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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 29 de julho de 2013

Escarafunchando o tempo - Por Antonio Morais



Uma dedicação especial ao primo, poeta, escritor, memorialista e cordelista Raimundo Nonato Bezerra de Morais - foto.

Depois do primário no Educandário Santa Inês da professora Elisa Gomes Correia, em Dezembro de 1964 meu pai me levou a casa de Pedro Alves de Morais, nosso parente, amigo e estimado Pedro Piau.

Juntei-me a uma turma de 30 alunos que se preparava com a Professora Iraci Bezerra de Morais com o objetivo de ingressar no curso ginasial.

Não era tarefa fácil, havia um aproveitamento de 30 alunos numa única turma para o ano seguinte no ginásio.  Na chamada primeira época  foram aprovados 25 alunos, restando  cinco vagas para se completar a turma. Era sem dúvida um vestibular.

Iniciamos o curso na Propriá residência, e, ao mesmo tempo, Dona Iraci transmitia seus ensinamentos aos alunos, administrava a casa e cuidava de seus 11 filhos.

Ambiente com lhaneza no trato, afeto, carinho, ternura tornando-se impossível saber pra quem ela se dedicava mais, se aos alunos ou aos filhos.

Na véspera da primeira prova, a mais importante e difícil, ela nos ministrou um ditado, escolhendo um texto num volumoso livro que continha todas as matérias. Lembro-me bem o título do texto: O quarto de Dulce. 

No outro dia, quando chegamos no Ginásio São Raimundo para a prova de português estávamos tensos e nervosos. Fora da sala Dona Iraci nos olhava e transmitia força e confiança. 

Quando a professora Elita Otoni de Carvalho entrou na sala deu-se inicio a avaliação. O Silencio se confundia com o medo. Primeira questão: Ditado - O quarto de Dulce.

Do meu lugar vi  minha querida professora saltitar de alegria, pois no dia anterior fora aquele texto o escolhido no treinamento. Estava fresquinho em nossa memoria. Uma feliz coincidência.

Da porta da sala, ela continuava nos olhando com um sorriso puro e aquele jeitinho de santa. Tive o privilegio de ser aprovado, e, nos quatro anos seguintes fui colega de classe  de dois dos seus filhos: Ozanan e Geraldina.

Em 1969, fixei residencia em Crato e, um ano depois, 1970 Pedro Piau se transferiu para Fortaleza com a família. Perdemos um pouco os nossos contatos.

Em 1974 recebi, com grande pesar e tristeza a noticia do falecimento de Dona Iraci. Lembranças e saudades me levam de volta aqueles tempos, que vistos com o encantamentos dos olhos mais brilhantes de minha juventude marcaram a fase mais dourada de minha vida.


Lembro...E a minh'alma comovida

Nessa ideia risonha me consola

Os dias que vivi na tua escola

Nunca hei de esquecer, Mestria querida.

2 comentários:

  1. É verdade,Morais. A dedicação que aquela educadora tinha com os seus alunos, não era menor do a que ela tinha com os seus filhos. Tanto alunos como filhos, receberam dela grandes ensinamentos para o futuro.
    Ainda hoje é lembrada com saudades pelos seus filhos e ex alunos.

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  2. Prezado Mundim.

    Além de ex-aluno eu fui um acompanhante de minha avó Zefa de Pedro André a casa dos teus pais. Vi muitas vezes frente a frente Zefa e Iraci uma ditando e a outra escrevendo cartas a parentes e amigos.

    Tenho certeza absoluta que Deus as cobriu de graças e bênções.

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