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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 19 de novembro de 2018

CARIRIENSIDADE (por Armando Lopes Rafael)


Caririenses ilustres: Padre Francisco Gonçalves Pita

      Nasceu em Missão Velha, no dia em 29 de maio de 1895, filho de Fenelon e Julieta Gonçalves Pita. Em 1909 vamos encontrá-lo estudando no Seminário São José de Crato. Depois foi aluno do Seminário da Prainha, em Fortaleza. Recebeu a ordenação presbiteral em 27 de fevereiro de 1921. Foi logo nomeado Vigário da Paróquia de São Vicente Férrer, de Lavras da Mangabeira, onde permaneceu até dezembro de 1936, retornando a Crato. 

       Quando de um dos fechamentos do Seminário São José, funcionou naquele edificio  o Ginásio São José. Fechado este, Pe. Francisco Pita, com recursos próprios e ajuda dos pais que eram pessoas ricas em Missão Velha, adquiriu um prédio na esquina da Avenida Duque de Caxias com Rua Nelson Alencar e lá fundou e fez funcionar o antigo Ginásio do Crato. Ali, Pe. Francisco Pita  lecionou Geometria, Álgebra, Aritmética, História Natural Física e Química.

       Tempos depois, foi aprovado para ser professor do Colégio Militar de Fortaleza. Deixando Crato,  vendeu o seu Ginásio à Diocese, o qual passou a se chamar Colégio Diocesano de Crato
       Em Fortaleza, foi capelão do Colégio Militar  e da igreja de São Pedro. Primeiro pároco da nova Paróquia de Santa Luzia (fundada em 13.03.1942). Ensinou língua portuguesa do Colégio Militar. Recebeu o título de Monsenhor, que lhe foi  concedido pelo Papa Pio XII. Faleceu na capital cearense, em 23.11.1969, vítima de atropelamento. É patrono da Cadeira de nº 16 do Instituto Cultural do Cariri, com sede em Crato
           
História: sobre o povoamento do Cariri

      Teve início, provavelmente por volta de 1703, o povoamento do extremo sul do Ceará, quando criadores baianos e sergipanos – seguindo o caminho dos rios, que eram então abundantes – chegaram a esta região. Vinham, com seus rebanhos, pela ribeira do Rio Salgado e Riacho dos Porcos. Alguns se fixaram inicialmente na povoação de São José dos Cariris Novos, atual cidade de Missão Velha.
             Primitivo engenho de rapadura do Cariri
    
  Donde se conclui que a primeira exploração econômica do Cariri foi a pastoril. Somente por volta de 1718 (para alguns historiadores), ou 1738 (para outros), descobriu-se a vocação canavieira desta parte do Ceará, graças às amostras de cana-de-açúcar trazidas, provavelmente, da Bahia ou da Zona da Mata de Pernambuco. Teve início, naquele momento, a predominância da agricultura, sobre as atividades pastoris no Cariri cearense.

A presença de famílias da Província de “Sergipe del Rey” nessa povoação
 Antigo Brasão de Armas de Sergipe del Rey, na época da dominação holandesa

      É da lavra do Monsenhor Francisco Holanda Montenegro o melhor escrito sobre a presença de famílias sergipanas na povoação do Cariri. No livro “As Quatro Sergipanas”, Mons. Montenegro deixou para a posteridade suas pesquisas e interessantes descobertas. E fê-lo arrimado em alentados dados históricos, onde prova que nas linhagens da “Gens Caririenses” estavam troncos familiares provenientes da então Província de Sergipe del Rey. 

      Bastaria recordar aqui a ascendência do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro – o “Contrarrevolucionário do Cariri de 1817”, considerado, também, o fundador da cidade de Juazeiro do Norte. O lendário Brigadeiro Leandro era filho do sergipano Antônio Pinheiro Lobo e Mendonça e da pernambucana Joana Bezerra de Menezes. Descendia ele – em linha direta – do português Diogo Álvares (que ficou conhecido pelo nome de "Caramuru") e da índia Paraguaçu (convertida ao catolicismo e batizada em 1528, na Catedral Saint-Malo, na França, com o nome de Catherine du Brésil). Reza a tradição ter sido esse o primeiro casal cristão brasileiro. O livro de Mons. Montenegro, no entanto, tem vasto inventário de outras famílias sergipanas que povoaram o Cariri cearense.

Sobre o Brigadeiro Leandro

Livro "As Quatro Sergipanas", da lavra de Monsenhor Francisco Holanda Montenegro

         Monsenhor Francisco Holanda Montenegro, no seu livro "As Quatro Sergipanas", descreve assim o perfil moral do fundador de Juazeiro do Norte: “... a relevar o nome do mais ilustre dos cratenses, o Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, o nume tutelar dos Bezerra de Menezes do Cariri. Ele se tornou grande, primus inter pares, pela retidão de caráter, pela nobreza de sentimentos, pela vida exemplar de que era dotado. Homem de Deus, espírito límpido e transparente, franco, sincero, leal. A par de sua honestidade, corriam parelhas a prudência, o equilíbrio e o bom senso."

