Barbalha, no final do século XIX e durante as décadas iniciais do século XX, possuiu uma elite exemplar: Católica, o que significa dizer, honrada, digna e filantrópica. Deve-se a essa elite o que a “Terra de Santo Antônio” realizou de melhor em favor desta comunidade, cujos reflexos positivos perduram até os dias atuais.
José de Sá Barreto – mais conhecido como Zuca Sampaio – foi um arquétipo da elite barbalhense no período acima citado. Ele tinha consciência de que os bens do seu patrimônio, seu prestígio social, seu talento pessoal deviam ser postos em favor dos menos favorecidos com o objetivo de elevar o estamento social da sua cidade natal. E fê-lo dando um tônus católico e moralizador. Não somente para o grupo de pessoas unidas a ele pelo grau de parentesco. Mas, e, sobretudo, para o bem daqueles que eram conhecidos àquela época como “povinho” simples, aos quais, nos dias de hoje, os demagogos políticos denominam de “povão”.
Zuca Sampaio nasceu em Barbalha, no dia 7 de agosto de 1861. Era filho de Sebastião Manuel de Sampaio e Francisca de Sá Barreto Sampaio, um casal genuinamente católico, bom e cordato. A “nobreza da terra” como se dizia então. Sua mãe, antes de falecer, pediu para ser sepultada no adro da igreja-matriz de Santo Antônio. Ainda hoje se vê, próximo da porta central daquele vetusto templo, a seguinte inscrição na lápide mortuária: “Francisca de Sá Barreto Sampaio pediu ser sepultada aqui, para sobre suas cinzas passar o Santíssimo Sacramento e para ficar perto de sua querida imagem de Nossa Senhora das Dores”.
Zuca Sampaio foi comerciante honestíssimo e bem sucedido, de proceder sempre retilíneo, atuando na firma Sampaio e Irmãos, de 1892 até 1914. Neste último ano, as tropas da chamada Sedição de Juazeiro invadiram Barbalha, saquearam e roubaram o estoque daquela loja de tecidos, a maior até então existente no Cariri. Em face do clima de insegurança que passou a dominar Barbalha, Zuca Sampaio, esposa e filhos se refugiaram – durante algum tempo – numa fazenda do sertão pernambucano, localizada a mais de 100 km de Barbalha. Isso não impediu Zuca de – em toda primeira sexta-feira de cada mês – cavalgar longo percurso para confessar-se e comungar, em reparação às ofensas que a humanidade fazia ao Sagrado Coração de Jesus. Este costume de comungar na primeira sexta-feira de cada mês o acompanhava desde a infância. Naquela fazenda de exílio, localizada no árido sertão pernambucano, Zuca Sampaio se refez dos prejuízos sofridos, enquanto aguardava a hora de retornar a sua cidade natal para recomeçar suas atividades comerciais, bruscamente interrompidas, e reativar sua prestação de serviços aos pobres e desfavorecidos da vida.
Na juventude, Zuca Sampaio alimentou, por longo tempo, o desejo de ser padre. Almejava ser um sacerdote nos moldes do legendário Padre Ibiapina e só desistiu desse intento, após longas conversas com o então vigário de Barbalha, Padre João Francisco da Costa Nogueira. Este era um virtuoso modelador da família católica barbalhense. Padre João Francisco aconselhou Zuca Sampaio a constituir uma família. Mas só aos 33 anos Zuca veio a contrair matrimônio com Maria Costa Sampaio – Mãe Yayá – procedendo do casal nove filhos: Dr. Leão Sampaio, Dr. Pio Sampaio, Antônio Costa Sampaio, General Manoel Expedito Sampaio, professora Maria Alacoque Sampaio, José Costa Sampaio, Paulo Sampaio e mais dois falecidos, na tenra infância.
Zuca Sampaio trabalhava o dia inteiro no seu estabelecimento comercial, com ligeiro intervalo para o almoço. Próximo ao pôr-do-sol, passava na sua residência para o jantar. Em seguida, pegava um candeeiro, livros e material de ensino e ia lecionar as primeiras letras no “Gabinete de Leitura”, instituição por ele fundada, destinada à alfabetização de pessoas carentes de Barbalha. Lá, ensinava os princípios morais, a doutrina cristã e o amor à pátria. Foi o leigo católico de maior projeção de Barbalha, tendo, ainda, presidido, por longos anos, a Conferência de São Vicente de Paulo, da qual foi um dos fundadores, em 1889.
