A eleição de 2014 marcará o fim do ciclo dos Ferreira Gomes no poder. Até pouco tempo, parecia que, no Ceará, a vontade do governador Cid Gomes seria a única a definir o processo de sucessão. Todavia, a movimentação do senador Eunício Oliveira [PMDB], a partir de janeiro, criou racha na aliança comandada pelos Gomes. Essa foi a primeira derrota e baixa sofrida pelo governador e pelo PT. A consolidação da candidatura de Eunício abriu palanque forte para a candidatura Aécio Neves à presidência. Essa foi a segunda derrota do governador e do PT. Todavia, mais do que a segunda derrota, Eunício criou aliança com força para dividir os grupos políticos locais em condições de ganhar as eleições.
Já Cid não conseguiu indicar candidato de seu partido [Pros] e acabou indicando do próprio PT. Essa foi a terceira derrota. O que parecia eleição segura nas mãos do governador, tendo o PT como coadjuvante, passa a ser campo de rivalidades pela conquista do poder, onde o vencedor fica com as oportunidades de configurar este poder, como diz Maquiavel, para permanecer e se perpetuar nele, e o perdedor, enfraquecido, cai sob a dependência de alguém. Nesse cenário, Cid é perdedor, já está na dependência do PT e continuará, mesmo que Camilo Santana ganhe.
Na forma como o PT se organiza não há espaço para os Ferreira Gomes, portanto seus vínculos com PT irão se manter por favores. Camilo, eleito, vai querer ter vida própria. Se perder, Cid terá sua quarta derrota e verá os fisiologistas do Pros migrarem para o PMDB ou para partidos pequenos que comporão a base do novo governo. Eunício, se perder, volta ao senado com capital político maior do que antes das eleições; se sair vitorioso, será a nova força política do Ceará.
A competição Eunício x Camilo se caracteriza por disputa de poder e não de projeto. Tratam-se de candidatos querendo disputar a legitimidade para conduzir o projeto de desenvolvimento iniciado por Virgílio Távora e atualizado em 1986 pelo “governo das mudanças” de Tasso. Projeto que vem agregado a algum componente estrutural e ganho social, mas sem alterar sua lógica que combina crescimento econômico, concentração de renda e poder patrimonial.
A competição Eunício e Camilo é a disputa pela continuidade de projeto de colonialidade do poder, onde os dirigentes, colonizados por uma visão econômica euro-estadunidense, reproduzem, de forma imitativa, as grandes obras estruturantes com total desrespeito ao meio ambiente, à nossa cultural e às nossas alternativas locais. Trata-se de modelo onde as mentes subalternas assumem papel de “Policarpo Quaresma”, que contribui para o triste fim da maioria da população. Assim, o fim do ciclo dos Gomes não representa o fim do modelo de desenvolvimento em curso, mas a mudança do seu grupo gestor.
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