Corria
o ano de 1232. Naquele penúltimo dia de maio, 30, o Papa Gregório IX
que pouco mais de 4 anos antes canonizara São Francisco, canonizava
Santo Antonio, a quem São Francisco chamava de seu “Bispo”. A
investigação para a canonização durou menos de um ano. O Santo Antonio,
nascido em Lisboa, Portugal, e falecido em Padova, Itália, era aclamado
santo em vida, pelos inúmeros milagres obtidos pelos povos a partir de
sua pregação e de seu testemunho de vida.
Santo Antonio retornara à Casa do Pai no dia 13 de junho de 1231. A
partir daí o santo passou a ser celebrado nesta data. É um dos santos
mais populares do catolicismo, mesmo passados quase 800 anos. E é desta
época, sem fotografias, do século XIII, que, em pleno século XXI, vem-me
uma imagem. Não temos uma máquina do tempo que nos leve de volta ao
passado ou nos transporte ao futuro, mas, a ciência dá sua contribuição.
No início de maio de 2014, estive em Padova. Eu realizava estudos de
pós-doutorado na Universidade de Messina, fundada pelo Papa Paulo III,
por meio de bula de 16 de novembro de 1548. Num dia de folga, tomei um
trem e fui a Padova. Antes, enviei um fax à Cúria Geral dos Frades
Conventuais, reiterando o pedido de uma relíquia do Santo Antonio, cujo
original havia enviado ainda do Brasil e não obtivera resposta. Chegando
lá, fui primeiro à Basílica e experimentei a emoção de ver as relíquias
do Santo. Sua língua incorrupta, os fragmentos do hábito franciscano
com o qual fora sepultado e passar em seu túmulo.
Depois, percorri a parte que é permitida visitação do Sacro Convento.
Fui, então, à Cúria Geral. Lá chegando, fui gentilmente recebido pelo
Superior Geral que já reservara a relíquia. Fiquei muito emocionado. Era
uma fria manhã. Conversamos um pouco e indaguei-lhe onde comprar uma
imagem do Santo para levar ao Brasil. Ele deu-me uma imagem de uns 30cm
de presente e recomendou que aguardasse, pois, era do seu conhecimento
de que estavam fazendo estudos sobre a fisionomia de Santo Antonio a
partir de seu crânio.
Em junho de 2014, de retorno ao Brasil. Vi uma matéria no Fantástico,
da Rede Globo de Televisão, sobre o assunto. Fiquei imensamente
maravilhado com a reconstrução facial que fora feita pelo brasileiro
Cícero Moraes. Para mim, a ciência aproximando o passado do presente. O
santo tinha um rosto diferente. Fiquei interessado em obter uma peça da
reconstrução. Encontrei Cícero numa rede social e fizemos amizade. Em
novembro de 2014, recebi a imagem impressa em 3D. Pensei então: faria um
busto, mandaria pintar. O que fazer? Ano seguinte, por meio de um amigo
que já está no céu, Samyr Figueiredo, encontrei o artista Fabrício
Costa. Ele se propôs a fazer algo, desde que eu lhe desse tempo e
permissão para trabalhar. No dia de Santo Antonio último ele me disse
que estava concluindo o trabalho e nesta semana, enviou-me as fotos.
No dia de Corpus Christi, fui à sua casa, em Fortaleza. Vi a imagem e
vi um busto fiel de Santo Antonio na sua tradicional imagem com o Menino
Jesus. A peça, deste modo, é única no mundo. Compartilhei a alegria com
o amigo-irmão Cícero Moraes, com amigos, com meus pais. Papai
sentenciou: a imagem ficará aqui em casa.
Para mim, foi um encontro com Santo Antonio!
(*) José Luís Lira
é advogado e professor do curso de Direito da Universidade Vale do
Acaraú–UVA, de Sobral (CE). Doutor em Direito e Mestre em Direito
Constitucional pela Universidade Nacional de Lomas de Zamora (Argentina)
e Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Messina (Itália). É
Jornalista profissional. Historiador e memorialista com mais de vinte
livros publicados. Pertence a diversas entidades científicas e culturais
brasileiras.
Bendito seja os encontros com Santo Antonio.
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