CINISMO E VAIAS - Por Wilton Bezerra, Comentarista esportivo da TV Diário e Rádio Verdes Mares

Nelson Rodrigues, cuja preocupação maior era compreender o ser humano, afirmava que o homem é o único animal que se falsifica.

Se faz de bêbado, rico, pobre, valente, besta, altruísta e até de humanista. Para tanto, carrega uma enorme carga de cinismo.

É aí, onde a classe política que nos governa dá um “show de bola”.

Um cínico com graça foi François Rabelais, escritor francês, que no seu testamento, grafou: “Nada tenho, devo muito, o resto deixo para os pobres”.

Já os “nossos” cínicos, não têm graça nenhuma.

Eles visitam escombros de um prédio devorado pelo fogo e procuram tirar proveito político da desgraça.

Como gigolôs da miséria, o máximo que conseguem é discutir se o problema é municipal, estadual ou federal.

No Ceará, é assim quando o assunto é a violência, a matança.

Com a proximidade das eleições, a arte cínica passa a ter o componente das vaias.

Impressiona como o efeito auditivo dos apupos já não servem como freio para os oportunistas.

Vejam a visita do presidente Temer, ancorado na sua “popularidade” e “aprovação” do seu governo, ao prédio destruído no centro antigo de São Paulo.

Aliás, um prédio que cobrava aluguel dos sem tetos, através de uma associação que diz trabalhar na proteção dos que não têm onde morar.

Pois bem, na defesa do seu “legado”, o presidente quis mostrar a sua solidariedade aos sem nada e foi recebido com vaias, na chegada e na saída.

Pelo Brasil afora, as vaias e insultos devem ganhar maiores dimensões.

Imagina-se um entendimento por parte dos políticos de que até a vaia consagra.

Portanto, cinismo e vaia estão se dando muito bem no atual cenário.

Quem vaia pode até não saber porque o faz.

Já os vaiados, conhecem perfeitamente as razões pelas quais recebem estas “homenagens” ruidosas.

Os brindados por essas manifestações de desapreço, caminham em frente, sem olhar para trás.

Não querem repetir Orfeu, que ao olhar para trás, transformou Eurídice numa estátua de sal.