Páginas


"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 26 de maio de 2015

Dilma e Levy, os coveiros do PT - Por Ricardo Noblat

A levar-se em conta o que o PT fala deles, jamais a presidente Dilma Rousseff e o ministro Joaquim Levy se pareceram tanto.

Dilma precisava de um ortodoxo para tocar a economia que ela conduzira tão mal no seu primeiro mandato.

Aconselhado por amigos banqueiros, Levy aceitou o convite de Dilma com a pretensão de salvar o Brasil e enriquecer seu currículo. Agora, o PT vê os dois como seus coveiros.

O partido é mais impiedoso com Levy, um completo estranho no reino da estrela vermelha. Estaria à vontade em um governo emplumado do PSDB.

Dilma está longe de ser uma petista de raiz. Ajudou a fundar o PDT de Leonel Brizola. Ali ficou por 20 anos. Tem 14 anos de filiada ao PT.

Só trocou de partido quando Lula estava prestes a se eleger presidente da República em 2002.

Na semana passada, e pela primeira vez de público, o PT deu sinais do forte incômodo que lhe causa a dobradinha Dilma-Levy.

Dois senadores do partido assinaram um manifesto contra o ajuste fiscal imaginado por Levy e patrocinado com reticências por Dilma.

Um dos senadores, Lindberg Farias (RJ), pediu a cabeça de Levy. Ninguém com mandato tinha agido assim até então.

Ninguém tinha gritado palavras de ordem contra o ministro em reuniões oficiais do PT. Pois na abertura da etapa paulista do V Congresso Nacional do partido a ser realizado em Salvador, em meados de junho próximo, militantes gritaram:

- Ei, Levy, pede pra sair e leva com você o FMI (Fundo Monetário Internacional)".

Não foi o pior – afinal, ninguém controla militantes.

Manifesto da direção do PT paulista disse com toda a crueza: “Nossos sonhos não podem ser delimitados pelas estreitas margens que a equação financeira suporta, nem pelas contingências de governabilidade. (...) Nossa defesa do governo que elegemos não pode nos afastar das ruas e dos movimentos sociais. (...) A agenda do governo nos últimos meses se distancia do que o PT representa”.

Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Dilma, bem que tentou acalmar a militância.

Sugeriu: “Temos que propor que essas correções que estão sendo feitas do ponto de vista fiscal possam permitir que daqui uns poucos meses estejamos com este problema resolvido”.

Poucos meses? Ou Marco Aurélio não sabe o que diz ou preferiu esconder o que sabe.

O PT beneficiou-se da política econômica irresponsável que ajudou Dilma a se reeleger. Que amargue o desgaste de se manter ao lado dela no momento em que Dilma flerta com um futuro menos atroz.

Se tudo der certo, os poucos meses que nos separam da solução do problema fiscal se transformarão em anos. Resta ao PT torcer para que tudo se resolva antes da eleição presidencial de 2018.

Levy está pessimista – e com razão. Ele espera para este ano uma contração de 1,2% no Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todas as riquezas produzidas pelo país. Será o pior resultado dos últimos 25 anos.

A inflação deverá bater a casa de 8,26%, bem acima do centro da meta de 4,5%. E, no entanto... O tamanho do ajuste fiscal acabou ficando aquém do que ele considerava necessário.

Foi por isso que faltou ao anúncio do ajuste na sexta-feira. Quis marcar posição.

Levy desconfia que está sendo fritado. Ninguém no governo o defende com convicção nem se associa de verdade ao que ele faz.

O único consolo de Levy é o de poder ir embora se não der mais. Dilma, não pode.

Levy não corre o risco do desemprego. O PT corre o risco de perder o poder.

Nenhum comentário:

Postar um comentário