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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 16 de agosto de 2013

DO TEMPO DO BUMBA - Por Mundim do Vale.

SÃO  RAIMUNDO  PAGA!

21 de agosto de 1956. Dez dias de festas em Várzea Alegre-Ceará.
Naquela época a nossa cidade recebia os católicos da região, mas vinham das cidades maiores todo tipo de gente; Jogadores, prostitutas,  descuidistas e arrombadores. Eeram dez dias de cuidados porque eles sempre visitavam as residências e as casas comerciais.
Naquele ano veio do Juazeiro do Norte, um sujeito magro e pequeno que tinha o apelido de Cintura Fina. Isso porque onde entrasse um gato ele entrava também.
Do dia 23 para o dia 24, foram arrombadas uma loja, uma bodega e duas residências, sendo uma do Sr. Abel Dominguez  e a outra do Sr. Raimundo Gibão.
Cintura Fina apareceu como suspeito e um sargento da polícia militar que respondia pela delegacia, mandou os policiais levarem ele para investigações. A princípio o suspeito negou, mas depois de uns apertos ele resolveu confessar. No seu depoimento ele contava todos os detalhes e na maior cara de pau debochava das vítimas.
DO DEPOIMENTO:
Delegado:
- Você arrombou a casa do Sr. Abel?
Suspeito:
- Arrombei. Lá foi bom eu ganhei muitos objetos.
E a casa do Sr. Raimundo Gibão?
- Num precisou. Lá eu entrei pelo buraco do esgoto.
- Você não teve medo de levar uma surra grande não?  Aquele ferreiro tem vários filhos homens cada qual mais forte.
- Medo eu tive, é tanto que tinha uma moça deitada numa rede com o cabelo assanhado, aí eu pensei em dar uma penteada, mas como ficava muito perto dos potes, podia ser que um grandão daqueles fosse tomar água e me visse, por isso eu achei melhor vazar. Mais ou povo pobre sargento! Aquele tanto de homem e eu não achei uma carteira nem um relógio. Eu deixei foi dez mil réis lá.
Quando Raimundo Gibão soube daquela conversa, conbinou com os filhos para no dia que ele estivesse solto, eles aplicarem um castigo.
Cintura Fina ficou no xadrez sem comer nada e o sargento foi falar com as vítimas para fornecerem a alimentação do preso, mas as vítimas não concordaram e a solução que ele encontrou foi soltar e mandar ir embora.
Era dia 25 de agosto. José Leonardo estava com o seu caminhão estacionado na Uzina Diniz, esperando alguns passageiros para viajar  para o Crato. De repente chegou o sargento, três soldados e Cintura Fina. O sargento falou com Zé Leonardo para levar o ladrão para o Juazeiro. Zé Leonardo concordou em levar, mas quando os passageiros souberam que iam viajar com um ladrão e sem escolta, não aceitaram. Diante da imposição dos passageiros, Zé Leonardo mijou pra trás e disse que não dava certo.
Ficou aquela confusão. Como é como não é. Foi quando o Sr. Dudu falou para o sargento:
- Sargento bote ele para ir à pé. Quem já viu ladrão ter direito a transporte.
Nessa hora chegou Raimundo Gibão com os seus filhos. O mais fraco deles era Chico Pão que quebrava uma perna de mesa com o cotovelo. Raimundo dirigiu-se ao sargento e falou:
- Sargento. A viagem vai ser muito comprida para o rapaz. Deixe eu levar ele pra dar uma merenda lá em casa.
O sargento muito experiente não aceitou porque imaginava o tipo de merenda que o ferreiro ia servir a Cintura Fina.
O sargento deu um empurrão no ladrão e mandou ele pegar o beco.
O arrombador pegou o rumo da Betânia e o mudo Tonico Braz deu dois tabefes para o ladrão descolar. Cintura Fina pegou no tranco, mas Tonico ainda rebolou umas pedras.
Quando o mudo botou os pés na calçada da Bodega de Zé Bitu, O sargento e os três soldados cercaram ele.
O Sr. Dudu vendo aquela situação foi até lá acompanhado de Lauro Costa,  Luiz Diniz, e Zé Leonardo.
Quando chegou de frente ao sargento peguntou:
- Sargento o que é que está havendo?
- É nós que estamos prendendo o mudo.
- Prendendo porque?
- Porque ele estava açoitando o ladrão. Ele não é policial.
- Pois ele não vai preso não.
- Vai que eu já dei voz de prisão.
- Pois dê uma contra voz, que ele não vai não. Quem devia tá no xadrez, já vai do São Cosme pra frente.
O Sargento vendo a firmesa do Sr. Dudu e de Zé Leonardo e vendo Lauro Costa e Luiz Diniz já pegados com Tonico, resolveu ceder e disse para a tropa:
- Meus praças. Pode liberar o mudo.
Quando o pessoal foli saindo com Tonico, um dos praças perguntou:
- Quem é que vai pagar a fiança?
Lauro Costa respondeu:

- SÃO  RAIMUNDO  PAGA!

Dedicado a Nonato Alves e Fátima Cordeiro, netos do justiceiro.

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