O lado pernambucano da Chapada do Araripe é uma extensão do Cariri
Ronaldo Correia de Brito (foto ao lado),
viveu em Crato até os dezoito anos de idade. Daqui saiu para estudar em
Recife, onde mora até hoje. Nos dias atuais, Ronaldo Correia de Brito é
afamado romancista, contista, dramaturgo, documentarista, médico e
psicanalista. Em 2009, ele recebeu o “Prêmio São Paulo de Literatura” e seu livro “Galileia” foi considerado o Melhor Livro do Ano.
Quinzenalmente Ronaldo escreve e publica uma crônica, que é
reproduzida em vários jornais da grande mídia brasileira. Tempos atrás
ele escreveu uma, com o título “Os territórios afetivos”. A crônica
versa sobre as cidades pernambucanas localizadas no entorno da Chapada
do Araripe, consideradas “satélites” da conurbação Crajubar. Da crônica
de Ronaldo transcrevemos os dois tópicos abaixo:
Os territórios afetivos – 1
Araripina (PE)
“As cidades do interior sertanejo são todas iguais. Há motos em
excesso, o silêncio tornou-se mercadoria rara, os carros não param de
circular, muita gente caminha de um lado para outro, ocupa ruas e praças
como se nada tivesse o que fazer” (...) “Exu, Bodocó, Trindade,
Ouricuri e Araripina, escolhidas para a jornada literária, mais parecem
uma extensão do Cariri cearense. O sotaque, a culinária, os tipos
físicos e as culturas se assemelham. Os moradores dali procuram Crato,
Juazeiro do Norte e Barbalha, bem mais próximo do que o Recife, para
atendimento médico e hospitalar, compra de mercadorias e o comércio do
que produzem. Os estudantes universitários preferem as faculdades do
Cariri a se deslocarem para a capital distante. Também buscam o ensino
em Petrolina e cidades piauienses. Porém o Crajubar, nome que aglutina
as iniciais das três cidades do Cariri, tornou-se naturalmente a capital
da chapada”.
Os territórios afetivos – 2
Ouricuri (PE)
“É possível desenhar um mapa de cidades piauienses, cearenses e
pernambucanas, formando uma região em que as fronteiras de estados foram
abolidas. Um território com afinidades econômicas, históricas,
geográficas, antropológicas e culturais, o parentesco do Araripe. Não
existe desejo separatista, mas temos a impressão de que se trata de
outro estado brasileiro, nascido da cumplicidade. Será que a aglutinação
espontânea desenhou um novo mapa territorial?”
História: A antiga força da Igreja Católica no Cariri
Catedral de Crato, no primeiro quartel do século passado
A enorme influência que a Igreja Católica exercia sobre o povo do
Cariri sofreu acentuada diminuição a partir do final dos anos 1950. Essa
perda de prestigio foi agravada após a implementação, de forma açodada,
de algumas medidas advindas do Concilio Ecumênico Vaticano II
(1962–1965). Mesmo nos dias atuais, a mídia continua noticiando
gravíssimos escândalos internos na Igreja Católica, aumentando, ainda
mais, essa crise de influência. Entretanto, até segunda metade do século
20, no Cariri cearense, o poderio da Igreja Católica era forte e
marcante.
O médico-historiador Irineu Pinheiro relata no seu livro “Efemérides do Cariri” (páginas 224-225) o repúdio que os católicos cratenses manifestaram – em 1945 – a uma caravana, vinda de Fortaleza, para divulgar, no Cariri, os princípios sócio-políticos do Partido Comunista Brasileiro. O Brasil vivia, naquele ano, o fim da ditadura de Getúlio Vargas, que dominara – por 15 longos anos – a então “República dos Estados Unidos do Brasil” (era este o nome oficial da nossa pátria). A abertura democrática pós-ditadura Vargas possibilitava a fundação de novos partidos políticos, dentre eles o Partido Comunista Brasileiro, inspirado na ideologia marxista.
Bastou o segundo Bispo de Crato, Dom Francisco de Assis Pires, se pronunciar contra a realização do comício dos comunistas, previsto para a noite de noite de 9 de setembro de 1945, na Praça Siqueira Campos, para cerca de cinco mil cratenses saírem às ruas, à última hora, dando “vivas à Igreja Católica e morras ao comunismo”. O povo conduzia quatro bandeiras (uma delas era a do Brasil) e pôs em fuga os comunistas presentes em Crato.
Nova tentativa frustrada
Em 21 de novembro de 1945 os comunistas retornaram ao Cariri e
realizaram um comício na Praça de Cristo Rei. Segundo Irineu Pinheiro: “Foram vaiados os oradores pelos assistentes”. Os
militantes comunistas, ante a intensidade do protesto popular buscaram
refúgio no Bar Cairu, localizado na Rua João Pessoa. Nesse interim, uma
grande procissão de fiéis católicos saía da Sé Catedral conduzindo a
imagem histórica de Nossa Senhora da Penha, vindo atrás dela o Bispo
Diocesano. Reza a tradição que a caravana dos comunistas fortalezenses
só não foi agredida pela população porque Dom Francisco de Assis Pires
entrou no bar (onde os comunistas tinham se refugiado) e garantiu a
integridade física deles. O Bispo Diocesano apenas aconselhou-os a irem
para o hotel e embarcarem no próximo trem com destino a Fortaleza. Foi o
que eles fizeram.
