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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 2 de julho de 2017

CHARUTO SE VENDEU - Por Antônio Morais.

Em décadas passadas, a APCDEC, promovia o torneio “intermunicipal”, contenda que premiava as equipes dos municípios interioranos que investiam no esporte da bola.

Em 1974, Crato e Várzea-Alegre ficaram na mesma chave. No jogo de ida, o médico e desportista Antônio Valdir de Oliveira solicitou do prefeito de Várzea-Alegre Lourival Frutuoso toda atenção com o escrete cratense. Foi contratado o melhor hotel da cidade para fazer a hospedaria.

Quando a delegação chegou Dona Emília, a hoteleira, se esmerou na atenção e cuidados. Desembarcaram do ônibus de seu Chagas Bezerra craques famosos como: Dote, Chico Curto, Anduiá, Netinho, Luís e Antônio Pé de Pato, Fruta Pão, Pirol, Sibito, o afamado artilheiro Pangaré e outros sob o comando austero do treinador e meu querido professor de historia Alderico de Paula Damasceno.

Dona Emília com muita lhaneza no trato cumprimentou a todos exigindo o nome de cada um deles. No final das apresentações, Gerçon Moreira que representava a imprensa, digo, a Revista Região do Osvaldo Alves, se apresentou como sendo o “Vigário da Batateira”. 

Vige Maria, Dona Emília quase cai pra trás. Era muita honra hospedar um padre. Como ia poder fazer um atendimento diferenciado sem que os demais percebessem? 

Os cuidados com a alimentação deviam ser dobrados visto que as 20 galinhas caipiras apimentadas e um “bacurim” de 40 quilos poderiam não atender e agradar ao paladar de todos, em especial do vigário que tinha maior merecedência.

O almoço foi servido numa mesa de pau d!arco medindo 06 metros de comprimento com dois de largura colocada na sala do centro do hotel. Dona Emília espalhou as panelas pela mesa e numa delas havia um “molho pardo” que era a especialidade da casa. Quando Anduiá colocou o arroz botou duas colheres da “especiaria” e começou a misturar, Chico Curto, jogador cheio de mungangas, cheio de nove horas, olhou de soslaio e disse: bicho, deixa de ser burro, “chouriço” agente come é no fim!

Pra se ter uma idéia até água Dona Emilia havia mandado buscar no Crato para agradar aos atletas. Dona “Anunciada”, chefe de cozinha dizia lá com os seus botões, Deus me livre e guarde, mas uma coisa está me dizendo, aqui no meu ouvido, que esse padre não é padre.

Antes do jogo houve um principio de emboança por conta do arbitro. Anildo Batista, o bode, queria porque queria apitar e os cabras de lá sabendo que alem de arbitro ele era vereador não aceitaram diante da possibilidade de uma misturação da arbitragem com política. 

Depois da intervenção do João Ramos, presidente da APCDEC um arbitro se deslocou do Iguatu para apitar o jogo.

O jogo transcorreu normalmente, o placar de dois a zero para o Crato era mais ou menos esperado. Nesse dia o artilheiro Pangaré não marcou. Os gols foram contra de Charuto, zagueiro da Batateira, que havia assinado contrato há bem pouco tempo com  o selecionado da terra do arroz.

No outro dia, o zum zum zum se ouvia de boca em boca. O juiz roubou, deixou de marcar impedimento, que nada rapaz, você já viu gol contra ter impedimento, outro dizia Charuto se vendeu, ele é de lá, quem pode confiar em gente da Batateira? E dona Emilia bradava: só podiam ganhar trouxeram  até o Padre!

Finalmente eu só não posso informar uma coisa, quando foi que Dona Emilia recebeu a conta! Venha amanhã, o prefeito viajou, a tesoureira está doente, o talonário de cheque acabou!


Foto - Anduiá, as filhas e Wilton Bezerra.

Comentário do cronista esportivo Wilton Bezerra.

Teve rápida passagem pelo Ceará no final dos anos 1950. Sempre retornava ao Crato. Virou treinador por um período. Um grande sujeito. Na foto estou ao seu lado e de suas filhas em visita que lhe fiz em 2006.

Anduiá foi a minha primeira grande admiração. Grande centro-avante, ótimo sujeito. Infelizmente no seu tempo não existia o intercâmbio que hoje se assiste. Um pequeno problema o impediu de permanecer no Ceará no final dos anos 1950. 

Fiquei muito triste com a sua morte. Anduiá continua jogando um bolão nas minhas lembranças. 

Wilton Bezerra.

3 comentários:

  1. Comentário do Cronista Wilton Bezerra.

    Teve rápida passagem pelo Ceará no final dos anos 1950. Sempre retornava ao Crato. Virou treinador por um periodo. Um grande sujeito. Na foto estou ao seu lado e de suas filhas em visita que lhe fiz em 2006.

    Anduiá foi a minha primeira grande admiração. Grande centro-avante, ótimo sujeito. Infelizmente no seu tempo não existia o intercâmbio que hoje se assiste. Um pequeno problema o impediu de permanecer no Ceará no final dos anos 1950.

    Fiquei muito triste com a sua morte. Anduiá continua jogando um bolão nas minhas lembranças. Wilton Bezerra.

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  2. Melhor ainda, foi o apagão que deu no jogo Crato X Barbalha no campo do Sport pelo Intermunicipal de 1967 e a Rádio Acarape ficou com um fundo musical comentado por seu " Buba" com músicas mpb da época...e vamos ouvir agora, enquanto não começa o jogo...RONDA....COM GENERAL COSTA. Na verdade era Gal Costa. E as Forças Armadas não gostaram.

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  3. Carlinhos - Seu Buba deu uma de Zé Dondon em Varzea-Alegre lendo avisos na Radio Cultura - Atenção Vital , Raimundo avisa que a Gorete morreu de tingui. Depois de repetir varias vezes corrigiu : A garrota morreu de tingui. E ainda pediu desculpas pela pequena falha.

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