Zuca Sampaio foi um chefe de família vigilante. Proporcionou uma sólida formação moral e intelectual aos seus filhos, os quais vieram a se destacar – depois de passar por boas escolas e academias, em capitais de Estados brasileiros – como continuadores da ação benéfica do pai. A memória coletiva de Barbalha guarda ainda a imagem do Zuca Sampaio que amparava os necessitados da sua comunidade. Ele foi também um dos líderes na construção da bela Igreja do Rosário. Zuca foi um católico autêntico, pois viveu coerentemente a doutrina de Jesus, pregada pelos apóstolos e seus sucessores. Era devotíssimo da Virgem Maria.
Padre Azarias é enfático ao lembrar as qualidades morais de Zuca
Sampaio: “Sua franqueza ia ao extremo. Interessando-se pela sorte de
todos, condoendo-se de todos os infortunados, jamais o intimidava a ira
dos maus ou o melindre dos poderosos, se se tornava necessária uma
palavra franca, em defesa da inocência, da fé ou da moral”.
Eis, em rápidas linhas, e de forma incompleta, o perfil moral e religioso de Zuca Sampaio.
Eis, em rápidas linhas, e de forma incompleta, o perfil moral e religioso de Zuca Sampaio.
Texto e postagem de Armando Lopes Rafael
Nada tenho contra as elites. Tenho contra aquele que chega lá da maneira mais vil, vergonhosa e imunda e fica destratando-a para tirar proveito como o Cara faz.
ResponderExcluirPlínio Corrêa de Oliveira sintetizou bem: “A elite é um escol social, um grupo de pessoas que se relacionam entre si a vários títulos e exercem uma atividade comum a todas elas; tal atividade lhes dá, pela própria natureza das coisas, uma participação no mando e na influência sobre certo setor da população”.
ResponderExcluirInfluência direcionada a fazer o bem. A amparar a pobreza. A buscar melhoramentos para a sua comunidade. A servir como exemplo de honestidade, de correção e equilíbrio. A elite não era uma usufruidora de privilégios como pensam os desinformados de hoje. Sobre ela recaía pesada responsabilidade social.
Mesmo pessoas de origem humilde, quando se esforçam e lutam para crescer atingem o status de elite. Foi esse o caso do Presidente Juscelino Kubitschek. Esse sim encontrou um Brasil atrasado economicamente (coisa que vinha desde o golpe militar que derrubou a Monarquia) e fez o Brasil progredir 50 anos em 5. Industrializou o País, construiu nova capital, falava corretamente o português, e tinha postura de estadista...
REPERCUSSÕES SOBRE O ARTIGO LEMBRANDO ZUCA SAMPAIO:
ResponderExcluirCaro Armando,
Agradeço seu artigo sobre tio Zuca.
Não o conheci, mas a tia Yayá sim; era irmã de vovó Filó. Eu era pequeno e ela, tia Yayá, já estava de cama há um certo tempo. Aos filhos deles, primos de mamãe, conheci bem e convivi com eles e seus filhos até os 15 anos. Depois os vi ocasionalmente; sempre muito próximos.
Tive a sorte, a graça de Deus, de respirar essa atmosfera de retidão humana, vivência profunda do cristianismo e filantropia sincera e desinteressada.
Parabéns pelo artigo: escrito a rápidas pinceladas, mas muito interessante, do ponto de vista conceitual e histórico. E muito agradável de ler.
Um forte abraço do seu amigo
Mons. Pedro Barreto Celestino
Vigário do Opus Dei – Rio de Janeiro (RJ)
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Armando:
E' representativa a sua exposição sobre "o perfil moral e religioso de Zuca Sampaio". Entretanto, priva o leitor de reverenciar-lhe a memória. "Zuca Sampaio nasceu em Barbalha no dia 7 de agosto de 1861." E quando morreu? E' uma observação pertinente. Um abraço.
José Peixoto Júnior
Ex-Presidente da Associação Nacional de Escritores–ANE
Brasília-DF.