A presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, tiveram uma ideia para fazer a economia voltar a crescer: usar os bancos públicos para oferecer linhas de crédito a juros mais baixos do que os praticados pelas instituições privadas — vale dizer: na prática, é juro subsidiado. No total, seriam aplicados R$ 50 bilhões numa operação que já deu errado quando a economia estava um pouco mais organizada do que agora. Por que daria certo desta feita? Não dará.
É que Dilma vai reunir o tal conselhão amanhã — num post de ontem, como se lembram, apontei a sua inutilidade — e tem de mostrar alguma coisa, fazer de conta que o país é uma usina de ideias e de empreendedorismo.
É claro que, na seca em que estão, os setores contemplados não vão reclamar. Estão na mira a construção civil, as exportações, bens de capital e micro e pequenas empresas. Outra possibilidade é usar a multa do FGTS, que o trabalhador recebe ao ser demitido, como garantia do crédito consignado. O setor de construção civil, informa a Folha, receberia do fundo empréstimos de R$ 10 bilhões. Por meio do Banco do Brasil, o setor agrícola levaria igual monta. As outras áreas seriam contempladas pelo BNDES.
Ora, é claro que ninguém é contra a reativação da economia, não é mesmo? A questão é saber se esse é o melhor caminho. Dada a desordem em curso, há o risco de criar um problema fiscal adicional, alimentar a espiral inflacionária, e nada de bom acontecer.
No conselhão, Dilma também deve anunciar a disposição do governo de fazer as reformas previdenciária, fiscal e administrativa. Só isso! Parece que chuva de maná a nossa deusa não vai prometer. É impressionante que o governo vaze uma informação desse calibre, como se tais reformas fossem triviais, bastando a disposição de fazê-las para que aconteçam.
Há no âmbito dessas pretendidas reformas alterações que só podem ser feitas por emenda constitucional, o que demanda aprovação por maioria de três quintos, em duas votações, na Câmara e no Senado.
O conselhão, não custa lembrar, nasceu da disposição inicial de Lula de dar um by pass no Congresso. Percebeu que isso não era necessário. Os companheiros tinham uma fórmula melhor e mais rápida: comprar apoio — em sentido literal, com dinheiro mesmo — e comprar partidos com cargos. Só que, com esses instrumentos, o máximo que se consegue é o apoio dos interesses já estabelecidos.
Num momento de grande dificuldade na relação com o Congresso, eis que o conselhão volta à baila. E sempre com o mesmo espírito: dar um chega pra lá no Poder Legislativo e reunir aquela que seria a representação pura e desinteressada do Brasil.
Tudo já começa como uma formidável crônica de erros. Dilma reúne, então, a turma em torno do nada; anuncia como saída dos males que o Brasil enfrenta o uso, mais uma vez, dos bancos públicos para dar um oxigênio a alguns setores e acena com três reformas a um só tempo. No atual compasso do Congresso e dada a desarticulação política do governo, é certo que nada vai acontecer.
Mas a muitos restará a impressão de que Dilma está se mexendo. Que coisa! Dilma II decidiu repetir os erros que conduziram Dilma I ao desastre.
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