TESTAMENTO DO JUDAS DO SANHAROL
Reprisado a pedido de um herdeiro.
Seu doutor tabelião
Eu quero nesse momento,
Pedir a sua atenção
Pra fazer meu testamento.
Pra meu sobrinho Morais
Que cuida bem de valor,
Eu deixo os trinta reais
Que vendi Nosso Senhor.
Para Cláudio eu vou deixar
Mil latas de leite ninho,
Que é pra ele alimentar
O meu netinho Joãozinho.
Não nego nada a herdeiro
Minha herança tá exposta,
Vou deixar meu tabaqueiro
Nas mãos de Giovâni Costa.
A forca é o meu destino
É essa a realidade,
Mas contrato Neto Aquino
Para contabilidade.
O Augusto vai ficar
Com a casa do Inharé,
Um bom lugar pra morar
Sem dar trabalho a Mazé.
O que mais tenho cuidado
É com o maneiro pau,
Quero que fique guardado
Com o mano Pedro Piau.
Pra Moacir vou deixar
Uma touceira de cana,
Para ele se lembrar
Do avô José de Ana.
Meu livro de poesia
Que eu ganhei de Bidim,
Guardei até hoje em dia
Pra deixar com o Mundim.
Meu violão afinado
Pra mim é a melhor coisa,
Quero que fique guardado
Com Sheila e Fernado Souza.
A minha bíblia sagrada
Vai ficar com Manoel,
E o cachorro de caçada
Com Patrícia e Samoel.
Dakson Aquino não, quer não
Por ser ele boa gente,
Mas pra sua coleção
Deixo um tonel de aguardente.
Testamento é complicado
Mas eu faço mesmo assim,
Deixo o rifle carregado
Pros meninos de Padim.
O que mais levo saudade
É da vazante e a lagoa,
Mas vai ficar na verdade
Com o primo Luís Lisboa.
Meu cachimbo de fumar
É meu maior patrimônio,
Eu só confio deixar
Com meu neto Chico Antônio.
As coisas andam de Ré
Quem fala assim não é gago,
Vou deixar o Gravié
Pra Vicente Santiago.
João Pedro meu secretário
Vai ficar com a tarefa,
De conservar o rosário
Que foi de Madrinha Zefa.
Para Nicolau Sabino
Vou deixar de coração,
A calça boca de Sino
O anel e o medalhão.
Buzuga eu deixo de graça
A bodega que eu gostei,
Pra ele vender cachaça
A João Sem Braço e Micrey.
Vou deixar no Sanharol
A minha boa piscina,
Para nos dias de sol
Artur brincar com Marina.
A minha vaca malhada
Era a melhor que eu tinha,
Mas já ficou separada
Para o Doutor Feitosinha.
Ali perto de Iremar
Eu tenho um grande terreno,
Mas já mandei registrar
Para Zé Bitu Moreno.
Eu comprei por aventura
Uma casa na Taíba,
Mas passei a escritura
Para Pinga e Tuíba.
Toda herança traz intriga
Tem sempre um é, mais não é,
Meu velho galo de briga
Fica pra Raimundo André.
Magnólia vai herdar
Meu roçado de feijão,
Pra todo dia almoçar
Aquele feijão com pão.
Doutor Sávio é de outro lado
Perto do sítio Traíras,
Mas não fica deserdado
Ganha a sexta das mentiras.
Meu Jesus peço perdão
Por meu erro cometido,
Pois eu estava perdido
No momento da traição.
Eu sei que botei a mão
Naqueles sujos dinheiros
E aqueles trinta cruzeiros
Foram a causa do pecado.
Mas eu peço ajoelhado,
Proteja esses meus herdeiros.
Mundim do Sanharol.
Agradeço em nome do Sanharol todo.
ResponderExcluirParabenizo pelos versos bem ritmados e pelo inventario. De tão bem feito entendo que nenhum do lugar ficou com queixa. Cada um recebeu o seu quinhão.
Grande abraço e uma semana senta feliz para você e os seus.