Foi-se, se é mesmo que existiu, o tempo em que narrativa precisava fazer sentido. Os fatos eram colocados cuidadosamente em ordem de maneira a levar audiência a acreditar na conclusão. Por isso mesmo, toda historia precisava ter começo, meio e fim.
Desde que as narrativas foram dispensadas de fazer sentido, as coisas se tornaram mais complicadas de entender. A realidade perdeu as cores. Branco não existe preto não há. Tudo parece ser cinza. Tudo parece o mesmo.
Neste mundo pintado de cinza, as explicações variam e se transformam dependendo dos interesses imediatos. Não saber virou qualidade que inaugura a existência o pecado sem pecador.
Parece que nunca antes na história deste país existiram tantas pessoas que não sabiam. E tantos fatos sem explicação lógica. Ou tantas explicações sem sentido. Ou melhor, nunca as explicações foram tão pouco importantes.
Talvez porque acompanhar os fatos tem se convertido em tarefa árdua. A sucessão de fatos novos e escândalos inusitados é tão grande, e tão diversa, que foco passou a ser luxo que a condição humana não permite.
Tudo parece sobrecarregar os sentidos e apagar a memória. Escândalos novos substituem os anteriores, dispensando-os de explicação adequada. Não existe papel, tinta, tempo, ou espaço na memória para acompanhar cada um deles do início ao fim.
Em uma realidade construída de tons de cinza, tudo soa e se parece mais ou menos igual. Ali convivem e colidem sonhos do passado e pesadelos do futuro na ausência de narrativas que emprestem sentido aos fatos.
Tudo seguindo o ritmo acelerado das revelações de fatos não explicados fadados a serem rapidamente substituídos por outros escândalos que, por sua vez, também estarão destinados a permanecerem inexplicáveis. Tudo, de alguma maneira, ocorre sem a que a luz clara do sol possa iluminar e ajudar a entender cada acontecimento. A zona é cinzenta, afinal de contas.
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