Cariri, uma região privilegiada
Localizada
no centro do Nordeste brasileiro, constituindo-se um oásis – pois
cercado pela paisagem seca do árido sertão nordestino – o Cariri
cearense é uma região privilegiada. Lá, fica a Chapada do Araripe, a qual, dentre vários atrativos, abriga a Floresta Nacional do Araripe,
onde existem redutos da Mata Atlântica no Brasil. O leque do ecoturismo
da Chapada do Araripe é variegado: a flora e a fauna complementam
atrações, como as trilhas que são percorridas a pé ou de bicicleta; o
rapel, o voo de parapente e até balonismo. Outros atributos da Chapada
do Araripe são desconhecidos dos caririenses. Confira abaixo.
Bacia Sedimentar do Araripe, o berço da Paleontologia do Brasil
Fóssil de um Rhacolepis
Historicamente, o berço da paleontologia do Brasil é a região da Bacia Sedimentar do Araripe.
Isso se comprova com o primeiro o relato (e desenho) de um fóssil
brasileiro, na publicação do livro “Viagem pelo Brasil” (Reise in
Brasilien) editado entre 1823 e 1831, onde consta uma referência a um
peixe “Rhacolepis’, encontrado numa concessão carbonática, na região da Barra do Jardim (atual cidade de Jardim).
A riqueza dos fósseis da Chapada do Araripe
É nessa Bacia Sedimentar que fica a Chapada do Araripe,
com 165 Km de extensão, estendendo-se pelas divisas do Ceará, Piauí e
Pernambuco. Ela é conhecida pela sua rica biodiversidade e considerada a
região fossilífera mais rica do período Cretáceo, em todo o planeta.
Explicou o paleontólogo Alexandre Kellner (em entrevista à revista
“Galileu”, número de agosto de 2000) que “o clima árido contribuiu para a excelente qualidade da preservação dos fósseis, ali existentes".
Há cerca de 100 milhões de anos, existiam na Chapada do Araripe
pequenos lagos, ocasionalmente alimentados pela água do mar. “A baixa
concentração de oxigênio, no fundo desses lagos, dificultou a
proliferação de bactérias e, portanto, a decomposição da matéria
orgânica. Escavações ali realizadas já revelaram 350 exemplares de
pterossauros de 19 espécies diferentes, sem falar de outros fósseis de
animais e vegetais".
José Flávio Vieira lançará este mês seu novo livro
O escritor cratense José Flávio Vieira, que também é médico, lançará no próximo dia 28 de setembro, seu mais recente livro, “Dormindo à borda do abismo – A medicina no Cariri cearense (1800-1900”).
O lançamento do livro acontecerá no Salão de Atos da Universidade
Regional do Cariri - URCA, em Crato e será apresentado por Carlos Rafael
Dias, professor do Curso de História dessa Universidade.
O livro, com mais de quatrocentas páginas, farta e ricamente ilustrado,
é resultado de uma profunda e longa pesquisa a partir de fontes
documentais primárias e bibliográficas, a exemplo dos jornais
pertencentes à Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, à Hemeroteca
do Instituto Cultural do Cariri, ao Departamento Histórico Diocesano
Padre Antônio Gomes de Araújo e à Biblioteca Menezes Pimentel, esta
última localizada em Fortaleza. Pelo cuidado com que se revestiu todas
as etapas de sua elaboração, da arrojada pesquisa, passando pela apurada
escrita, feita em estilo peculiar do autor, até a sua editoração, o
livro é um forte candidato a obra definitiva sobre esta temática
regional.
Dividida em dezessete seções, e estes em inúmeros capítulos, a obra
parte de um “continuum” dos principais acontecimentos da medicina na
história geral para depois abordar os aspectos da colonização branca no
Ceará e no Cariri, até chegar aos fatos e processos marcantes da
conjuntura regional durante o século XIX. Nada passa ao largo de sua
atenção, indicando a correlação existente entre os diversos contextos de
uma região. Neste sentido, percebe-se que o autor não limitou seu
enfoque à medicina em si, mas realizou um verdadeiro apanhado sobre a
cultura regional, estabelecendo uma relação entre os vários campos da
história: do econômico ao ambiental, do político ao religioso, do
artístico ao científico, etc. Assim, sua narrativa tem a qualidade de
atrair todos os tipos de leitores, pois segue o ritmo dos acontecimentos
com precisão e é pintada com todas as nuanças possíveis de um panorama
histórico que comporta infinitos e significantes detalhes.
Comparando a feitura do livro a um projeto arquitetônico, o autor
revela que este é apenas “a antessala de uma casinha”, pois seu projeto é
contar a história da medicina no Cariri até a década de 1960, atingindo
“com sua torre, nuvens idílicas e nebulosas”. Não paira nenhuma dúvida
de que ele atingirá o píncaro de sua ambição, visto ser dotado de
disciplina e paixão inerentes aos grandes historiadores e literatos.
Com este lançamento, o público leitor, na amplidão que a expressão
sugere, ganha uma obra que, ao nosso ver, se tornará referência para o
estudo sobre a região do Cariri, no mesmo patamar do clássico “O
Cariri”, de autoria de Irineu Pinheiro que, como J. Flávio, se dividia
entre a profissão médica e o diletante, mas profícuo e competente ofício
de pesquisar e escrever sobre a história regional.
A “Imperatriz do Crato”
O carro-andor
que conduziu, pelas ruas centrais da cidade, a imagem histórica de
Nossa Senhora da Penha – na procissão do último dia 1º de setembro, – tinha
cerca de 4 metros de altura. A decoração do andor foi inspirada no
velho Hino da Padroeira do Crato, também chamado “Imperatriz Constante”, cantado pelos fiéis cratenses nos tempos da Monarquia e nas primeiras décadas da atual fase republicana.
