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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 30 de abril de 2016

Geddel diz a aliados: ‘Não votou, a caneta come’ - Por Josias de Souza


Sempre que lhe perguntam sobre a qualidade do ministério do provável governo do PMDB, Geddel Vieira Lima, articulador político de Michel Temer, responde: “Não vamos nos iludir, será o ministério possível.” Em conversa com um amigo, Geddel esmiuçou seu raciocínio: “Teremos uma equipe econômica que inspira confiança, um time palaciano experiente, um chanceler correto e bons nomes para Saúde e Educação. O resto vem com a negociação política.”

No epicentro das articulações, Geddel utiliza nas conversas com os representantes dos partidos uma franqueza desconcertante: “Tenho 30 anos nesse metiê. Sei como funciona. Não haverá renegociação todo dia. Definida a participação de cada um, vocês vão apoiar projetos que o governo enviará ao Congrresso. Não votou, a caneta come! Estamos entendidos?”

Em privado, o próprio Geddel revelou-se incomodado com a dificuldade de associar ideal e prática. Para não ficar “tudo igual”, o futuro ministro se empenhou para atrair os oposicionistas DEM e PSDB. Submetido às tradicionais hesitações do tucanato, Geddel desenvolveu para Aécio Neves, presidente do PSDB, um raciocínio aritmético. “Vocês podem ter os melhores projetos do mundo, mas não conseguiremos aprová-los no Congresso sem o pessoal do PP e do PR.”

As pontas do ministério que se forma sob Temer, um presidente cada vez menos improvável, serão unidas por fios invisíveis. Difícil separar uma parte da outra sem identificar na Esplanada as ressonâncias do fisiologismo que permeia todos os governos desde José Sarney. As legendas mencionadas exalam o cheiro de enxofre do mensalão e do petrolão, escândalos dos quais o PMDB também é sócio.

Nos seus diálogos privados, Geddel gosta de recitar Lula, de quem foi ministro. “O Lula diz que o ideal seria vencer a eleição solito e, depois, governar solito. Mas isso é impossível. Se é assim depois de uma eleição, imagine a situação de um governo que assume por dever constitucional, depois de um impeachment.”

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