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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 31 de julho de 2013

DO TEMPO DO BUMBA - Por Mundim do Vale.

O  FINADO  ERA  MAIOR.

Nosso conterrâneo Vicente Nogueira, tinha uma certa simpatia por políticos, nunca foi candidato a nada mas sempre procurava estar perto das autoridades políticas.
Num ano de boa safra de arroz em Várzea Alegre-Ceará, a prefeitura municipal preparava a festa do arroz. O convidado especial era o deputado Joaquim de Figueredo Correia, que trazia outras autoridades estaduais.
Vicente Nogueira comprou um corte de riscado na loja de Edvard Moreno e levou até a alfaiataria de Mestre Vicente Salviano para fazer um paletó. Tirou as medidas e ficou de voltar depois para a prova final.
Faltando seis dias para o evento, foi a alfaiataria para fazer a prova. Vestiu o paletó ainda alinhavado e já queria levar.
Mestre Vicente perguntou se ele queria fazer alguma modificação e ele respondeu:
- Não. Vicente. Aqui já tá no jeito. Eu só quero qui você mintregue un dia antes da festa, pruque esse palitó eu vu vistir no dia da festa do arroz qui é prumode eu cunversar cum meu amigo Juaquim Correia.
Vicente Salviano notando a ingenuidade de Vicente falou:
- Mas Vicente. é uma extravagância, você fazer uma despeza desta. Figueredo vai vir acompanhado de várias autoridades e não vai poder lhe dar atenção.
- Ele vai. Qui foi eu qui insinei a ele andar de cavalo, quando ele era minino lá no Oi Dágua. E teve uma vez qui ele foi lá im casa cum Vicente Onoro e tumou café mais eu.
- Mas Vicente. Agora é diferente, você não vai conseguir chegar nem perto e ele nem vai mais lhe conhecer.
- Ora num vai. Eu vou le amostrar cuma ele vai.
Na véspera da festa Vicente pegou o paletó e no outro dia veio com a esposa.
Quando o casal chegou na rua Major Joaquim Alves, já encontrou a rua enfeitada de faixas e bandeirolas. Figueredo estava no interior da casa de Zezim Costa e na rua tinha mais de seis mil pessoas. Na grade da casa tinha três soldados, para que só entrassem os convidados.
O casal ficou na calçada da casa de Valdeliz, que foi o local que o casal achou pra ficar mais perto.
Uma hora lá Figueredo veio até a área para entregar um envelope a uma pessoa e Vicente ficou na ponta dos pés, balançando os dois braços e gritando:
- Juaquim! Juaquim! Juaquim!
Figueredo retornou para o interior da casa e não voltou mais. Depois de mais de uma hora, a mulher de Vicente já bastante cansada falou:
- Vicente. Ramo simbora qui esse ome num vem falar cum tu não.
Vicente já bastante convencido disse:
- Vem mermo não. Ele tá muito acupado.
- Apois ramo.
- Ramo.
Dizendo aquilo, Vicente pegou a rua na direção da praça dos motoristas.
A mulher extranhando falou:
- Ôxente. Vicente! Pra donde tu vai ome? Nóis num ramo né pru São Corme?
- É. Mais é pruque antes de nóis ir eu priciso falar cum meste Vicente.
- E tu num pagou o palitó não?
- Paguei. Mais é pruque eu quero me vingar duma praga qui ele jogou im neu.
Chegou na alfaiataria com o paletó ensopado de suor e ficou se abanando, quando Mestre Vicente perguntou:
- Como foi lá Vicente? Falou com Figueredo?
- Falei. Mais foi Cuma você dixe. Tinha mei mundo de gente na calçada e tinha tombém três sodado na grade, pra num deixar ninguém entrar. Mais Juaquim saiu na aria e quando me viu mandou o motorista me chamar. Aí eu entrei e miassentei junto cum ele e os camarada dele. Mais teve uma coisa lá qui eu num gostei.
- E o que foi?
-  Foi pruque Palo de Dudu dixe uma pilera cum eu.
E o que foi que ele disse?
-Ele pensava qui eu num tava iscutando, aí dixe a Dr.  Daro: - Mais minino, esse palitó de Vicente Nogueira tá muito mal feito. O FINADO  ERA  MAIOR.

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