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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 4 de janeiro de 2015

Dilma sob ataques - Por Merval Pereira


A presidente Dilma terá grandes problemas pela frente por que a esquerda do PT e os sindicalistas já começam a se movimentar tanto contra Joaquim Levy quanto contra as medidas de contenção de custos dos benefícios sociais. Ao mesmo tempo, também o PSDB saiu ao ataque contra as novas medidas de contenção, acusando o governo de estar traindo seus eleitores e classificando de “neoliberalismo petista” as medidas anunciada.

A questão central é que mexer em valores que são importantes para trabalhadores e sindicalistas dá a sensação de que o governo está traindo seus eleitores, ao mesmo tempo que dá margem a que o PSDB assuma uma maneira petista de fazer oposição. 

Mas na verdade o governo está fazendo o que tinha que fazer mesmo, há distorções no seguro desemprego, no sistema de pensões, e em diversos outros mecanismos de benefícios sociais, é necessário, mas desgastante, dar uma controlada nisso. A ideia é economizar cerca de R$ 18 bilhões por ano, o que não é pouca coisa para um país que está precisando desesperadamente cortar custos. 

Mas mexe com interesses de sindicalistas, que já estão muito agitados, e com políticos também. Até setores do PMDB estão questionando as medidas, chamando a atenção para o fato de que o governo começa a cortar custos pelos trabalhadores, e não pelos gastos excessivos da máquina governamental. 

A esquerda do PT está se sentindo afastada da composição desse segundo ministério da presidente Dilma, e acha que a direita tomou conta do governo. Há setores da esquerda, dentro e fora do PT, que não apoiam a presidente por estar tomando medidas que criticava nos seus adversários na campanha eleitoral, e este é um fato que denota a incongruência de um governo que tem que abandonar suas crenças ideológicas na economia para reverter uma situação desastrosa que ele mesmo criou.

 Dilma está tomando medidas que mudam a direção que apontou nos discursos durante a campanha eleitoral, mas não são medidas “de direita”, como equivocadamente apontam seus críticos internos, mas medidas necessárias para recuperar o equilíbrio das contas públicas. 

Ao que tudo indica, teremos pela primeira vez um déficit fiscal ao final deste 2014, pois para chegarmos a um superávit de R$ 10 bilhões anunciado pelo (ainda) ministro Guido Mantega teríamos que ter um superávit de quase R$ 30 bilhões em dezembro, o que é inviável a esta altura, pelo menos sem malabarismos fiscais. 

Dilma já anunciou que vai abrir o capital da Caixa Econômica para investimentos privados e precisa fazer isso mesmo por que o governo não tem dinheiro. O problema da presidente Dilma é que ela não terá o apoio nem de seu partido, o PT, já liberado pelo ex-presidente Lula para críticas, e nem dos movimentos sociais, que ao contrário estarão mobilizados numa ação conjunta de Lula com os líderes sindicais para ir para as ruas defender os interesses da esquerda. 

Isso quer dizer que a pretexto de defender o governo do ataque da “direita”, esses movimentos sociais estarão indo contra setores que estão encastelados no ministério de Dilma, como Gilberto Kassab, do PSD, que no ministério das Cidades terá que dialogar Guilherme Boulos, do Movimento dos Sem Teto, o novo enfant terrible da esquerda brasileira. 

A futura ministra da Agricultura, Kátia Abreu, também terá que se confrontar com João Pedro Stedile e o MST, que prometeu guerra nas ruas caso Aécio Neves vencesse a eleição, e vê a presidente da Confederação Nacional de Agricultura como uma inimiga tão grande quanto o candidato tucano, com o agravante de estar dentro do governo. 

Ao lado disso, o governo não contará com o apoio da oposição, ao contrário do que aconteceu no início do primeiro governo Lula. A Força Sindical, que apoiou Aécio Neves na eleição presidencial, se juntará aos demais sindicatos ligados ao PT para combater as mudanças nas regras de concessão de benefícios trabalhistas e previdenciários, que considera nocivas aos trabalhadores. 

A Força Sindical toca num ponto nevrálgico: o país vive expectativa de aumento de desemprego, de inflação e dos juros, e as novas medidas serão adotadas nesse novo ambiente econômico de crise. 

O PSDB está disposto a ser oposição até mesmo ao ministro da Fazenda Joaquim Levy, que veio de suas hostes. O deputado Antonio Imbassahy já deu a direção ao dizer que as medidas anunciadas representam o “neoliberalismo petista, que provocará desemprego e prejudicará os trabalhadores”. 

O próprio presidente do PSDB, senador Aécio Neves, soltou uma nota afirmando que a presidente “faz agora o impensável: coloca em prática as suas medidas impopulares, prejudicando aqueles que deveriam ser alvo da defesa intransigente do seu governo: os trabalhadores e os estudantes".

O embate será duro e incessante, e a presidente Dilma não parece estar equipada politicamente para enfrentá-lo. 

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