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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 16 de fevereiro de 2019

O filho de Miguel Arraes - por Armando Lopes Rafael (*)



   Conheci Luiz Cláudio Arraes de Alencar – tratado carinhosamente por Lula – quando da temporada que ele passou em Crato, creio que entre 1966-1967, depois que o pai dele – Miguel Arraes de Alencar – foi deposto do cargo de Governador de Pernambuco pelo Golpe Militar de 1964. Luiz Cláudio devia andar aí pelos 7/9 anos e sempre ia à redação do jornal “A Ação” (onde eu trabalhava), em companhia de dois irmãos, pouco mais velhos do que ele, e dos primos residentes em Crato.

   A imagem que tenho dele é a daquele tempo: um garotinho vivaz, inteligente, comunicativo e simpático. Lula era o caçula do primeiro casamento do pai. E por ser o caçula era ainda mais carinhosamente cuidado por sua dedicada avó paterna, dona Benigna, e por suas dedicadas tias Almina, Alda, Laís, Maria Alice e Anilda, todas irmãs do Dr. Miguel Arraes.

    A comunidade cratense tinha conhecimento, à distância, dos imensos transtornos sofridos pela família do político Miguel Arraes. Este foi deposto e preso (em Recife e Fernando Noronha) durante quatorze meses, depois de ter sido abruptamente arrancado do poder. Até que, certo dia, conseguiu ser solto por algumas horas – por meio de um habeas-corpus – e buscou asilo político na Embaixada da Argélia, no Rio de Janeiro. Enquanto isso seus nove filhos ficaram dispersos. Os quatro mais novos viveram uma temporada em Crato na casa da avó Benigna.

     No final de 1968 deixei o Crato para trabalhar no Banco do Nordeste, em Sertânia (PE). Nunca mais tive notícias de Luiz Cláudio. Mas como meu pai era amigo de dona Benigna e das suas filhas, ele me transmitia, vez por outra, notícias esparsas da família do Dr. Miguel Arraes de Alencar.

     Já aposentado voltei a residir em Crato. E, vez por outra visito dona Almina Arraes Pinheiro, uma senhora admirável em múltiplos aspectos. Ela sempre me recebe com a fidalguia, que caracteriza aquele admirável clã. Outro dia perguntei a dona Almina por Luiz Cláudio e, para minha surpresa, ela me informou que ele era médico e tinha escrito alguns livros. Emprestou-me dois livros da lavra de Luiz Cláudio: “Tempo - o de dentro e o de fora” e “Todo diálogo é possível”.

       Confesso que ao lê-los tive uma agradável surpresa. Escritos com emoção, esses livros de Luiz Cláudio Arraes transmitem o amor e a admiração de um filho por um pai. E isso externado através de lembranças, de frases e de momentos vivenciados entre ele e seu pai, Dr. Miguel. É um desses escritos que faz bem à alma, pois mesmos povoados de sofrimentos, nos levam a acreditar que ainda existe gratidão, solidariedade e idealismo na humanidade...

(*) Artigo escrito em 2009, há dez anos.

Um comentário:

  1. Miguel Arraes está gravado no livro de aço dos Heróis e das Heroínas da Pátria.

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