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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 29 de abril de 2019

Centenário de nascimento de Dom Vicente de Paulo Araújo Matos– 3º Bispo da Diocese de Crato – 5ª crônica lida na Rádio Educadora do Cariri em 06-06-2018

Dom Vicente Matos, o defensor dos trabalhadores rurais
Dom Vicente Matos recepciona o Ministro da Saúde do Brasil, Dr. Mário Pinotti, na inauguração da Rádio Educadora do Cariri

    Quando Dom Vicente Matos chegou ao Cariri, em agosto de 1955, encontrou o trabalhador rural do Sul do Ceará em igual condições aos de todos integrantes dessa classe, espalhados pelos sítios e fazendas do Nordeste brasileiro. Viviam eles em situação de penúria, sem assistência médica e sem direitos reconhecidos. Esse trabalhador era reconhecido como “morador” de um proprietário rural. Nada mais do que isso. Ser morador significava para ele, em primeiro lugar, morar numa propriedade e prestar serviços com baixa remuneração ao dono dessa propriedade.  Um morador era sempre conhecido como “O morador do Sr. Fulano”.
    
      Dentre as muitas conquistas que Dom Vicente de Paulo Araújo Matos proporcionou às populações que viviam nos campos, nos municípios componentes da Diocese de Crato, uma das mais significativas foi a organização dessas pessoas através de suas filiações aos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais.

   Deve-se, pois, a Dom Vicente Matos a criação dos primeiros sindicatos de trabalhadores rurais nos municípios do Sul do Ceará. Foram esses sindicatos que permitiram – num primeiro momento –, a discussão dos problemas que envolviam os trabalhadores do campo, criando um espaço antes inexistente para essa discussão. Com o surgimento dos sindicatos dos trabalhadores rurais tornou-se possível a visualização da dura realidade vivida pelos rurícolas caririenses.

   Graças ao equilíbrio e sensatez de Dom Vicente Matos, quando a Diocese de Crato começou a criar os sindicatos dos trabalhadores rurais, estes não foram envolvidos pelo caminho da radicalização, nem pela pregação da luta-de-classes, nem pelo incentivo à simples oposição entre trabalhadores e proprietários de terra.

   O pensamento central de Dom Vicente Matos, ao tornar realidades os primeiros Sindicatos de Trabalhadores do interior do Ceará, foi a de que essas instituições servissem para a melhoria das condições de vida do trabalhador. Esses anseios foram concretizados dentro da harmonia entre as classes sociais, como, aliás, fora pregado pelo Padre Ibiapina, no século 19. E os sindicatos fundados pela orientação da Igreja Católica no Cariri possibilitaram um clima de paz e a preservação da ordem através da mediação realizada pelo Estado no atendimento às demandas mais urgentes dos trabalhadores rurais.

    Somente em 1972, o Governo Federal criou o FUNRURAL e os trabalhadores obtiveram alguns direitos, a exemplo da aposentadoria, depois de uma existência inteira vivida em meio à pobreza e ao sofrimento. No Cariri, Dom Vicente Matos foi um pioneiro na defesa do trabalhador rural.
Dom Vicente Matos visitando a cidade de Barbalha

Um comentário:

  1. O Crato e seu povo são eternos devedores do trabalho da Diocese capitaneado pelos três primeiros bispos. Com uma atenção toda especial ao Dom Vicente.

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