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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 21 de outubro de 2013

DO TEMPO DO BUMBA - Por Mundim do Vale.

BODAS  DE  CHIFRE.

Assis de Zé do Carmo, depois de ter sido traído várias vezes por Terta, ainda sentia uma certa paixão por ela. Terta por sua vez, depois de passar por vários homens, arranjou cinco filhos e ficou com dificuldade de criá-los, por conta da sua idade e pelo abandonos dos pais das crianças.
Terta aproximou-se de Assis e dramatizou uma história triste que Assis falou emocionado:
- Apois tá bom. Ramo siajuntá de novo, mais você vai premetê qui num vai mais simbora cum o fiscal da febre amarela, nem cum o soldadô de panela e nem cum o vendeão de rede.
Terta respondeu chorando para representar melhor a sua farsa:
- Tá bom Assis. Eu premeto qui de hoje im vante meu omi é só você.
Os dois foram morar numa casinha de taipa no Alto do Tenente. Enquanto Terta cuidava de uns canteiros de coentro, Assis viajava com Raimundo Mouco vendendo animais. Numa dessas viajens Assis passou três meses no Maranhão. Quando retornou notou Terta diferente e perguntou:
- O qui é qui tu tem muié? Qui tá cum essa cara de Amélia?
- É pruquê eu sube qui tu arrumô ôta muié lá no Maranhão.
- Isso é fuxico do povo. Eu tava lá era trabaiando prumode butá as coisa dento de casa. Mais adispois qui eu cheguei, eu sube qui tu tava dibaxo dos pé de oiticica da Varjota cum Ontõe Gogó.
- Isso é cunveça dese povo qui num tem o qui cunveçá. Eu só fui lá na Varjota duas vez. E Ontõe Gogó tava, mais era me ajudando a catá as oiticica.
- E pruquê quando chegava gente, vocês siscundia no buraco da cacimba?
- Era pruquê Ontõe Gogó é um omi dereito e tava cum medo do povo pensá qui nóis tava cum chamego.
- Apois tá certo. Eu vou ali na budega de Vicente Totô  pra comprá umas coisa e quando eu vortá, nóis ramo matá a sodade ali diibaxo do cajuêro. Tu tá alembrada qui oje faz dez ano qui nóis siajuntemo?
- Vixe omi! Eu tava isquicida. Apois vá e vorte logo qui eu vô butá os minino pra ir brincá na casa de Chiquim Beca.
Assis foi até a bodega, fez as compras e pagou a conta velha. No meio das compras tinha um litro de zinebra e Vicente totô perguntou:
Tem festa lá hoje, Assis?
- apois é. Tá cum noventa dia qui eu tou loge de Terta e eu oiei no calendaro hoje tombém faz dez anos qui eu mais Terta siajuntemo. Dez ano é boda de que mermo em Vicente?
Vicente quase não deixa Assis terminar:
- DE  CHIFE.

Um comentário:

  1. Mais uma historia bem contado. cada dia aprendo mais. Não imagina que houvesse bodas de chifre.

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