Bandeira
do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves-- o pavilhão oficial da
nossa Pátria em 1817, que foi novamente hasteado em Crato após a derrota
da Revolução Pernambucana, na Cidade de Frei Carlos Maria de Ferrara
No livro À
Margem da História do Ceará (1) de Gustavo Barroso, (2ª edição
patrocinada em 2004 pela Fundação de Cultura, Esporte e Turismo–FUNCET,
da Prefeitura de Fortaleza) consta um capítulo, às páginas 155-157,
sobre o cratense Leandro Bezerra Monteiro com o título “O Primeiro
General Honorário do Brasil”.
Arrimado em pesquisas de outro
cratense, José Denizard Macedo de Alcântara, o historiador Gustavo
Barroso afirma que Leandro Bezerra Monteiro ao receber o posto de
brigadeiro – à época uma alta patente pouco usada na organização militar
brasileira – tornou-se o primeiro general honorário da nossa pátria.
Diga-se de passagem, que essa concessão, feita presumivelmente em 1825 –
pelo Imperador Dom Pedro I – representou um reconhecimento da
fidelidade à Coroa, da parte de Leandro Bezerra Monteiro e do seu clã
familiar, nos episódios armados levados a efeito contra a instituição
monárquica e que se convencionou chamar de Revolução Pernambucana de
1817 e Confederação do Equador de 1824.
Vale este registro:
somente um século depois, em 1925, outra pessoa ligada também à história
do Cariri, esta nascida no estado da Bahia, no caso o médico e caudilho
Floro Bartolomeu da Costa, entraria no restrito rol dos
“generais-honorários” do Exército brasileiro. A honraria concedida ao
Dr. Floro se deveu à ajuda deste na montagem do “Batalhão Patriótico”,
destinado a lutar contra a Coluna Prestes que tentava derrubar do poder o
Presidente da República, Arthur Bernardes. A história registra que ao
morrer – em 08 de março de 1926 – no Rio de Janeiro, Floro Bartolomeu
foi sepultado com as honras de General do Exército.
Memória do Brigadeiro
Voltemos
a Leandro Bezerra Monteiro. A memória que o velho brigadeiro legou à
posteridade, fruto dos seus atos ao longo de quase cem anos de
existência, poderia ser sintetizada na análise de ilustres intelectuais,
como se depreende abaixo.
Gustavo Barroso escreveu literalmente:
“Homem equilibrado e sensato, (Leandro Bezerra Monteiro) nunca deixou
de ser fator ponderável de equilíbrio social, naturalmente defendendo o
que se chamava conservadorismo”.
José Denizard Macedo de
Alcântara complementa: “Os Alencares eram vingativos e impetuosos.
Filgueiras, inconsequente e violento. Pinto Madeira exprime a velha
rivalidade jardinense contra o Crato, oriunda da elevação daquela
localidade (Jardim) à categoria de vila, questão que o nosso século
assistira de novo em relação a Juazeiro. Só Leandro Bezerra revela já
essa tendência da nossa cultura, da nossa história, como o mais cratense
de todos e fadado por isso a melhor simbolizar e exprimir as virtudes
da nossa comunidade. Daí a sua importância na perspectiva da história
cratense, quiçá da sua sociologia”.
Monsenhor Francisco Holanda
Montenegro é taxativo: “A relevar o nome do mais ilustre dos cratenses, o
Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, o nume tutelar dos Bezerra de
Menezes do Cariri. Ele se tornou grande, primus inter pares, pela
retidão de caráter, pela nobreza de sentimentos, pela vida exemplar de
que era dotado. Homem de Deus, espírito límpido e transparente, franco,
sincero, leal. A par de sua honestidade, corriam parelhas a prudência, o
equilíbrio e o bom senso."
Amália Xavier de Oliveira, na sua
conhecida obra “O Padre Cícero que eu conheci”, relaciona os filhos do
Brigadeiro e acrescenta: "A esses frutos do seu afeto conjugal dedicou
ele enquanto vivo tudo o que a sensibilidade afetiva pode inspirar de
mais delicado e puro. Eram o seu enlevo e a sua preocupação; queria-os
iguais a si na retidão do caráter, na compreensão dos deveres para com
Deus, a pátria e a sociedade”. Amália Xavier ainda acrescentou: “O
fundador do Povoado de Juazeiro, iniciado com a construção da Capelinha
foi o Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro”.
A exemplo de outros
fatos, de relevância histórica na nossa pátria, a memória do Brigadeiro
Leandro Bezerra Monteiro foi programaticamente esquecida nos livros de
História, a partir do golpe militar de 15 de novembro de 1889,
responsável pela implantação da República no Brasil. Quiçá por
orientação dos novos ideólogos da forma republicana de governo, ora no
poder. E isso ocorreu, provavelmente, pelo fato de Leandro Bezerra
Monteiro ter sido fervoroso monarquista.
Ao tratarem da Revolução
de 1817 (que foi derrotada em Crato sem necessidade de se disparar um
único tiro), a partir de 1889 os novos historiadores pouco mencionavam o
legendário Brigadeiro. Omitiam sua decisiva participação para debelar a
revolta republicana de 1817 em Crato, bem como sua inegável coragem
pessoal e cívica, naquele episódio. No entanto tantas foram as virtudes
de Leandro Bezerra Monteiro, tão grande foi o seu valor, que a sua fama
refulgirá sempre, cada vez mais, a partir de agora e pelos séculos
futuros!
É a justiça de Deus na voz da história, parafraseando o
clássico soneto feito pelo Imperador Dom Pedro II, pouco antes de
morrer.
NOTA:
(1) A primeira edição desta obra veio à lume
postumamente, em 1962, por iniciativa do então reitor da Universidade
Federal do Ceará, Antônio Martins Filho. Gustavo Barroso nasceu em
Fortaleza em 29 de dezembro de 1888 e faleceu no Rio de Janeiro em 03 de
dezembro de 1959. Historiador, romancista, memorialista, advogado,
político, arqueólogo e contista, Gustavo Barroso escreveu centenas de
trabalhos sobre história do Brasil e deixou 128 livros publicados.
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