Por que, em Crato, Nossa Senhora era chamada de “Imperatriz” e não de Rainha? Devido à diferença que existe entre um Rei e um Imperador.
Um Rei governa um reino, geralmente pequeno. O Imperador é soberano de
uma grande extensão de terra. Entra aí, principalmente, a relevância da
extensão territorial.
Por exemplo, a Rússia era um Império. A Alemanha e a união da
Áustria-Hungria também. País de dimensões continentais, o Brasil, ao
tempo da monarquia, era reconhecido, mundo afora, como um Império.
Tivemos dois imperadores e três imperatrizes. Daí porque os cratenses
daquele tempo não chamavam Nossa Senhora da Penha de “Rainha” e sim de
“Imperatriz”.
O hino "Imperatriz Constante"
A tradição popular atribui a autoria desse antigo hino a Nossa Senhora
da Penha, ao então Vigário de Crato, e depois primeiro bispo desta
Diocese, Dom Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva. A estrofe “Mãe Imaculada, sois no céu e na terra Imperatriz constante!
” foi escolhida como temática para o andor de 2018. A imagem histórica,
no andor, foi abrigada num castelo estilizado – representando a realeza
de Maria Santíssima – cercada por anjos e flores (gérberas, rosas e
margaridas). As centenas de rosas que ornamentaram o carro-andor foram
doadas pelo povo cratense.
Em
2008, o então pároco Pe. Edimilson Neves (hoje Bispo de Tianguá) mandou
gravar um CD que contém o antigo e o atual Hino de Nossa Senhora da
Penha. Esse CD, gravado pelo Coral de Divani Cabral, ainda se encontra à
venda na lojinha da catedral.
Memória – Um caririense ilustre: João Gonçalves de Sousa
Nasceu no distrito de Mangabeira (município de Lavras da Mangabeira) em
20 de agosto de 1913. João Gonçalves de Sousa foi uma das
personalidades cearenses de destaque nacional no século XX. De origem
humilde, numa visita pastoral que o segundo Bispo de Crato – Dom
Francisco de Assis Pires – fez à Mangabeira, o pai de João Gonçalves lhe
falou da inteligência do filho. E pediu ao bispo que o levasse para
estudar em Crato, no que foi atendido. Estudou no Colégio Diocesano de
Crato (onde trabalhou como contínuo).
Depois rumou para Salvador (BA) levando cartas de recomendações de Dom
Francisco. Passou algum tempo na capital baiana. De lá, seguiu para o
Rio de Janeiro. Conseguiu aprovação em dois vestibulares: Agronomia e
Direito. Concluiu Ciências Jurídicas na Faculdade Nacional de Direito da
Universidade do Brasil.
Dotado de perseverança e inteligência privilegiada, João Gonçalves
chegou a ser alto funcionário da Organização dos Estados Americanos–
OEA, em Washington (EUA). Tinha mestrado em Sociologia Rural, pela
Wiscousin University (EUA), onde estudou de 1944 a 1946. Escreveu
alguns livros, dentre eles: “The Regional Aproach in Exploring The
Northeastern Section of Brazil” (sua Tese de Doutorado, feito nos EUA,
em 1956); “Migrações Nordestinas” de 1957; “Algumas Experiências
Extracontinentais de Reforma Agrária”, de 1963; “Nordeste Brasileiro:
Uma Experiência de Desenvolvimento regional”, de 1979.João Gonçalves de
Sousa foi Superintendente da SUDENE (1964-1966) e Ministro do Interior
(1966-1967).
Teve seu nome cogitado nas articulações para a escolha indireta do
Governador do Ceará, para o período 1975-1979. Era apoiado pelo então
governador César Cals e pelo General Golberi do Couto e Silva, mas o
escolhido foi Adauto Bezerra. João Gonçalves de Sousa nunca perdeu o
contato com suas origens. Quando esteve no poder beneficiou sua vila
Mangabeira com alguns melhoramentos. Faleceu em 16 de janeiro de 1979,
no Rio de Janeiro.
Escritores do Cariri: Joaryvar Macêdo
Joaquim Lobo de Macêdo (mais conhecido por Joaryvar Macedo)
nasceu em Lavras da Mangabeira em 20 de maio de 1937 e faleceu em
Fortaleza em 29 de janeiro de 1991.Foi poeta, historiador e um dos
maiores intelectuais do Cariri. Escreveu e publicou quase 50 trabalhos,
alguns relevantes, dentre os quais vale citar: “Caderno de Loucuras” (poesias); “Os Augustos”; “Um Bravo Caririense”; “A Estirpe da Santa Teresa”; “Povoamento e povoadores do Cariri”; “Império do Bacamarte” e “Temas históricos e regionais”.
Além de professor na Faculdade de Filosofia de Crato e nos principais
colégios de Crato e Juazeiro do Norte, Joaryvar foi fundador do
Instituto Cultural do Vale Caririense–ICVC, com sede em Juazeiro do
Norte, instituição por ele dirigida durante 10 anos. Foi Secretário da
Cultura do Estado do Ceará (1983–1987). Pertenceu à Academia Cearense de
Letras, Instituto do Ceará, Instituto Cultural do Cariri, Instituto
Genealógico Brasileiro, Academia Internacional de Ciências Humanísticas e
membro-correspondente de numerosas instituições culturais do Brasil e
do exterior. Foi agraciado com 12 Comendas, Títulos e Honrarias, dentre
elas a Medalha José de Alencar do Governo do Estado do Ceará.
Prezado Armando - Parabéns pela sua postagem. Está completa.
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