Juazeiro do Norte, o chão dos místicos
Muitas pessoas com fama de santidade viveram em Juazeiro do Norte. Uma
dessas foi o Padre Francisco Pinkowski, sacerdote pertencente à Ordem
Salesiana, nascido na Polônia em 1882. Ainda criança foi estudar em
Turim, na Itália. Lá, teve a maior alegria da sua vida: conhecer
pessoalmente São João Bosco. Ainda adolescente, Francisco Pinkowski foi
enviado para Montevidéu, no Uruguai, onde se ordenou sacerdote em 1920.
De lá foi enviado para o Brasil, para Pernambuco, onde residiu de 1921 a 1939. Transferido, em seguida, para Fortaleza, no Ceará, exerceu várias atividades pastorais entre os anos 1940-1943. De Fortaleza veio para Juazeiro do Norte, onde viveu os anos 1944-1945. Mandaram-no oura vez a Pernambuco, em 1946. Sua saudade de Juazeiro do Norte fê-lo retornar à Terra do Padre Cícero onde viveu seus últimos anos de vida. Ali faleceu, em 15 de abril de 1979, aos 96 anos de idade. Foi sepultado, no dia seguinte, no interior da Igreja do Sagrado Coração de Jesus. Ainda hoje sua sepultura é muito visitada. Fiéis dão testemunho de graças alcançadas pela intercessão daquele santo sacerdote.
De lá foi enviado para o Brasil, para Pernambuco, onde residiu de 1921 a 1939. Transferido, em seguida, para Fortaleza, no Ceará, exerceu várias atividades pastorais entre os anos 1940-1943. De Fortaleza veio para Juazeiro do Norte, onde viveu os anos 1944-1945. Mandaram-no oura vez a Pernambuco, em 1946. Sua saudade de Juazeiro do Norte fê-lo retornar à Terra do Padre Cícero onde viveu seus últimos anos de vida. Ali faleceu, em 15 de abril de 1979, aos 96 anos de idade. Foi sepultado, no dia seguinte, no interior da Igreja do Sagrado Coração de Jesus. Ainda hoje sua sepultura é muito visitada. Fiéis dão testemunho de graças alcançadas pela intercessão daquele santo sacerdote.
Sobre este sacerdote escreveu o escritor Mário Bem Filho: “Em Juazeiro
do Norte, Padre Francisco Pinkowski, apesar da idade avançada, jamais se
deixou vencer pelo cansaço. Levantava-se cedo e começava a rezar o
terço e, após meditação, celebrava a Santa Missa. Posteriormente
começava a atender às confissões, saindo, em seguida, sempre a pé, para
prestar assistência aos enfermos pobres que habitavam a periferia de
Juazeiro do Norte. Seu maior sonho era ver concluída a construção da
igreja do Sagrado Coração de Jesus, o que conseguiu realizar.
Um fato extraordinário teria acontecido com o Pe. Francisco Pinkowski
Conta-se, em Juazeiro do Norte, uma história de domínio público. Certa
manhã, Pe. Francisco foi chamado para dar a extrema-unção (hoje chamam
de Unção dos Enfermos) a uma moribunda que residia na Rua da Palha,
então periferia daquela cidade. Saiu a pé, carregando a hóstia
consagrada, estola, livro-devocionário e um recipiente com água benta.
Em lá chegando, Padre Francisco Pinkowski entrou numa pequenina palhoça,
coberta de palha e chão de barro, destituída de qualquer móvel, onde
pudesse colocar os objetos sagrados. Constrangido, por não querer
colocar esses objetos no chão, eis que entra, na palhoça, um rapazinho
de boa aparência, bem vestido e pede ao Padre Francisco para segurar os
objetos, enquanto o sacerdote colocava a estola sobre os ombros. Após
cumprir a tarefa o rapazinho se afastou do pequeno recinto.
A sós com a moribunda, Padre Francisco ouviu-a em confissão, deu a
comunhão e procedeu à Unção dos Enfermos. Ao sair, perguntou a algumas
pessoas que estavam do lado de fora da choupana:
– Onde está aquele mocinho que segurou meus objetos? Gostaria de agradecer-lhe...
Para sua surpresa, os moradores insistem em dizer que, na palhoça, não
entrara ninguém. Padre Francisco retornou ao Colégio Salesiano um tanto
intrigado com o fato. Chegando ao Colégio, entrou na antiga capela do
educandário. Foi quando seus olhos se fixaram num altar e ele viu uma
imagem de São Domingos Sávio. Emocionado, reconheceu naquele santo o
rapazinho que o ajudara, momentos antes, no tugúrio da enferma, a quem
dera assistência espiritual.
Prezado Armando - Ronaldo Correia de Brito é filho de João Leandro Correia Sobrinho, do Sitio Rosário em Várzea-Alegre. Neto do Casal José Leandro Correia e Maria Morais. João Leandro Correia Sobrinho casado com uma Brito do sitio Boqueirão em Crato fixou residencia na cidade ainda jovem. Parabens Armando pelo todo que representa sua bela postagem.
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