Há meses submetida a tratamento psiquiátrico, é por recomendação médica que a presidente afastada Dilma Rousseff não lê jornais nem revistas, tampouco assiste aos noticiários pela televisão. Recebe diariamente uma sinopse redigida por sua assessoria, sob coordenação do jornalista Olímpio Antônio Brasil Cruz, que agora a acompanha no Alvorada.
A estratégia da sinopse é “amaciar” as notícias negativas e “destacar” as positivas. É neste mundo à parte, de realidade virtual, que Dilma Rousseff está vivendo, com a Assessoria de Imprensa fazendo o que pode para protegê-la.
PROCESSO CONTRA A ISTOÉ
Há dois meses, quando a revista IstoÉ publicou que Dilma estava sendo tratada com medicamentos contra esquizofrenia para conter seus violentos arroubos, com descrição de cenas lamentáveis nos palácios e até a bordo do Aerolula, a Assessoria de Imprensa imediatamente anunciou que a revista e os repórteres seriam processados. Mas não aconteceu nada.
Como processar a jornalista Débora Bergamasco, diretora da IstoÉ em Brasília, que vem a ser mulher do ex-ministro José Eduardo Cardozo, que é advogado de Dilma e convive diariamente como ela? Como processá-la, se tudo o que ela escreveu, em parceria com Sérgio Pardellas, é rigorosamente verdadeiro?
PROCESSO CONTRA MERVAL
Agora, a Assessoria de Imprensa de Dilma Rousseff anuncia mais um processo judicial que não se concretizará, desta vez contra o jornalista Merval Pereira, de O Globo, por ter publicado que o esquema de corrupção da Petrobras pagou despesas pessoais de Dilma, inclusive gastos com o cabeleireiro Celso Kamura.
“Mais uma vez, há uma tentativa de atingir a honra da Presidenta com o objetivo de manipular a opinião pública para facilitar a tramitação do processo de impeachment. Diante da acusação de golpe recorrem às armas da mentira e da calúnia”, diz a Assessoria, alegando que Dilma paga pessoalmente a Kamura e está de posse dos recibos e dos comprovantes das viagens aéreas dele a Brasília. E conclui a nota:
“Para finalizar, a Presidenta Dilma Rousseff anuncia que tomará as providências devidas na Justiça para reparar todas as acusações difamatórias e caluniosas que foram contra ela proferidas”.
Bem, vamos sentar mais comodamente para aguardar este novo processo que jamais será apresentado à Justiça.
NÃO CONHECEM MERVAL…
Se esses dedicados assessores da presidente afastada Dilma Rousseff conhecessem Merval Pereira, jamais ousariam emitir uma nota oficial desse teor. A qualidade e o esmero de sua atuação transformaram Merval Pereira numa espécie de jornalista imune a processos judiciais.
Somos amigos desde o início da década de 70, jamais ouvi dizer que Merval tenha sido processado. Ninguém consegue usá-lo para “plantar” notícias, tudo o que ele publica é fato comprovado, não há especulação em suas análises políticas.
Vamos a um exemplo: recentemente, O Globo foi o único jornal a anunciar que Delcídio Amaral faria delação premiada. Houve desmentidos em toda a mídia. Mas Merval insistiu, dizendo que a Redação do Globo tinha “fortes razões” para confirmar a decisão do ex-líder do Governo. E não deu outra.
UMA SINOPSE FAJUTA
A tal “sinopse” da Assessoria do Alvorada não traz notícias ruins. Dilma não fica sabendo de nada. Por exemplo, ainda desconhece que a Procuradoria-Geral da República já tem documentos revelando que ela tinha conhecimento do teor das negociações envolvendo interesses políticos na compra da refinaria de Pasadena, antes da reunião do Conselho.
As notas oficiais da Assessoria são feitas sem conhecimento dela. Na verdade, ninguém lhe informou que há provas de pagamentos ao cabeleireiro Kamura com dinheiro do esquema de corrupção. Ela também não sabe da delação de Marcelo Odebrecht, que relatou ter ido ao palácio em 2014, quando a presidente lhe exigiu R$ 12 milhões para o caixa 2 da campanha, depois dele já ter contribuído com R$ 14 milhões.
EM OUTRO MUNDO
Como diz o jornalista Ilimar Franco, Dilma está vivendo “em outro mundo”. Ela não sabe que Lula está sendo trucidado pelas delações de Marcelo Odebrecht, Léo Pinheiro, Delcídio Amaral e Nestor Cerveró, cujas denúncias também a atingem frontalmente, como participante do esquema de corrupção.
Dilma está sendo mantida assim, fora da realidade, para seguir atuando como massa de manobra do PT, e realmente pensa que o Senado vai reverter o impeachment e ela vai voltar ao Planalto, gloriosa, nos braços do povo. Por isso, vive a repetir que está sendo vítima de um golpe e a culpa é do Eduardo Cunha, sem entender que ele também já é carta fora do baralho. É uma situação verdadeiramente patética e deprimente, que demonstra o alto grau de surrealismo da política brasileira.
Não há governo corrupto com povo honesto.
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