Páginas


"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Réquiem* para uma “ré-pública” (1ª parte) – por Armando Lopes Rafael

* Cantochão ou música do ofício de defuntos

Após o golpe militar de 15 de novembro de 1889, era assim que os republicanos imaginavam o futuro do Brasil: até as famílias mais humildes iriam venerar os "bons frutos" da República. Deu no que deu.
  
   Em 1834, quando o tenente João da Rocha Moreira – também conhecido pelo apelido de Peso Duro – conduzia preso e algemado, de Fortaleza para Crato, o caudilho Pinto Madeira, fez uma parada na Vila de Icó. “Peso Duro”, numa conversa com o tabelião de Icó, apontou para Pinto e Madeira e proferiu, com empáfia:
   – Já está fedendo a cadáver!

    O fato é real. Está registrado no livro História do Cariri, volume III, de J. de Figueiredo Filho, edição da Faculdade de Filosofia do Crato, 1966, página 40. Fato que culminou, na Vila Real do Crato, com a condenação à morte de Pinto Madeira, num simulacro de um Tribunal do Júri, composto por jurados facciosos, escolhidos a dedo entre os inimigos do réu. Uma “representação” apenas para dar a aparência legal a um veredicto previamente decidido.

       Reporto-me ao fato acima para, “Pensando aqui com meus botões", concluir que a estrutura oficial da atual República Federativa Brasileira também “está fedendo a cadáver”. No retorno de mais uma rotineira viagem a Belo Horizonte, embarco com um camalhaço de jornais. “Quem lê tantas notícias?”, como dizia Caetano Veloso. Aliás, o velho compositor baiano atualmente posa de defensor dos “Sem Teto”. Que fim, hein Caetano?

         Mas voltemos aos estertores da República brasileira. Vou lendo e assinalando as notícias do mundo oficial. O caos da segurança pública: Em 2016 foram registrados no Brasil 61.619 mortes violentas intencionais. Para o leitor comparar: 58 mil americanos morreram em toda a Guerra do Vietnã. Leio uma carta de um defensor do atual Presidente da República, onde consta esta frase: “Temer pode até ter comprado o Congresso, só que Lula vendeu a Nação para financiar seu projeto de poder”.

         Viro a página. Leio nova manchete: o ministro Gilmar Mendes (aquele que “age a seu bel prazer", conforme disse seu colega Luís Roberto Barroso em recente e triste bate boca na mais alta corte da Justiça republicana), pois bem, Gilmar Mendes concedeu habeas corpus ao megacorrupto ex-governador Sérgio Cabral, livrando este último de uma prisão de segurança máxima. Gilmar Mendes é o ministro do STF que o ex-Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, iniciou um pedido de impeachment, alegando que contra ele pesa a acusação de favorecer aos réus de “colarinho branco”.

           Aliás, como diz um dito popular: Até um relógio parado marca a hora certa duas vezes ao dia. É do ministro Gilmar Mendes esta frase que bem define as decisões da mais alta Corte da Justiça Republicana: "De vez em quando nós somos esse tipo de Corte que proíbe a “vaquejada” e permite o aborto".

           O tempora, o mores! (locução latina que significa "ó tempos! ó costumes!").  
           Para que o artigo não fique longo, voltarei com novas reflexões, sobre esta nauseabunda república na próxima postagem.

Um comentário: