Eu vou lembrar a você
A história que ouvi contar
A razão porque somos peixes
Mas não nascemos no mar.
Conte o fato a sua neta
Pra quem foi, ela lembrar
Pra recontar à bisneta
E assim avaliar
A passada geração
Que em nome da razão
Fez muita vida mudar.
Quem veio antes da gente
Parece desconhecido
Parente que não se sente
Geração quase esquecida
Pouca história se resgata
E pouco tempo se gasta
Com a vida adormecida.
A história que ouvi contar
E à neta contarei
Tem enredo singular
Mas não tem fada nem Rei
Não tem castelo encantado
Mas é um fato passado
Um retrocesso de lei.
“Era uma vez um rapaz
Moço aventureiro e forte
Apaixonado e audaz
Ouviu falar que no Norte
O moço trabalhador
Mudava logo de sorte
Era só correr atrás
E não ter medo da morte”.
Expôs à mãe o projeto
Ela disse que o trajeto
Era desafiador
Uma aventura seria
Mas se ele assim queria
Não era ela que iria
Esfriar o seu calor.
Fosse só, não se arriscasse
Maria que esperasse
O namorado voltar
Não precisa se apressar
É melhor sofrer agora
Que casar e ir embora
E daqui só se lembrar.
A mãe mandona impôs
Ao filho esta condição
A partida estava aberta
Com a sua permissão
Desde que não se casasse
E só quando retornasse
Viveria esta paixão.
Esse meu tio-avô
Com o peito cheio de amor
Foi a Maria dizer:
Eu vou, mas vou te escrever
Pois o meu grande querer
É voltar e aqui viver
Na paz de nosso labor.
E Maria viu partir
O seu sonho acalentado
Pra longe o primo levou
O seu sonho malogrado
Firme, sempre a repetir
A promessa alimentada
Um dia a vida seria
Aquilo que planejaram
E o tempo foi passando
Um dia Chico chegou
Sorridente prazeroso
Do Amazonas voltou
Ansioso e confiante
Foi logo à mãe avisar
Assim que a casa eu fizer
Se Maria me quiser
Com ela vou me casar.
A mãe mandona gritou:
- Com Maria casa não
Se você nisto insistir
É sem minha permissão
Pode parar o andor
Esquecer este calor
Que eu vou dar a solução.
Você dinheiro arranjou
Pois arranje pra casar
Uma moça arricursada
Para seu cofre engordar
Se você casar com pobre
Seu dinheiro vira cobre
E a tendência é acabar.
Maria que é da família
Vai com Joaquim se casar
Teu irmão não tem recurso
Mas tem coragem de trabalhar
Pobre se casa com pobre
E não tem que reclamar
E foi assim que Maria
Foi a de Joaquim Piau
E Chico, o arricursado
Foi Piau da capital
Nós na Vazante ficamos
E do avô só herdamos
O jeito de versejar.
Socorro Martins
Para a primeira neta.
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