GRITAR PALHAÇO
O espetáculo circense marcou a apoteose de um tempo mágico. Bailarinos, trapezistas, malabaristas, ciclistas, atores e palhaços compunham um cenário que configurou o imaginário puro e singelo de um povo. A expectativa naquele grande teatro acionava os milhões de neurônios, em sinapses sucessivas, de nossas mentes.
Circo. Arena circular feita de mastros e panos. De alegria e solidão. De risos e sofrimentos. Um gargalhar extraído do povo por um povo nômade, simples e solitário. Uma felicidade postiça, porém honesta. A mais autêntica representatividade do nosso teatro, do nosso entretenimento, do nosso sonho.
Quando os caminhões se aproximavam, com jaulas trazendo animais exóticos: grandes macacos e leões, e da nossa fauna habitual: cães e cavalos, os nossos corações saltitavam de tanta alegria. Na frente do cortejo, o carro de som, que conduzia palhaços e bailarinos, dava a cor do momento. Mostrava um colorido feito de sonho e realidade.
No final da tarde, enquanto os pais esperavam os filhos para o jantar, esses estavam se preparando para serem coadjuvantes do grande espetáculo da vida. O sonho de gritar palhaço era um misto de liberdade, de esperteza e de coragem. Num determinado momento, conseguíamos ser atores, pois participávamos ativamente da representação teatral; independentes, pois trabalhávamos pelo ingresso gratuito no circo; e heróis, porque enfrentávamos, corajosamente, os nossos pais, pois a execução dessa tarefa era proibida, antecipadamente, por eles.
-Hoje tem espetáculo? – Tem sim senhor!
-Às oito horas da noite? – É, si senhor!
- Ô Benedito, bacurau... - Ta no oco do pau!
- Eu vou ali e volto já... - Vou comer maracujá!
- Arrocha! Negrada. – Uh!Uh!Uh!Uh!...
Terminada a maratona, cansados, suados e exaustos, íamos até o interior do circo para recebermos o nosso tão esperado e merecido troféu. Uma marca de tinta a óleo, desenhada na face anterior do antebraço, em forma de X, que garantia o nosso feito heróico e a entrada franca no espetáculo noturno. Porém, pequena minoria daquele grupo sabia que era por pouco tempo aquele inesquecível momento de fama. Que a realidade do sonho não lhe permitiria um final feliz e que, em curtíssimo tempo, viria a já repetitiva e esperada tripla punição.
A primeira era concretizada com a tentativa de entrar em casa sem ser visto, situação que jamais fora possível, pois o pai, agilmente, sempre estava muito bem posicionado para a tradicional sova. A segunda, pior que a surra, era realizada pela figura materna. Um banho com sabão e bucha vegetal. A terceira, pior de todas, mostrava-se com a constatação que a marca no braço havia sumido, e que a concretização do sonho só seria tentada outra vez, com a vinda de um novo circo. Sabe Deus, quando!
Parabens Dr. Savio
ResponderExcluirEra assim mesmo. Todo o esforço perdido.
Mas o pai moralista e disciplinador terminava dando o dinheiro da entrada e agente ia a diversão com a alegria dos palhaços. Bons tempos.
E O PALHAÇO O QUE? É LADRÃO DE MULHER!
ResponderExcluirEU NÃO PERDIA UMA MATINÊ. SAUDADES,MUITAS,SAUDADES.
Dr. Sávio Pinheiro
ResponderExcluirUsei muito esse expediente... No Icó havia uma extensa área denominada Vargem do colégio era ali que montavam os circos e a diversão era dar voltas em torno dele. Depois de cansar de rodar pela praça principal em frente a cadeia, hoje tombada pelo patrimônio Histórico nacional, íamos ao circo, não para entrar porque não tínhamos dinheiro, mas para ver o movimento. Havia outra maneira de entrar só que essa era mais arriscada que enfrentar o leão do circo, que era driblar a segurança e entrar pelo arame! Essas travessuras de crianças eu me lembro e sinto saudade...
Dr Savio,morava em Farias Brito e participei tambem dessa aventura.O pior é que as pessoas achavam que aquilo era coisa de gente sem futuro,ou seja gritar palhaço ficava para as pessoas mais pobres da cidade.O meu querido pai era bem de vida, como diziam na época,e não ficava bem eu participar.O bom mesmo era a sensação de liberdade que sentia rua acima e e rua abaixo respondendo.quanta ingenuidade, quanta inocençia.Oh tempo bom saudade.
ResponderExcluirDr Savio,morava em Farias Brito e participei tambem dessa aventura.O pior é que as pessoas achavam que aquilo era coisa de gente sem futuro,ou seja gritar palhaço ficava para as pessoas mais pobres da cidade.O meu querido pai era bem de vida, como diziam na época,e não ficava bem eu participar.O bom mesmo era a sensação de liberdade que sentia rua acima e e rua abaixo respondendo.quanta ingenuidade, quanta inocençia.Oh tempo bom saudade.
ResponderExcluirZé Sávio, quando eu crescer, quero ser igual a você.
ResponderExcluirQue forma genial como você escreve e descreve os fatos, fico encantada com o uso que faz das palavras. Mais um belo texto! Sou sua fã.....
Desci muito a ladeira da rua do Juazeiro gritando atrás do palhaço e me escondendo prá pai não me ver...kkkkkkkkkkkkkk Se ele visse, era uma piza na certa .......kkkkk
Saudades.......