No Facebook. Todo mundo viaja muiiiiito, come bem, cozinha melhor ainda, mora ótimo, tem família linda, junta todos os amigos em encontros maravilhosos, frequenta espaços vip, convive e conhece celebridades de todos os calibres – da periguete da hora à celebrity de pedigree registrado. Tem reflexões fantásticas sobre viver, amar e rezar. E compartilha todas.
Todo mundo é “in”, enfim. Melhor ainda, tem vida pra lá de relevante e, em linguagem burocrática, precisa dar conhecimento de cada evento do seu movimentado e perfeito cotidiano.
Fracasso, dor de amor, de cotovelo ou assemelhados não existem no mundo do Facebook. Vez por outra, um desavisado, fora da caixinha, comunica morte, doença... Ta out do script. Mas, como on-line todo mundo é bacana, correto e, principalmente, muiiiiiiiito solidário, o dono da infelicidade comunicada recebe milhares de mensagens de força, simpatia e carinho. Consolo on-line não tem preço. Bom demaiiiiiiiis! Antes do Face era muito mais difícil parecer feliz e bem sucedido.
No Facebook, o mundo é bom, a vida vale a pena semmmmmmmmmpre!!! Ninguém está sozinho no meio de tanta escrita afirmativa, derramando exclamações e letras multiplicadas – sempre muiiiiiitas - pra reforçar e enfatizar o sentimento expresso.
E nem pense que estou falando mal do Facebook. Longe disso. Antes da rede, eu contava meus amigos. Agora perdi completamente a conta. (E se achar pouco, com recurso do próprio Face, ainda posso comprar mais uma penca.) Nunca mais me senti sozinha, fora da curva. Qualquer post ecoa. Em dias ruins, três comentários, cinco curtidas. Em dias bons, avalanches.
Entre um post e outro, penso na dor dos que padecem de inveja. Devem sofrer com a majoritária felicidade alheia. Psis até já alertam: o bom também pode ser ruim. Ao mesmo tempo que reduzem fronteiras e conectam tudo e todos, as Redes Sociais também provocam ansiedade e insegurança. Sou só eu que sofro, derrapo, fracasso e me atrapalho nessa vida? Só eu tenho menos de 100 amigos?
Melhor nem pensar nesse pequennno efeito colateral. Ele tem remédio – post! Vale tudo. A corriqueira pizza que, naquele momento, está bem ali na sua mesa para ser devorada, a ultima gracinha de seu gato, cachorro, periquito, papagaio, a chuva da sua janela, o cabelo novo, o aparelho no dente do seu vizinho maiiiiis querido... Se faltar até isso, apele: vale também aquela foto sem foco, meio apagada, da sua bisavó menina e, agora, caindo de velha. Pronto. Foi inserida no contexto.
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