Neste sábado, os leitores de VEJA saberão que a lama do Petrolão chegou ao 3° andar do Palácio do Planalto e invadiu o gabinete presidencial. A sequência de informações assombrosas contidas na reportagem de capa começa com a lista dos favorecidos com boladas desviadas da Petrobras pelo empreiteiro Ricardo Pessoa e a quantia que coube a cada um. O desfile dos recém-chegados ao acervo de alvos da Operação Lava-Jato é aberto por Lula e Dilma Rousseff. As revelações que se seguem são suficientemente devastadoras para reduzir a mera garoa a tempestade provocada pela prisão do manda-chuva da Odebrecht.
Engaiolado em Curitiba desde novembro, quando acumulava a presidência da construtora UTC e a coordenação do clube de empreiteiras formado para saquear a estatal, Ricardo Pessoa animou-se a contar o que sabia graças ao acordo de delação premiada longamente negociado com os procuradores federais que investigam a roubalheira colossal. Homologado pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, o acerto resultou em cinco dias de depoimentos prestados em Brasília.
É improvável que outro participante do escândalo saiba tanto quanto Ricardo Pessoa. “As confissões deram origem a 40 anexos recheados de planilhas e documentos que registram o caminho do dinheiro sujo”, informa um trecho da reportagem de 12 páginas, dividida em 9 blocos, que expõe o que há de mais relevante no copioso material obtido por VEJA.
O mais recente lote de revelações impressiona pela fartura de detalhes e pelo cinismo do elenco. Os canastrões do faroeste à brasileira agiram com o desembaraço do bandidão depois do quinto uísque no saloon do vilarejo sem xerife. Já descobriram que ainda há homens da lei no Brasil. Vão ver o fim do filme numa cela de cadeia
A lista de políticos a quem Pessoa diz ter dado dinheiro obtido no PetrolãoDinheiro ilegal doado para candidatos dentro da lei é crime? É a primeira questão levantada pela delação premiada do dono da UTC
Ricardo Pessoa revela detalhes do esquema de corrupção da Petrobras e entrega a lista dos beneficiados com o dinheiro desviado: as campanhas eleitorais de Dilma e Lula, deputados, senadores e ministros do governo(VEJA.com/VEJA)
O engenheiro Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, tem contratos bilionários com o governo, é apontado como o chefe do clube dos empreiteiros que se organizaram para saquear a Petrobras e cliente das palestras do ex-presidente Lula. Desde a sua prisão, em novembro passado, ele ameaça contar com riqueza de detalhes como petistas e governistas graúdos se beneficiaram do maior esquema de corrupção da história do país. Nos últimos meses, Pessoa pressionou os detentores do poder - por meio de bilhetes escritos a mão - a ajudá-lo a sair da cadeia e livrá-lo de uma condenação pesada. Ao mesmo tempo, começou a negociar com as autoridades um acordo de delação premiada. o empresário se recusava a revelar o muito que testemunhou graças ao acesso privilegiado aos gabinetes mais importantes de Brasília. O Ministério Público queria extrair dele todos os segredos da engrenagem criminosa que desviou pelo menos 6 bilhões de reais dos cofres públicos. Essa negociação arrastada e difícil acabou na semana passada, quando o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), homologou o acordo de colaboração entre o empresário e os procuradores.
VEJA teve acesso aos termos desse acerto. O conteúdo é demolidor. As confissões do empreiteiro deram origem a 40 anexos recheados de planilhas e documentos que registram o caminho do dinheiro sujo. Em cinco dias de depoimentos prestados em Brasília, Pessoa descreveu como financiou campanhas à margem da lei e distribuiu propinas. Ele disse que usou dinheiro do petrolão para bancar despesas de 18 figuras coroadas da República. Foi com a verba desviada da estatal que a UTC doou dinheiro para as campanhas de Lula em 2006 e de Dilma em 2014. Foi com ela também que garantiu o repasse de 3,2 milhões de reais a José Dirceu, uma ajudinha providencial para que o mensaleiro pagasse suas despesas pessoais. A UTC ascendeu ao panteão das grandes empreiteiras nacionais nos governos do PT. Ao Ministério Público, Pessoa fez questão de registrar que essa caminhada foi pavimentada com propinas.
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