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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 4 de julho de 2013

Não tem nada de mais - Por Carlos Alberto Sardenberg

Dez anos atrás, em uma estrada na Inglaterra, o consultor Chris Huhne excedeu-se um pouco na direção de seu BMW. Nem foi tanto assim: estava a 111 km/h, quando o limite era de 95 km/h. Mas a câmera flagrou e a multa chegou à casa de Huhne.

Nem era tanto dinheiro, mas os pontos fariam com que ele perdesse sua carteira de motorista. Como sua mulher, a economista Vicky Pryce, estava com pontuação baixa, pediu a ela que assumisse a culpa. Não custava nada, não é mesmo? Quanta gente não faz isso?

Vicky topou e a vida seguiu. Seguiu bem. Huhne tornou-se ministro do Meio Ambiente e Vicky, economista-chefe do governo de David Cameron. No pessoal, porém, as coisas se complicaram. Huhne se encantou com uma assessora de campanha e separou-se da mulher com quem estava havia 26 anos.


Chris Huhne, consultor. Foto: Getty Images

Acontece, não é mesmo? Vicky, porém, parece não ter se conformado. Não se sabe se por vingança ou por descuido, em 2011 contou em uma entrevista ao jornal “Sunday Times” aquele episódio da troca da multa.

Para encurtar a história: Huhne teve de renunciar ao cargo de ministro, foi processado por obstrução à Justiça e condenado, no início deste ano, a oito meses de prisão.

Ministros não podem se comportar desse modo, mesmo antes de serem ministros, tal foi a conclusão política e ética. Parece meio sem sentido, mas, lembrem-se: pelas regras de nosso Congresso, se o parlamentar cometeu um crime antes de ser parlamentar, não tem nada de mais, não é caso de quebra do decoro parlamentar.

Por isso mesmo, contamos esta história. No último sábado, o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, mandou chamar um jatinho da FAB para Natal e lá mandou embarcar, na sua companhia, a namorada, um cunhado, uma concunhada, um filho e dois enteados. Toca para o Rio de Janeiro, ordenou.

No Rio, a comitiva passeou e no domingo foi ao Maracanã ver o Brasil ser campeão. Todos embarcaram de volta à noite, incluindo-se na comitiva um amigo do cunhado.

Ontem, a “Folha de S.Paulo” contou a história. O deputado Henrique Eduardo Alves respondeu ainda de manhã. Disse que ele tinha serviço no Rio — um almoço com o prefeito Eduardo Paes e o senador Aécio Neves, no sábado —, por isso tinha direito ao jatinho. Mas disse que embarcar todo aquele pessoal foi um “equívoco” e que “por dever, imediatamente, o corrige”. Como? Vai pagar as passagens. Do próprio bolso!

Quer dizer que ele não sabia que não podia levar a turma no jatinho? E que só ficou sabendo depois que a história saiu na imprensa?

 

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