    O Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro nasceu no sítio Moquém, zona rural de Crato, em 5 de dezembro de 1740. A historiadora Amália Xavier de Oliveira (uma das primeiras a defender o Brigadeiro como fundador de Juazeiro do Norte) argumentou que isso ocorreu porque, dentre suas várias propriedades rurais, o Brigadeiro escolheu uma delas para viver seus últimos dias. Era a Fazenda Tabuleiro Grande, (localizada onde hoje se ergue a cidade de Juazeiro do Norte) assim descrita por Amália:

As extensas terras do Brigadeiro Leandro

    Juazeiro do Norte em 1827, numa pintura da artista plástica Assunção Gonçalves. A casa com pequeno alpendre e um banco na frente, era a casa do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro.

   Conforme a escritora Amália Xavier de Oliveira: “... imensa extensão de terra, partindo do município de Crato e espraiando-se em direção à serra de São Pedro, era a Fazenda Tabuleiro Grande, pertencente ao Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro e que, portanto, fazia parte da gleba de terra do engenho Moquém que seus avós doaram aos seus pais como dote, quando eles se casaram. O ponto mais pitoresco da fazenda era uma ligeira elevação do terreno, próximo ao rio Salgadinho, onde havia três grandes juazeiros, formando um triângulo e sobressaindo, entre os demais, pelo tamanho de sua fronde e pela beleza do verde de sua clorofila. Sob esta fronde acolhedora, procuravam abrigo os viajantes feiristas, que, de Barbalha, Missão Velha e outras imediações se dirigiam a Crato para vender seus produtos e comprar mantimentos para a semana (...)

Como Juazeiro do Norte surgiu

       E continua Amália: "Ordenara-se Sacerdote o Pe. Pedro Ribeiro de Carvalho, neto do brigadeiro, porque filho de sua primogênita, Luiza Bezerra de Menezes e de seu primeiro marido, o Sargento-mor Sebastião de Carvalho de Andrade, natural de Pernambuco. Para que o padre pudesse celebrar diariamente sem lhe ser necessário ir a Crato, Barbalha ou Missão Velha, a família combinou com o novel sacerdote a ereção de uma capelinha, no ponto principal da Fazenda perto da casa já existente".

    Em 15 de setembro de 1827 foi lançada a pedra fundamental da capelinha de Nossa Senhora das Dores. Assistiu a essa solenidade o Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, aquela época caminhando para os 87 anos de idade. A imagem de Nossa Senhora das Dores, destinada à capelinha, foi adquirida pelo brigadeiro em Portugal e ainda hoje é conservada, em excelente estado, na Casa Paroquial de Juazeiro do Norte.

Fato histórico pouco divulgado: Padre Cícero era um “Bezerra de Menezes”

      Também o Padre Cícero Romão Batista tinha ascendência sergipana.     
Deve-se aos pesquisadores Renato Casimiro e Daniel Walker a constatação de que, dentre os ancestrais do Padre Cícero Romão Batista, alguns são do clã Bezerra de Menezes. Num livro escrito por esses dois historiadores (“A Família Bezerra de Menezes”, ABC Editora, Fortaleza, 2011) consta: 

“Alguns ancestrais do Pe. Cícero pertenciam à família Bezerra de Menezes. Quem lê estudos mais aprofundados sobre a biografia de Cícero Romão Baptista, o padre secular que revolucionou a Povoação do Joaseiro, entre 11 de abril de 1872 – quando chegou na povoação, e 20 de julho de 1934, quando falece – deve ter encontrado alguns destes registros. As suas tetravó e trisavó maternas, respectivamente, Petronila Bezerra de Menezes e Ana Maria Bezerra de Menezes, filha de Petronila, eram relacionadas por genealogistas como oriundas da contribuição étnica da família, dos troncos existentes entre velhos povoadores da Bahia, de Pernambuco e de Sergipe especialmente.

        No desenvolvimento genealógico desta família, agora é oportuno salientar que, o nono filho do casal Bento Rodrigues Bezerra e Petronila Velho de Menezes, se não teve uma grande importância no povoamento do Cariri, menor não é o significado de sua descendência, especialmente, para Juazeiro do Norte, pois representou o berço do patriarca na extensa Nação Romeira, o reverendíssimo Padre Cícero Romão Baptista. Assim:

1.    João Bezerra de Menezes matrimoniou-se com Maria Gomes, e foram pais de:
2.    Petronila Bezerra de Menezes que casou com o Cap. João Carneiro de Morais, e geraram:
3.    Ana Maria Bezerra de Menezes, que desposou o Cap. Francisco Gomes de Melo, pais de:
4.    José Gomes de Melo, capitão, de cujo enlace com Ana de Farias, tornaram-se pais de:
5.    Vicência Gomes de Melo, que uma vez casada com José Ferreira Castão, foram pais de:
6.    Joaquina Vicência Romana (ou Joaquina Ferreira Castão – Dona Quinô), de cujo casamento com Joaquim Romão Baptista Mirabeau, foram pais de:
7.    Padre Cícero Romão Baptista”.

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