Dom Vicente Matos, o defensor dos trabalhadores rurais
Dom Vicente Matos recepciona o Ministro da Saúde do Brasil, Dr. Mário Pinotti, na inauguração da Rádio Educadora do Cariri
Quando
Dom Vicente Matos chegou ao Cariri, em agosto de 1955, encontrou o
trabalhador rural do Sul do Ceará em igual condições aos de todos
integrantes dessa classe, espalhados pelos sítios e fazendas do Nordeste
brasileiro. Viviam eles em situação de penúria, sem assistência médica e
sem direitos reconhecidos. Esse trabalhador era reconhecido como
“morador” de um proprietário rural. Nada mais do que isso. Ser morador
significava para ele, em primeiro lugar, morar numa propriedade e
prestar serviços com baixa remuneração ao dono dessa propriedade. Um
morador era sempre conhecido como “O morador do Sr. Fulano”.
Dentre as muitas conquistas que Dom Vicente de Paulo Araújo Matos
proporcionou às populações que viviam nos campos, nos municípios
componentes da Diocese de Crato, uma das mais significativas foi a
organização dessas pessoas através de suas filiações aos Sindicatos dos
Trabalhadores Rurais.
Deve-se, pois, a Dom Vicente Matos a
criação dos primeiros sindicatos de trabalhadores rurais nos municípios
do Sul do Ceará. Foram esses sindicatos que permitiram – num primeiro
momento –, a discussão dos problemas que envolviam os trabalhadores do
campo, criando um espaço antes inexistente para essa discussão. Com o
surgimento dos sindicatos dos trabalhadores rurais tornou-se possível a
visualização da dura realidade vivida pelos rurícolas caririenses.
Graças ao equilíbrio e sensatez de Dom Vicente Matos, quando a Diocese
de Crato começou a criar os sindicatos dos trabalhadores rurais, estes
não foram envolvidos pelo caminho da radicalização, nem pela pregação da
luta-de-classes, nem pelo incentivo à simples oposição entre
trabalhadores e proprietários de terra.
O pensamento central
de Dom Vicente Matos, ao tornar realidades os primeiros Sindicatos de
Trabalhadores do interior do Ceará, foi a de que essas instituições
servissem para a melhoria das condições de vida do trabalhador. Esses
anseios foram concretizados dentro da harmonia entre as classes sociais,
como, aliás, fora pregado pelo Padre Ibiapina, no século 19. E os
sindicatos fundados pela orientação da Igreja Católica no Cariri
possibilitaram um clima de paz e a preservação da ordem através da
mediação realizada pelo Estado no atendimento às demandas mais urgentes
dos trabalhadores rurais.
Somente em 1972, o Governo Federal
criou o FUNRURAL e os trabalhadores obtiveram alguns direitos, a
exemplo da aposentadoria, depois de uma existência inteira vivida em
meio à pobreza e ao sofrimento. No Cariri, Dom Vicente Matos foi um
pioneiro na defesa do trabalhador rural.
Dom Vicente Matos visitando a cidade de Barbalha
O Crato e seu povo são eternos devedores do trabalho da Diocese capitaneado pelos três primeiros bispos. Com uma atenção toda especial ao Dom Vicente.
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