Lula, que continua com um faro político inegável, já viu que no momento o melhor é ficar na oposição. Como para ele esse malabarismo é coisa de criança, continuará dando sugestões à sua criatura, como se não tivesse culpa de nada do que acontece no país, e ao mesmo tempo ficará contra o ajuste fiscal que, segundo ele, só gera desemprego e sofrimento.
Tenho a sensação de que chegará um dia, mais cedo ou mais tarde, que o conselho de Lula será para que Dilma desapegue da presidência da República, deixando a batata quente para o vice Michel Temer. O PT iria assim para a oposição, preparando-se para tentar voltar ao poder em 2018, provavelmente com Lula.
Essa estratégia, no entanto, pode esbarrar nas investigações da Operação Lava-Jato, que, finalmente, podem chegar a Lula. Digo finalmente por que qualquer cidadão minimamente inteligente estranhava que tendo sido presidente da República durante o período em que o mensalão e o petrolão foram organizados, Lula estivesse fora das investigações.
O delegado Josélio Sousa, da Polícia Federal, está fazendo o óbvio querendo interrogar presidentes que até agora foram poupados inexplicavelmente das investigações do Lava-Jato: o do país à época em que os fatos aconteceram e maior beneficiário deles, o ex-presidente Lula, e os presidentes da Petrobras José Eduardo Dutra e José Gabrielli.
Ele pediu autorização ao STF para interrogá-los, embora não tenham direito a foro privilegiado, por que o inquérito em que aparecem como suspeitos de atividades ilegais arrola vários políticos com mandato eletivo.
Como o relator no Supremo do Lava-Jato Teori Zavascki vai consultar o Procurador-Geral da República, é provável que a autorização seja dada por que Rodrigo Janot já encaminhou ao STF um pedido para investigar Lula devido a brindes que teria recebido de empreiteiras, revelados pelo dono da UTC em sua delação premiada.
Partindo de uma lógica corriqueira, o delegado diz que, “na condição de mandatário máximo do país” na ocasião, Lula “pode ter sido beneficiado pelo esquema […], obtendo vantagens para si, para seu partido, o PT, ou mesmo para seu governo, com a manutenção de uma base de apoio partidário sustentada à custa de negócios ilícitos na referida estatal.”
Nada mais lógico que isso, e já começava a incomodar o cidadão comum a sensação de que a Justiça considera Lula um ser acima de qualquer suspeita, quando todos os escândalos descobertos a partir do mensalão aconteceram justamente na sua gestão, e ele foi, sem dúvida, o maior beneficiário dos esquemas montados, pois se destinavam primeiramente a montar uma base parlamentar que o apoiasse.
Os benefícios pessoais que daí adviriam são consequências lógicas de qualquer esquema corrupto. O ex-presidente já está sendo investigado pelo Ministério Público de Brasília com relação ao tráfico de influência, inclusive internacional, que utilizou em benefício da Odebrecht, sendo a recíproca verdadeira segundo diversos indícios que estão sendo apurados.
Não apenas a Odebrecht, mas também outras empreiteiras, como a OAS, teriam feito favores a Lula e sua família, como a obra no tríplex do Guarujá que Lula insiste em dizer que não é de sua família, embora dona Mariza Letícia tenha, segundo ele, cotas do condomínio que ainda não foram resgatadas.
Essas cotas, coincidentemente, correspondem ao tríplex, que poderá assim vir a ser uma propriedade dos Lula da Silva, mas ainda não é. O que é preciso investigar é o que dona Mariza andou fazendo por lá a ponto de dar a impressão a moradores de que estaria coordenando as reformas do apartamento.
“Atenta ao aspecto político dos acontecimentos, a presente investigação não pode se furtar de trazer à luz da apuração dos fatos a pessoa do então presidente da República”, alega o delegado da Polícia Federal.
É justamente essa postura “atenta” da Polícia Federal e do Ministério Público que pode levar as investigações a bom termo. Mesmo que eventualmente o ministro Zavascki não autorize a investigação desta vez, se ela seguir o rumo correto como vem sendo feito até agora será inevitável que chegue a Lula.
A desmoralização do PT como partido político é um fato. A popularidade de Lula já não é o que foi, e sua imagem está desgastada diante das revelações da Lava-Jato. Vai ser difícil a metamorfose ambulante se recuperar a ponto de poder voltar à disputa presidencial.
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