiz de Sousa:

    Não vou entrar no seu jogo de baixarias ( tipo que o Senhor escreveu literalmente: “ você um doente, um mentecapto”. O que vem debaixo não me atinge!

    O estilo é o homem.
    E a serenidade é a maior prova de quem tem razão num diálogo/discussão.

    Eu defendo minhas ideias com argumentos, não com agressões.
    Mas, para encerrar o assunto, já que o Senhor defende ideias e valores que não são os meus:

    Não concordo com uma ÚNICA palavra que o Senhor escreveu. Mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las.
    Passar bem e até sempre!

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  5. MESMO DEPOIS DE 8 ANOS DE PRESIDÊNCIA LULA NÃO CONSEGUIU: 1º) DEIXAR DE BEBER, 2º) DEIXAR DE FUMAR E 3º) DEIXAR DE SER GABOLA DE MENTIROSO.

    O SEGREDO DO SUCESSO POLÍTICO DE LULA É QUE O POVO BRASILEIRO SE COMOVE FACILMENTE COM DRAMAS DE PESSOAS POBRES, CARENTES, ANALFABETAS, DESNUTRIDAS, FAMINTAS, SOFRIDAS ETC. QUER DIZER: LULA É O PRÓPRIO DRAMA. A RAZÃO É SIMPLESMENTE ESSA.

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  6. Armando Rafael

    O comentário do Washington está corretíssimo. Eu só não lhe chamaria de mentecapto, embora goste de sua fonética, pois para muitos soaria como um elogio: Você é um mentecapto! Obrigado diz o outro feliz por ter sido contemplado com tão bonita palavra. O Lula. Te chamar disso e daquilo não mudará em nada sua posição em relação ao Lula. Armando, mesmo que o Lula nada tivesse feito, só em comprovar que ainda existe muitos brasileiros com sentimento de europeu, já teria nos dado uma grande contribuição. Os argumentos contra o Lula retira de quem os faz até seu suposto conhecimento. Vejo pessoas que a meu ver são inteligentes, mas ao se referirem ao Lula as críticas são sempre pessoais e nunca sobre seus atos administrativos. Como Disse aqui o João Dino que o Lula só não havia conseguido deixar de beber de fumar e de ser gabola. Beber e fumar é um problema, que se houver algum mal, o principal prejudicado é ele mesmo. Quanto ao fato de ele ser gabola qual é o político que não adora falar dos seus feitos? Alguns como o intelectual de araque se arroga até o direto de dizer que fora ele quem criou o Plano Real, quando na verdade ele foi criado no governo do Itamar Franco por um grupo de vários economistas, ele foi apenas mais um.
    Vamos tentar fazer críticas políticas e não pessoais, é mais salutar.

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