A grossura pessoal, a completa falta de educação urbana e a incapacidade de pensar coletivamente levou a grande maioria dos motoristas de São Paulo a detestar Fernando Haddad. Entre outras coisas, por ele ter determinado a redução do limite de velocidade em algumas avenidas.
Para quem não se lembra, até Lula (sujeito bancado durante anos pela “elite branca” que fingia combater) chegou a debochar dessas medidas de Haddad, em discurso na campanha de 2016. Mas, agora, o prefeito eleito de São Paulo promete levar à prática o retrocesso que Lula queria: os carros voltarão a correr mais naquelas avenidas paulistanas.
Ao fazer isso, o tal do João Dória vai decididamente na contramão do padrão que se vai estabelecendo atualmente nas democracias mais ricas e avançadas do mundo. Como nos casos de Londres, cujo limite de velocidade chega a ser de 32 km, e de Nova York, onde, na maior parte das vias, o limite é de 40 km. Tudo em nome do bem-estar da população.
Quanto mais alta a velocidade, maior o número de “acidentes”, claro. Só idiotas (de direita ou de esquerda) não querem ver isso. E escrevo a palavra “acidente” entre aspas, por uma razão óbvia. Os estudiosos da vida urbana sabem que a maioria das merdas que são feitas no trânsito brasileiro não cabem na definição de “acidente”.
É óbvio. Olhem no dicionário: “acidente” significa acontecimento casual, fortuito, inesperado. Algo que, por sua imprevisibilidade, somos obrigados a creditar na conta do acaso. Ser atingido por um raio, por exemplo, é um acidente.
Mas ser atropelado por um automóvel que fura um sinal vermelho a 80 km/h, não – é uma ocorrência perfeitamente previsível. Nada tem de verdadeiramente acidental. Um motorista que faz isso está muito mais próximo da figura do crime premeditado do que da natureza do acidente.
Aumentar a velocidade das Marginais paulistanas não implica, portanto, simplesmente concorrer para aumentar o número “acidentes”. Mas, isto sim, incrementar a estatística de fatos absolutamente previsíveis e esperados, aumentando o número de mortes e aleijões na população paulistana.
Ou seja: em vez de zelar pela gente da cidade, Dória vai aumentar a dose de risco na vida de todos. É o contrário total do que qualquer prefeito sério deveria fazer. E Dória terá de ser responsabilizado por isso.
Não sei se será possível responsabilizá-lo juridicamente pelos crimes que serão cometidos. Mas moralmente, não tenho dúvida: ele está responsabilizado desde já.
O que está definitivamente claro é que não há planejamento. Cada prefeito que entra inventa um modelo de administração, sem estudos ou base fundamental. E, o povo fica tonto como cego em tiroteio.
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