Desde que o governo Dilma começou a deslizar para o caos, o país espera por um sinal de que o fim está próximo. O desembarque do PMDB, nesta terça-feira (29), talvez fique, no resumo do ocaso da gestão petista, como uma apoteose às avessas da impotência que desgoverna o Brasil. Convém dizer “talvez” para não correr o risco de carbonizar a língua. A qualquer momento pode surgir uma antiapoteose mais marcante.
A crise se arrasta há tanto tempo que já existe uma coleção de episódios que poderiam funcionar como bons epílogos. Mas quando a coisa parece estar mal, tudo fica muito pior. No instante em que o Planalto assimila a notícia de que o Delcídio foi gravado tentando comprar o silêncio do delator Cerveró, vem a revelação de que o senador também suaria o dedo.
Na hora em que as denúncias do ex-líder do governo ganham as manchetes, fica-se sabendo que o Mercadante foi gravado oferecendo vantagens a Delcídio para que travasse a língua. No momento em que o ministro mais chegado à presidente ofende a inteligência alheia com o lero-lero de que agira por razões humanitárias, a presidente resolve dar um autogolpe, nomeando o Lula para a Casa Civil.
A plateia mal havia digerido a conversão do foro privilegiado em “desaforo privilegiado” e o Sérgio Moro enrolou na garganta de Lula as fitas do grampo em que o morubixaba petista soa fora de si, escancarando o que tem por dentro.
Ainda soava no noticiário o diálogo em que Dilma informa a Lula que está enviando pelo “Messias” o ato de nomeação — para ser usado “em caso de necessidade”— quando sobreveio a liminar do Gilmar Mendes. Nela, o ministro do STF susta o salvo-conduto e devolve Lula à “República de Curitiba”. O juiz Moro não teve nem tempo de saborear o retorno, já que o Teori Zavascki mandou silenciar os grampos até que o Supremo decida o que deve ser feito.
Assim tem sido a rotina de Dilma. Quando conserta a antena do Planalto, estoura a privada do Alvorada. Não passa dia sem que haja um novo problema. Como se não bastasse a divisão interna do PT e todo o resto, o PMDB anuncia que irá para a oposição nesta terça-feira. O PP ameaça desembarcar na sequência. O PR e o PSD também.
Dilma repete aos auxiliares algo que disse na semana passada a jornalistas estrangeiros: “Não sou uma pessoa depressiva. Eu durmo bem à noite”. Não sei quanto a você, mas eu quero uma porção do que Dilma está comendo, bebendo ou inalando, seja o que for. Diante de tudo o que se passa, quero viver no país que embala o sono da presidente da República, seja ele onde for.
Com a permissão do PT, o PMDB deve ter roubado mais que os outros. Hoje, sai do governo com a pureza da alma dos anjos. Bem feito. Quem autoriza o roubo é maior ladrão do que quem pratica o furto.
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