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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

ROTINA HORÁRIA DE V. ALEGRE NUMA TERÇA FEIRA QUAQUER DO ANO DE 1954 - Por Mundim do Vale.



04:00 Horas:
Encontro de Zé Peru e Pedro Tonheiro no café de Mariinha, para atualizar os fatos do dia anterior.

05:00 Horas:
Passava João do Leite balançando um chocalho para atrair a clientela.

06:00 Horas:
A meninada ia para a padaria para comprar o pão nosso de cada dia e na volta assitiam a partida do misto para o Crato.

07:00 Horas:
Passava Zé Belo com dois pesos de carne de gado, pendurado numa palha de carnaúba. Um era para o Padre Otávio e o outro para o Sr. Josué Diniz.
Nesse mesmo horário abria o comércio, com muitos vendedores e nenhum freguês. Os alunos do Grupo Escolar José Correia Lima desciam no beco de Gobira e encontravam o preto benedito, com uma lata para recolher lixo nos quintais das casas. Gritavam em coro:
- Benedito sai da lata!
Benedito respondia:
- Eu já tou no pote!

08:00 Horas:
Pasava Antônia dos filhóis vendendo seu produto a cinquenta mil réis.

09:00 Horas:
Passava Soarim com um pau de galinhas, mas só vendia fiado a meu pai e ao português Sr. Ferreira.

10:00 Horas:
Esse horário era escolhido por Sá Maria para desfilar nas calçadas da Major Joaquim Alves, conduzindo uma trouxa de pedras dizendo que uma delas era a pedra de clarianã. Todo dia um vendedor de uma loja de tecidos pegava o metro e futucava a trouxa. Em resposta ela dizia:
- Sai bicho! Tu pensa que eu não sei quem é teu Pai? Ele tem chifre até nos pés que nem galo.

11:00 Horas:
A cidade ficava vazia porque todo mundo almoçava naquele horário.

12:00 Horas:
Encontro dos empregados do comércio debaixo do pé de algodão da avenida velha.

13:00 Horas:
Abria o comércio na mesma situação anterior, muitos empregados e poucos fregueses.

14,00 Horas:
Passava Santana vendendo o alfinim a dois tostões o enroladinho.

15:00 Horas:
Passava Dunga vendendo pão doce.

16:00 Horas:
Acontecia o treino de futebol no campo dos Patos.
17:00 Horas;
Feixava o comércio a cidade ficava vazia novamente porque era hora do jantar.

18:00 Horas:
A meninada assitia a chegada do misto do Crato.

19:00 Horas:
Os rapazes e as moças iam para a avenida velha ou para a porta do cinema de Leó, para flertarem.

20;00 Horas:
Todas as crianças eram recolhidas para rezarem e dormirem.

21:00 Horas:
Hora de recolher as cadeiras da calçadas, e colocar a chave debaixo da porta para os que chegavam depois poderem entrar sem acordar ninguém.

22;00 Horas:
Zé Saldanha apagava as luzes três vezes durante quinze minutos para que todos podessem chegar as suas casas com iluminação.Depois desse horário se não tivesse um samba ou uma sentinela, só quem ficava na rua era o guarda noturno, Jesus fotógrafo e João Tonheiro.

Várzea Alegre dormia nos braços da paz, agradecendo a São Raimundo por aquela tranquilidade.
E São Raimundo lá da sua torre dizia:

BOA NOITE, VÁRZEA ALEGRE!


Dedicado a todos aqueles com mais de sessenta anos.

12 comentários:

  1. Eita que Mundim do Vale parece que foi criado com Leite do Padre, viu Morais ?

    Abração!

    Dihelson Mendonça

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  2. é tá aí um dia na nossa cidade, adorei, eu já pensei em fazer do período de minha infância, mas como eu já tinha visto esse de raimundinho desisti abraços

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  3. Ei, Mundim...

    Òtimo relato do tempo...


    Abraço de fulô...

    Claude - Flor da Serra Verde

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  4. Bela visita ao passado,Mundim...

    E você lembra do quanto era gostosa a lagoa no tempo em que Pedro Orelha abastecia o mercado com peixes e carne suína?

    Quando Vicente Cesario com sua espingarda metia bala no judas que era pendurado na praça, perto da barbearia?

    Eu era criança nessa época...

    Como dizia o Lilico: tempo bom, não volta mais...

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  5. Belíssimo o relato do cotidiano daquela época. conheci ainda vários personagens dessa crônica.
    Parabéns, Mundim!

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  6. Mundim, querido, eu ainda não tenho sessenta, mas, estou quase lá, rsrsrs; mais me lembro com muita saudade de quase todos esses personagens. Amei! viu bichinho?????? Deus ilumine essa tua cabecinha maravilhosa! Abraço carinhoso e fraterno. Fatima.

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  7. Mundim obigado pela dedicatória,
    com esta crônica vc fez lembrar que tenho mais de oitenta....

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  8. Eita RAIMUNDIM, quantas recordações...!!! valiosas lembranças...!!! notáveis personagens...
    Gostaria de acrescentar, mas a hora vai ficar por sua conta:
    -Chamada da missa a ser celebrada pelo saudoso PE. OTAVIO (sei que era muito cedo)
    -Apito da usina DINIZ anunciando o despertar do novo dia de trabalho.
    -Pessoas empurrando jumentos nas ruas,cedo do dia, com latas de água pra abastecer as residencias.
    Eram tantas rotinas...tantas emoções!!! Quanta saudade da nossa VÁRZEA ALEGRE, antiga...
    PARABÉNS, CARO AMIGO, por , sempre, estar relatando, rememorando nosa história, nossa GENTE, que não podem jamais cair no esquecimento.
    Grande abraço...
    ISABEL VIEIRA.
    -

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