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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 25 de agosto de 2013

PROSA DE COMPADRES - Por Mundim do Vale.

PROSA  DE  COMPADRES.

Chico Bento:

Buá noite cumpade Zé
Cuma vai cumade Bia?
Onde anda a tua fia
Qui morava im Canindé?
Já se casou cum Mané
Ou ainda tá sortêra?
Eu arrumei im Portêra
Um trabai pela fazê.
Mais ela tem qui aprendê
Cua as ôta muié rendêra.

Zé Rubão:

Meu cumpade, minha Bia
Só veve agora é doente,
É friêra, é dô de dente
Diarréa e agonia.
A minha fia Luzia
Num tá sirvindo pra nada,
Já tá inté imbuchada
Dum vendeão de panela.
O bucho tá na guela
E o vendeão num dá nada.

Chico Bento:

Cumpade cadê Orlando
Quie era meu afiado?
Prudonde ele tem andado
Ainda tá istudando?
Ou num tá nem trabaiando?
Sele quiser um trabai
Eu arrumo um quebra gái
Pele trabaiar na fêra,
Só pra vendê macachêra
Pimenta, cebola e ái.

Zé Rubão.

Cumpade, seu afiado
É uma coisa sem lei,
Tá bulindo no alei
Robando e dando coidado.
Isturdia o delegado
Butô ele na cadêa,
Ele levô tanta pêa
Qui foi pru pronto-socorro.
Quando eu oiei quage morro
Nunca ví coisa tão fêa.

Chico Bento:

E seu sogro Juvená
Miorô do coração?
Já vortô pru Riachão
Ô inda tá no hospitá?
Já tá pudendo falá
Comê, mijá e bebê?
Num dêxe o veim morrê.
Prua falta de assistença.
Qui ele ainda tem vivença
Prumode dá e vendê.

Zé Rubão:

Cumpade, o véi Juvená
Já tá pra lá do além,
E a véa dele tombém
Já tá pras banda de lá.
Nóis num pudemo pagá
Aquela despeza cara,
Pruque o pau de arara
Num tem uma renda boa.
Aí só deu prus coroa
Qui intregaro o couro as vara.

Chico Bento:

Cumpade e a miunçada
Tá na creche do estado?
Eles tão alimentado
Ou é cunveça fiada?
Dizem qui num  farta nada
Qui serve café cum pão,
Mei dia carne e feijão
E merenda duas hora.
De noite vem sem demora
A sôpa de macarrão.

Zé Rubão:

Meu cumpade, a mininada
De dia é jogando bola
De noite cherando cola
E drumindo nas calçada.
A creche é só de fachada
 A merenda iscafedeu,
Creche pra minino meu
Num tem vaga pra ficá.
E a tá merenda iscolá
Um diputado cumeu.

Chico Bento:

Cumpade e o viriadô
Qui você tinha votado?
Vá cassar o condenado
E diga Cuma ficô.
Peça a ele prefessô
Peça tombém punição,
Pru diputado ladrão
Nunca mais querê robá.
Se qué merenda iscolá
Vá merendá na prisão.

Zé Rubão:

Chico Bento, eu fui atráis
Mais num decharo eu falá,
Mais quando eles torná
Eu mermo num voto mais.
Quando é prus rico eles fáis
E pra nóis pobe é negado,
Mais voto num é maicado
Já tumei a dicisão.
Quando for na inleição
Meu tito vai tá rasgado.

Mundim  do  vale
V. Alegre- Ceará.

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