Investigada pela Justiça americana, estatal foi incluída no Fórum de CEOs Brasil-EUA, enquanto empreiteiras foram excluídas
WASHINGTON - O governo brasileiro incluiu a Petrobrás no Fórum de CEOs Brasil-Estados Unidos, o que provocou desconforto do lado americano. Além de estar no centro da Operação Lava Jato, a estatal é investigada nos EUA pelo Departamento de Justiça e pela instituição que regula o mercado acionário. Em compensação, Brasília excluiu do fórum três empreiteiras investigadas no mesmo escândalo: Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Odebrecht.
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A nova composição do grupo ainda não foi anunciada oficialmente, mas já deverá estar em vigor na reunião que o grupo terá em Brasília na próxima semana, com participação da secretária de Comércio dos EUA, Penny Pritzker, e a responsável na Casa Branca por relações econômicas internacionais, Caroline Atkinson. Os representantes do governo brasileiro serão o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e do Desenvolvimento, Armando Monteiro.
Segundo uma fonte que acompanha de perto o relacionamento bilateral, o governo dos EUA manifestou perplexidade com a inclusão da Petrobrás no grupo. Outra fonte disse que o lado americano teve dificuldade em entender a lógica de retirar as empreiteiras investigadas na Lava Jato e incluir a companhia que está no centro do escândalo de corrupção.
Mas a decisão final sobre a escolha dos CEOs é do governo de cada país e a presidente Dilma Rousseff insistiu na manutenção da Petrobrás. Os americanos preferiram não se opor e interpretaram a decisão como um passo do Brasil no esforço de recuperar a credibilidade da companhia.
Além disso, o setor de petróleo e gás é uma das áreas promissoras na relação econômica bilateral e a companhia é vista como potencial cliente ou parceira de empresas americanas.
A Petrobrás será a única estatal no Fórum de CEOs, estabelecido com o objetivo de reunir representantes do setor privado do Brasil com negócios nos Estados Unidos e vice-versa. Criado em 2007 pelos então presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush, o grupo é integrado por 12 dirigentes empresariais de cada país.
A missão do fórum é fazer recomendações aos governos sobre aspectos econômicos e comerciais da relação bilateral. No encontro de Brasília serão discutidas propostas a serem encaminhadas aos presidentes Dilma Rousseff e Barack Obama durante a visita oficial que a brasileira fará a Washington nos dias 29 e 30.
O lado brasileiro sustenta que a retirada das empreiteiras e a inclusão da Petrobrás integram um processo mais amplo de renovação do fórum. Além de Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, deverão sair do grupo as companhias Vale, Suzano, Votorantim e o banco Safra. Entram Petrobrás, Ambev, Bradesco, Dasa, Eurofarma, JBS e Kroton Educacional. Permanecem Coteminas, Cutrale, Embraer, Gerdau e Stefanini.
Mas a manutenção dos dirigentes das empreiteiras era politicamente insustentável em razão da Operação Lava Jato, avaliaram as fontes ouvidas pelo Estado. Como todas as empresas do lado brasileiro, as três construtoras integravam o fórum desde sua criação, em 2007. Delas, a Odebrecht é a que tem maior presença nos EUA, onde está desde 1990. A companhia é responsável por várias obras de construção na Flórida e no Texas, entre os quais o terminal norte do Aeroporto de Miami.
Os Estados Unidos estabelecem critérios para a seleção dos dirigentes empresariais que integram o fórum, escolhidos para mandatos de três anos. No Brasil, não há um período claro para renovação nem requisitos determinados para a nomeação. “É no dedômetro”, disse outra fonte.
Espionagem. O último encontro do Fórum de CEOs Brasil-Estados Unidos ocorreu em março de 2013, em Brasília. A reunião seguinte estava prevista para outubro daquele ano, em Washington, no âmbito da visita de Estado que a presidente Dilma Rousseff faria aos Estados Unidos. A presidente, no entanto, cancelou a viagem depois da revelação de que a Agência de Segurança Nacional (NSA) havia espionado comunicações suas, da Petrobrás e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Escolhidos em agosto de 2013, os CEOs americanos nunca chegaram a se reunir com seus pares brasileiros, já que a relação entre os dois países ficou virtualmente congelada com a crise gerada pela atuação da NSA. A visita de Dilma aos Estados Unidos no fim do mês será o mais forte símbolo de normalização do relacionamento entre os dois países.
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